segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

OUTRO RECOMEÇO

30 de dezembro. Nono dia depois do “fim”. Talvez você seja um dos poucos sobreviventes ao fatídico 21. Então lá vai: “Penúltimo dia do ano: dá a impressão de que vai haver uma grande mudança nas próximas horas, mas é apenas a vida seguindo seu curso e realizando a mágica de criar expectativas. Não é preciso ter pressa, mas aconselha-se não perder tempo... A pressa serve para concluir; o tempo, para desenvolver. A pressa atropela, o tempo desliza. A pressa é cega, o tempo enxerga longe. A pressa esconde, o tempo mostra. A pressa esfria, o tempo aquece...” As palavras são da Martha Medeiros e a ideia original é de José Saramago: “Não ter pressa não é incompatível com não perder tempo.” E a minha intenção é dizer que temos que fazer o que sempre fizemos, o tempo todo, todo o tempo: recomeçar mais uma vez. E já não está de bom tamanho? O grande final não me assusta; conviver com as muidezas, sim. Em ambos os casos, o ingrediente principal é a coragem. E quer saber, coragem me lembra o povo forte da Bretanha francesa e a especialidade dessa região bonita no extremo oeste da França: o Far Breton, uma espécie de bolo macio pra comer como sobremesa ou na hora do lanche (ou as três da madruga no meio da insônia). Um dos bolos mais saborosos que já provei. Não vejo melhor maneira de recomeçar, seja lá qual for o recomeço. Vou te dar minha receita preferida, como presente de fim de ano. Anote: 250g de ameixas secas sem caroço, 4 colheres de sopa de rum, 5 de farinha de trigo (bem cheias), 3 de açúcar, ½ colher de café de sal, 3 ovos, ½ litro de leite quente, 30g de manteiga (para untar). Coloque as ameixas para macerar no rum algumas horas antes de começar a preparar o far. Preaqueça o forno a 200 graus. Na tigela da batedeira misture a farinha, o sal, o açúcar e os ovos. Junte o leite aquecido e bata tudo até obter uma massa lisa e fluida. Desligue. Junte as ameixas (com o rum da maceração) e misture levemente. Unte um refratário (bonito!) e despeje a massa. Coloque no forno por aproximadamente uma hora (reduza a temperatura depois de 30 minutos). Sirva o far ainda morno no próprio refratário. Recomeço mais reconfortante que esse, não há. Feliz 2013 (estou apostando nisso!) e bon appétit sempre!





segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

E FOI DADA A LARGADA

É dezembro de novo. E foi dada a largada para as festas de fim de ano: confraternizações entre colegas de trabalho; despedida temporária entre professores e alunos; Natal em família e enfim o tão esperado Réveillon entre amigos, namorados, amantes, ficantes ou candidatos a qualquer outro modelito de relacionamento. E dá-lhe amigo-secreto, com lembrancinhas, beijos, abraços, docinhos! Sem mencionar as formaturas e os casamentos aos quais você está intimado... O que essas festas têm em comum? Co-mi-da. Você vai comer, por bem ou por mal, vai ter que provar um tiquinho de cada prato “especial” (ou vai fazer tamanha desfeita?). Prepare-se, a oferta é imensa! Os supermercados já estão abarrotados; os carrinhos lotados; as pessoas, alegres, já sabem que vão se empanturrar de coisas gostosas e se acabar nas bebidas borbulhantes. Já estão todos salivando. É o fim de mais um ano. Demos conta. Escapamos. Ainda estamos vivos. Viva! Aproveite as horas de preparação, aquelas que antecedem a grande comemoração, já que o melhor da festa é esperar por ela, e o pior é ter que comer as sobras, durante dias, depois da comilança desmedida. Pode parecer estranho, mas é a época em que menos tenho apetite e a preguiça de cozinhar dá as caras. Os exageros matam minha vontade e pensar no desperdício enfraquece meus ânimos. Não gosto do peru, de pernas pro ar, pagando o maior mico no centro da mesa natalina; sobre minha mesa festiva nunca teve leitão, assado inteiro, com maçã na boca; cruzes, nunquinha!; frutos do mar só se as águas salgadas estiverem a poucos quilômetros da minha cozinha... Nestes derradeiros dias de 2012, vou caprichar na simplicidade e nos ingredientes. Quem estiver comigo vai comer castanhas, frutas secas, frutas nevadas (não tem como não fazer todo ano, é tão lindo!); bruschettas de queijo brie com damascos e hortelã; compota de cebola e laranja sobre fatias de pão italiano e pão sírio; massa bavette ao sugo com almôndegas de peru e manjericão fresco; arroz para carreteiro com linguiça suína picante e cebola pérola caramelizada com azeite e açúcar mascavo; torta rústica de maçãs, mousse de chocolate meio-amargo; pão de ló de laranja da minha mãe pra coroar o café com Cointreau. Depois é só agradecer as bênçãos. Uma delas é poder comer alegremente e digerir naturalmente, mas são tantas, tantas... Repare. Feliz Natal! Bon appétit!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

À ESPERA DA LINGUIÇA DO JACÓ

A história é meio confusa, mas vou tentar organizar os fatos. Vamos ver no que vai dar. Tenho uma aluna de francês que é uma graça de pessoa: mignon no tamanho, gigante na gentileza; conversa pouco, mas, no meio do papo, sai com frases cheias de efeitos; ela é natural. Acho mesmo é que ela pensa em voz alta. Outro dia, em sala de aula, falávamos das comidas que fazem parte do cotidiano dos franceses, mas que têm origens diversas. Tudo começou com a origem do couscous: uma especialidade dos países muçulmanos da África do Norte, do Maghreb, à base de sêmola de trigo, caldo de legumes (tomates, abobrinhas, cenouras...) e grão-de-bico, servida com carneiro, ou frango, ou brochettes de cordeiro, ou ainda saucisses merguez. Expliquei que as merguez são saborosas linguiças picantes feitas com carne bovina e muito tempero. Acrescentei mais algumas curiosidades e disse que eram minhas favoritas. Foi então que a coisa toda aconteceu. Minha aluna, que já me presenteou com peças fabulosas de filé de boi, um baita carneiro, quis me agradar mais uma vez e soltou: “Então você vai adorar a linguiça do Jacó!”. Gargalhadas em coro, observações dúbias... E lá se foi um pedaço da aula por conta de uma linguiça. Quem se importa com a tal merguez se a linguiça do Jacó é tão boa quanto? Cara amiga, dessa você não escapa, se vira pra nos oferecer a linguiça do Jacó, estamos esperando com água na boca; prometo fazer um acompanhamento à altura e dividir com todo mundo; sou gulosa, mas não sou mesquinha, sei compartilhar o que é bom. Enquanto a linguiça do Jacó não vem fazer as vezes da deliciosa linguiça dos muçulmanos, vamos caprichar no couscous. Os melhores couscous são sempre cozidos com caldo caseiro de legumes; acrescidos de uma boa colherada de manteiga para “soltar” os grãos de trigo; levam muita cebola, grão-de-bico, passas brancas sem sementes, lascas de amêndoas e um tiquinho de água de flor de laranjeira, na hora de servir, para perfumar delicadamente o prato. Faça um frango ao molho pra acompanhar (eu coloco sempre um pouco de canela em pó no final do cozimento) e sirva assim: Coloque a “duna” de couscous em um belo recipiente de cerâmica, no centro da mesa e uma porção de frango ao molho, em uma tigelinha, ao lado de cada conviva. Cada um se serve à vontade. Isso é bom demais! Bon appétit.

dezembro de 2012