quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A MALDIÇÃO DO PANETONE



Muita gente afirma, e a frase já virou ditado popular, que o melhor da festa é esperar por ela. Pode ser, pode ser, mas para mim o melhor da festa ainda são as sobras. Não estou pensando nas sobras de comida, pelo menos não só nelas. Refiro-me a tudo o que resta de um encontro festivo; aos pedaços da comemoração gravados na memória; às sobras de conversa fiada, como dizia minha mãe; ao que insiste em ficar suspenso no ar...
Daqui a pouco já é fevereiro e o torpor provocado pela alegria das festas de fim de ano está sendo consumido no caminhar do mês de janeiro... A essa altura aquele enorme peru natalino já foi requentado, recortado, refrito, recozido, reassado, rebatizado; foi desfiado, despedaçado, desossado... Peru desgraçado que lhe custou empurrar goela abaixo! As sobras de comida cansam. Frutas secas, castanhas e nozes também enjoam; bacalhau, camarões e outros bichos do mar estão fazendo você ficar mareado... Agora a gente quer é arroz branquinho, feijão cozido no dia, bife acebolado, um ovinho frito com gema mole pra “sujar” o arroz e salada de tomate, isso mesmo: salada só com tomates, temperados com sal, pimenta-do-reino e uma merreca de azeite. De sobremesa? Banana madura frita coberta com açúcar e um quase nada de canela. Porém, se ainda lhe resta um panetone, acabe logo com ele! Dizem que guardar pão por muito tempo é atraso de vida, melhor não arriscar. Eis um jeitinho muito simples e gostoso de neutralizar o que eu chamo de a maldição do panetone (aprendi a fazer com minha nora): cubra o fundo e as laterais de uma travessa com fatias finas de panetone e regue com um pouco de leite morno. Prepare uma mousse caseira de maracujá (aquela que todo mundo conhece) e jogue por cima. Coloque migalhas do panetone misturadas ao creme e leve à geladeira até endurecer. O maldito panetone e a ordinária mousse ficam incríveis juntos!
Está na hora de começar a pensar nas festas vindouras (é festa que não acaba mais), esperar por elas, se preparar para elas e depois aproveitar o que sobrar delas pelo menos pra brincar de faz-de-conta que esse mundo é uma eterna festa e faire semblant que somos pra lá de felizes!
Bon appétit.

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