terça-feira, 20 de outubro de 2009

ALMA DE BRUXA



“A chuva ainda cai do lado de fora... E eu só consigo imaginar minha horta... Meu pé de manjericão deve estar florido e perfumado, ele adora chuva! Mesmo aqui eu gosto de sentir o perfume da terra molhada e se pudesse iria dançar sob essa chuva de água doce... Ainda não entendo... ainda não sei o que fiz para que me trancafiassem aqui... Me lembro das manhãs que passava cuidando das minhas plantas, colhendo algumas folhas para os chás... – Queria saber porque estou aqui... – Você é uma bruxa? Você faz bruxaria na sua casa? – Faço chás, infusões e perfumes... – Bruxa!!- é o eco das vozes em volta de mim.”
Somos doidas, somos santas, feito aquela do poema “A serenata” da Adélia Prado; pra bruxa e fada não nos falta mais nada... toda mulher tem um punhado das duas. Eu só conheço mulher bruxa. Mulheres que arrancam poesia do cotidiano mesquinho; mulheres que pintam em telas, as flores da vida; mulheres mães de dois ou três de uma só vez; mulheres que aprenderam línguas, fizeram as malas e voaram; outras que engolem sapos por medo de viverem aos trapos; mulheres que venceram males invencíveis; e tem aquelas que cozinham, cozinham e fazem com que “pedaços de jiló virem pimentões recheados”, só pelo prazer de servir; e outras tantas, ora doidas, ora santas... Só não dá pra conviver com bruxa alcoviteira. Pra essa não dê brecha! Só muita reza e ramo de pimenteira curam o veneno da bruxinha mexeriqueira.
Vem do livro Afrodite, de Isabel Allende (essa sagrada doida que faz bruxaria com as palavras), a receita das Maçãs Feiticeiras, uma sobremesa deliciosa, fácil de preparar e cheia de magia... Providencie 4 maçãs grandes vermelhas sem casca, 2 colheres de leite condensado, 2 colherinhas de açúcar, 1 tacinha de xerez, 1 colher de manteiga, 1 colher de suco de limão, casca de limão, cravo, canela, cerejas para enfeitar. Deixe as maçãs de molho em água fria com limão por dez minutos. Unte com manteiga tigelas pirex individuais e salpique um pouco de açúcar em seu interior. Tire as sementes das maçãs e recheie-as com leite condensado, limão, canela e cravo. Umedeça-as com o licor e um pedacinho de manteiga. Tampe cada tigela com filme plástico e cozinhe no microondas por 7 minutos. Retire, deixe esfriar e enfeite com cerejas e uma pitada de canela. Sirva em temperatura ambiente para a manteiga não endurecer. Bon appétit.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

NAMORO NA FEIRA



“Namorar é preciso - com todo mundo, o tempo todo. Esse namoro de que estou falando não tem nenhuma conotação sexual - não necessariamente; é uma coisa leve, de um charme suave, que deveria existir entre todas as pessoas, em todos os momentos do dia, o que faria da vida algo de bem interessante. Namorai-vos uns aos outros deveria ser um lema: o amai-vos a gente deixa para depois, até porque é mais complicado... A feira é um lugar onde esse charme existe o tempo todo...” Eita Danuza, você é mesmo uma leoa pra destrinchar os momentos da vida... A feira é terreno fértil pro flerte, é campo minado de coisas boas, bombado de cores; é concentração de cheiros e sabores; é a vida nua e crua expressa na rua e no linguajar debochado e faceiro dos feirantes... E aí freguesa bonita, vai levar a banana do Gervásio hoje? Vamos aproveitar os melões da Aninha que são doces feito mel! Só caqui que é bom, caqui gostoso e barato é comigo aqui! O amor é cego, o jeito é apalpar, mas apalpa sem machucar senão vai ter que levar! Amém, amém – amém?!- doim pra torrar no capricho pro tira-gosto do patrão! Tem promoção e pra mocinha! Seu marido não é mais aquele? kiwi nele! Olha o pepino, tem do grosso e tem do fino! Ajuda aí madama, meu filho nasceu e o pai não sou eu!... É a marca da feira-livre no grito solto do feirante exaltando seu produto na confusão organizada. Pechinchar vira prazer e a dúzia agora é de treze, ôba! É a vida negociada ali e acolá... dá até pra “chorar” na barraca do Ramalho onde tudo já é barato pra caramba! Tudo isso por puro prazer, “e pobre dos que são imunes a isso, não sabem o que perdem.” A história da humanidade está abarrotada de referências às feiras. Não se sabe ao certo onde e quando apareceu a primeira delas, mas registros nos permitem afirmar que em 500 a.C. já haviam feiras no Oriente Médio. Os primeiros registros aparecem com referências ao comércio, às festividades religiosas e aos dias santos. E é fato que a religião andou de “namorico” com o comércio pois a palavra latina feria, que significa dia santo, feriado, é a palavra que deu origem à portuguesa feira. E para honrar a origem do nome, aqui vai a receita da salada portuguesa pra ser comida segunda-feira, terça-feira, quarta-feira... Corte em rodelas, 1 cebola roxa, 1 tomate-caqui, 1 pimentão vermelho e tempere tudo com um punhadinho de sal-grosso, 1/2 colher de sopa de vinagre de vinho tinto, 1 colher de sopa rasa de azeite de oliva (escolha um de baixa acidez) e misture até parar de ouvir o tilitar dos cristais de sal na saladeira. Deixe-se seduzir pela simplicidade e o frescor dessa saladinha... Bon appétit!

domingo, 4 de outubro de 2009

"OLHA QUE COISA MAIS LINDA..."



