"Laranja na mesa. Bendita a árvore que te pariu."- Amor à terra/ C.L.- Pois é. Costumo rechear alguns de meus escritos com palavras boas de Clarice Lispector. Se sou leitora de Clarice? Acho que não. Sou ‘escutadora’ de Clarice, pois tenho um amigo que sempre a lê para mim. Ele, sim, é leitor de Clarice e a lê com entusiasmo, sem egoísmo, em voz alta e clara, com ternura enquanto eu, eu preguiço. Quer maior prova de amizade?
Meu amigo é muito mais jovem que eu. E sempre o será. Isso é bom ou é cruel? Repare, a vida é cruel. Mas Clarice sabia achar também beleza e encantamento na crueldade (vou tentar fazer o mesmo)... Admirava o verde das florestas, o amarelo dos leões, as manchas das borboletas. Ela também bordava, tomava café com coca-cola para manter-se alerta, fumava quando não podia dormir, fumava quando podia, fumava... Prestava atenção no que lhe contavam os taxistas e outras pessoas simples e sabidas à sua volta. Clarice acreditava em Deus. Isso é bom. Percebia com clareza o que chamamos de vida. Tinha os cinco sentidos, e outros sentidos, tão apurados que via o invisível, tocava o nada, ouvia o silêncio, sentia o cheiro da morte que sempre ronda o que está vivo. Clarice degustava cada momento, fossem eles amargos ou doces. Nada lhe escapava. Quase nada lhe escapou... Quisera todos tivéssemos um leitor de Clarice por perto. Tenho sorte. E meu amigo ainda cozinha para mim. Faz um arroz tão bom que, de acompanhamento, vira prato principal. Será que Clarice gostava de arroz? Vou procurar saber. Por Deus, alguém desgosta de arroz? Eu minguaria sem. O arroz une, agrega, junta, aproxima. O arroz é convivial. É deliciosamente discreto... Incremente-o se quiser, como quiser e o quanto desejar, mas sua essência continuará humilde, serena e pacífica. Isso também é bom. A essência não pode ser mudada... Desfrute de todos os tipos disponíveis no mercado, do integral ao exótico arroz negro; do arroz vermelho que se come antes com os olhos; do arbório e do carnaroli, próprios para a cozinha italiana; do basmati, de aroma e sabor intensos, que nos remete à culinária indiana; do arroz especial para o ‘carreteiro’ de domingo em família e do velho e bom arroz branquinho de todo dia... Benditos sejam os arrozes que aceitam ‘maquilagem e perfume’ diferentes sem macular sua alma! Capriche e seja feliz! Bon appétit.
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Sem intenção acabei de conhecer seu blog. Simplesmente maravilhoso!!! de cunho gastronômico, não se prende a receitas e preparos, mas sim a conteúdo e idéias que vão além das panelas.
ResponderExcluirMuito interessante.
Maravilhoso.
Já estou seguindo.
Abraço,
Guilherme
... E com a intenção de um dia poder cozinhar ao lado de um chef com tamanha sensibilidade para o simples (pois também já fucei seu blog e salivei com os figos da primeira página), agradeço as palavras doces que me encheram de prazer...
ResponderExcluirUm abraço
Elma