terça-feira, 23 de março de 2010

PERCEPÇÃO APURADA




Foi assim, num vapt-vupt que li “Meditando na cozinha” da Sonia Hirsch. Era pra ser meditação, não deu... Tinha era fome de letra, vontade de palavra e fui engolindo tudinho, feito papa de arroz quentinha... A Sonia junta- em panela de pedra, claro!- água, cebola (que é por onde se começa a fazer uma comida boa), alho e sal; paciência, sutileza, cenoura e cereal; folhas mil e até gengibre se preciso for; e vai mexendo, misturando, o fogo mudando tudo; abusa do alho-poró, manda ver no inhame que é gostoso e ainda cura um bocado de males; colore e engrossa o caldo com a abóbora doce e macia, cobre tudo com cebolinha verde picada e pronto. Cozinha rabanetes inteirinhos nas sopas até ficarem cor-de-rosa, pro balé doce-picante ser perfeito na boca do freguês... Um prazer supremo! Põe berinjelas no forno pra assar até a casquinha fazer “puf” e ensina a preparar o babaganuche, essa receita tradicional no oriente médio, que é mesmo de babar!! Fala dos cinco sabores, o doce, o salgado, o ácido e o picante, com tamanha delicadeza que até o amargo faz salivar, antecipando o prazer que não tardará... Trata os alimentos com tanta reverência e paixão que ler suas receitas mais parece uma reza, mas no lugar do terço, é a faca a protagonista: abre, corta, descasca, pica miudinho e fica pronta a comida, ora prece ora ação... E ainda prepara uma marinada pra banhar o peixe que vai servir para os amigos: 5 colheres (sopa) de shoyo, 5 de óleo de gergelim, 5 de água, 1 colher (sopa) de sumo de gengibre ralado e espremido; e o meio quilo de filés de linguado, lavados e escorridos, ficam aí, mergulhados por meia hora, no mesmo pirex que vai ao fogo, tampado, sobre uma chapa. Depois de ferver não mais que 10 minutinhos, é só servir e aproveitar. Dos deuses!
Ai Sonia, como é que você consegue atrelar sentidos, emoções e comidas com tanto zelo, simplicidade e beleza? Essa sua “percepção apurada da vida e da alimentação” nos deixa pra lá de felizes, perplexos... Um sentimento de gratidão brota assim, do fundo do coração! E a vida fica temperada. Dá gosto saborear cada momento. Cozinhar vira arte, religião (no melhor sentido da palavra), meditação, descoberta, autoconhecimento, transformação, alegria...
E que ninguém venha me dizer que hoje não tem receita por aqui...
Bon appétit!

quinta-feira, 4 de março de 2010

"CHUPA, MEU AMOR!"



“Há vinte anos, Luis Cláudio Barros decidiu reforçar o orçamento, vendendo nas praias do Rio de Janeiro, uma espécie de sorvete caseiro embalado em um saquinho plástico, sem palito, batizado de Sucolé...” (Veja, 3/março/2010)
Hoje, Claudinho do Sucolé fatura doze mil reais por fim de semana e tem uma equipe de dezesseis empregados. É mole?! Claudinho diz que a receita original é muito conhecida no subúrbio como sacolé e é feita com polpa de fruta batida com água. Ele substituiu a água por leite, a polpa por fruta natural, o “a” por “u” e pronto. Nasceu o Sucolé. Sucesso total! Os dez vendedores que contratou (os outros seis trabalham na fábrica) passam o dia na praia, certamente cantando e fazendo versos para cativar a clientela, como fazia Claudinho no início da empreitada, trabalhando sozinho... “Chupa, chupa, chupa! Chupa, meu amor! O sucolé é um terror.” A alegria e o bom-humor parecem ser a estratégia de venda de Claudinho que, com orgulho, declara ter vários artistas famosos como clientes fiéis: Luana Piovani chupa, Jonas Bloch chupa, Preta Gil chupa e sabe a Cleo Pires? Segundo ele, ela também chupa. Pois é, enquanto a seleta clientela se deleita com os prazeres das praias cariocas, nosso empresário está ali, firme e cheio de energia incentivando a saborosa chupação... Deu vontade de chupar o sucolé do Claudinho, mas estou tão longe da Cidade Maravilhosa... Aproveitando a inspiração gelada do Sucolé , que tal uma refrescante limonada suíça?
Limão é gostoso e bom pra tudo; é alimento, remédio e até produto de limpeza... Já dizia minha avó. Quem sou eu pra duvidar? Saboreie essa delícia cítrica facílima de fazer! Providencie 3 limões pequenos, com casca, lavados e cortados em quatro partes (sem as sementes), uma forminha de cubos de gelo, água ou soda limonada (3 copos aproximadamente) e açúcar a gosto. Bata o limão com a água no liquidificador e coe sobre o gelo. Bata novamente com os cubos e o açúcar até obter aspecto de neve. Se preferir, troque o açúcar por colheradas de leite condensado (aff, fica divino!) e para um sabor mais exótico, adicione uma colher bem cheia se leite-de-côco, esta é a limonada baiana. Todas as versões devem ser servidas imediatamente após o preparo para evitar o gostinho amargo provocado pela casca da fruta.
Bon appétit!