Ninguém precisa ser apaixonado por esportes pra sentir a energia boa que emana de cada um deles. Hoje essa mesma energia multiplicada por milhões de corações está no ar, pulsando... A vitória é verde, agora é fato, é verdade; ela é doce, doce e suave; ela refrigera a alma e tem cheiro de mato molhado... Queria achar um jeito de contribuir com essa grande festa e exercer minha brasilidade. E só podia ser com comida, claro! Foi no lindo livro da Morena Leite, Brasil Ritmos e Receitas, que encontrei a resposta: uma sobremesa verdinha, doce, suave e refrescante como a vitória da Cidade Maravilhosa sobre as altivas concorrentes; um creme com superfície dourada feito medalha de ouro, o crème brûlée de capim-santo. O nosso capim-santo também conhecido como capim-cidreira ou capim-limão é uma planta perene, uma moita de lindas folhas verdes, finas e longas que quando friccionadas entre os dedos exala um delicioso perfume doce e cítrico. Tem inúmeras propriedades medicinais, é um santo capim. Tem um cheiro inesquecível de infância, de quintal de casa, de gente simples que sabe o valor do mato.
Até 2016 vão ser sete anos recheados de esperança e de entusiasmo, coisas que alimentam a alma... Enquanto isso, adoce os momentos com essa sobremesa que é a... "coisa mais linda, mais cheia de graça...” e deliciosa!
Providencie 500gr de folhas de capim-santo, 1 ½ litro de creme de leite fresco, 100gr de açúcar mascavo, 120gr de açúcar, 100ml de leite, 10 gemas. Bata o capim com o leite no liquidificador e passe pela peneira. Acrescente o creme de leite e leve ao fogo. Bata as gemas com o açúcar até obter um creme espesso e claro. Assim que o creme de capim-santo estiver frio, junte a mistura de gemas, distribua em 12 cumbuquinhas e cubra com papel-alumínio. Asse em banho-maria por aproximadamente 15 minutos a 180°. Retire, deixe esfriar e leve à geladeira para firmar. Na hora de servir, polvilhe com açúcar mascavo e queime com maçarico. Esse doce pode ser servido depois de um bom churrasco, uma peixada ou até uma feijoada carioca... Bon appétit!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"COMIDA PUBIANA"




Você está crente que vai ler uma crônica sacana, confesse! Sorry. Também caí nessa quando deslizava o mouse sobre uma listinha de títulos curiosos do Bruno Agostini. Foi um misto de “que isso” com “num é possível” que me fez clicar pra ler o artigo inteirinho e finalmente descobrir que comida pubiana para o Bruno é só aquela comidinha simpática servida na penumbra aconchegante de um public house, pub para os mais íntimos. Uma espécie de estabelecimento licenciado para servir bebidas alcoólicas, a princípio em países de influência britânica. Cá pra nós, um bar com passaporte inglês, um boteco classudo se preferir, que oferece uma variedade enorme de cervejas, alguns vinhos, bebidas destiladas e refrigerantes. A característica marcante de um pub é uma clientela regular (les habitués se fosse num boteco gaulês) que escolhe o “seu” pub em função da proximidade de casa ou do local de trabalho. Gente que bebe unida, você já sabe, embebeda unida, come unida, passa mal unida... A propósito, no Reino Unido os pubs abrem diariamente e fecham entre 22 horas e meia noite. “O horário de fechar é reconhecido por toques de sino. O primeiro toque significa que, se você pretende beber outro pint de cerveja, este deve ser pedido neste momento. Quando o sino tocar duas vezes significa que você deve rapidamente terminar de beber e deixar o local.” Dá pra acreditar? É coisa de inglês mesmo! Ok, sininhos e cervejinhas à parte, voltemos pra nossa comidinha pubiana servida nos pubs tropicais: peixinho empanado acompanhado de molho picante, mandioca frita crocante, caldinho de feijão puxado na pimenta, asinha de frango frita (claro!), anéis de cebolas você já sabe como, escondidinho de carne-seca com banana-da-terra fri-tin-ha, pasteizinhos de carne moída, queijo, palmito, sem falar na costelinha de porco com molho agri-doce e por aí vai, tudo muito, digamos, untado mais que o necessário... É comida perversa. É gostosa de doer. É comida pra comer de vez em quando... Essa receitinha dá até pra ser compartilhada com seu cardiologista. Abre coração: retire a gordura dos coraçõezinhos de frango e deixe-os marinados por doze horas em vinho branco. Escorra, tempere a gosto e cozinhe com salsão e alho. Sirva com manteiga derretida e fatias de pão. Esperando que seu fígado cumpra a contento o papel dele, desejo a você um bon appétit!