segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O TEMPERO DA VIDA

Ontem vi um filme lindo que me fez entrar em estado de graça. Estou nele até agora... O tempero da vida é um filme inspirador, generoso, carregado de emoções diversas. Delicioso e divinamente humano. Uma refeição completa para o corpo e para a alma. Uma metáfora entre aperitivo, prato principal e sobremesa e nossa infância, nossa vida adulta e nossa velhice, nos permite refletir com sabedoria e delicadeza divinas sobre o breve roteiro de nossas vidas... É a história de um garoto de origem grega que vive com seus pais em Istambul, na Turquia. Fanis passa boa parte do seu tempo com o avô, proprietário de um pequeno comércio de especiarias e que tem sua própria filosofia culinária. O avô do menino ensina-lhe os segredos dos temperos e fala do laço invisível entre a astronomia e a gastronomia: ‘Pimenta aquece e queima, assim é o sol’. Ele aprende que as mulheres são doces e amargas como a canela... E que tanto a comida como a vida precisam de um pouco de sal ou perderão em sabor e encantamento. Avô e neto separam-se, mas Fanis leva na memória cada ensinamento de seu mentor e a cozinha da casa dos pais transforma-se em seu refúgio sagrado. O rapaz tornou-se um professor de astrofísica e aos quarenta anos depara-se com um momento crucial em sua vida... Vale muito a pena assistir para rir, chorar, pensar, salivar... Minhas almôndegas, por exemplo, não serão mais as mesmas. Elas terão outro gosto, terão mais gosto, mais alma e outras intenções... Aprendi a fazer almôndegas com minha mãe, talvez por isso nunca quis experimentar outra receita. A base para as almôndegas tradicionais é sempre a mesma: 500gr de carne bovina moída, 1 cebola bem picadinha (eu uso a roxa), 2 dentes de alho amassados, 1 pão francês amanhecido sem casca (umedecido e depois espremido) ou 3 colheres de sopa de farinha de rosca, 1 ou 2 ovos, sal, pimenta moída na hora, salsinha e cebolinha picadas. Junte todos os ingredientes em uma tigela grande e amasse bem com as mãos. Faça bolinhas e frite até dourar dos dois lados. Até aqui, nada de novo. Também já fiz almôndegas temperadas com uma colherzinha de cominho. Mas aqui mora o perigo e eu nem desconfiava. O cominho torna as pessoas introspectivas e fechadas. Melhor então trocá-lo pela intrigante canela, que provocará o efeito contrário, se quisermos que as pessoas soltem as amarras da alma. Isso é viver. Bon appétit.

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