terça-feira, 2 de março de 2010

ADOÇANDO MAZELAS AMOROSAS


“Homens que traem as esposas e namoradas tendem a ter QI mais baixo e ser menos inteligentes, segundo um estudo publicado na revista especializada Social Psychology Quarterly. De acordo com o autor do estudo, o especialista em psicologia evolutiva, Satoshi Kanazawa, ‘homens inteligentes estão mais propensos a valorizar a exclusividade sexual do que homens menos inteligentes’.” Kanazawa cruzou dados de pesquisas e chegou à bendita (e até engraçada) conclusão que os homens que acreditam na importância da fidelidade sexual para uma relação são simplesmente mais evoluídos e mais inteligentes que os infiéis. Eu sabia que existia uma explicação no mínimo razoável para o tão antigo comportamento polígamo dos nossos adoráveis machos. Tadinhos, eles são só burrinhos. Fiquei cá com meus botões, pensando nas inúmeras mancadas dos nossos homens queridos que, na vã tentativa de dissimular uma puladinha de cerca, acabam nos entregando de mão-beijada (a essa altura, o que não foi beijado?), as provas do “crime”. Elas podem ser tantas- não as puladas de cerca, as provas- porém a mais irrefutável delas é a displicente cueca do avesso... E como para mim um assunto sempre puxa outro, adivinhe o que me passou pela cabeça? Tem a ver com o vestuário masculino, mas é de comer, é doce, crocante e está longe de ser cruel como o fato de se deparar com o nosso homem de volta pra casa com a cueca do avesso... Pra encerrar o assunto e adoçar as mazelas da vida amorosa, aqui vai uma deliciosa receita tradicional das colônias italianas, o Grostoli, popularmente conhecido como Cueca-virada... Este doce frito fica muito mais saudável na versão assada e você vai poder detonar uma dezena deles sem a menor culpa. Aproveite! Providencie ½ kg de farinha de trigo peneirada, 1 xícara de chá de açúcar, 1 colher de sopa cheia de margarina, 50 gr de fermento fresco, 100 ml de leite morno, 3 ovos, 1 pitada de sal. Dissolva o fermento no leite. Reserve. À parte, misture a farinha, o açúcar, os ovos, a margarina, o sal e por último, o leite com o fermento dissolvido. Cubra com um filme plástico e deixe crescer até dobrar de volume. Abra a massa, corte-a em retângulos. Faça um pequeno corte no centro, introduza uma das extremidades no corte central e, no lado contrário, a outra extremidade. Deixe crescer novamente por 10 minutos aproximadamente e frite em óleo bem quente ou asse a 180 graus. Deixe esfriar e pulverize com uma farofinha feita de açúcar refinado e canela em pó. Bon appétit!