quarta-feira, 19 de maio de 2010

"VOTE NO BRIGADEIRO!"



Vou contar uma historinha. A de um doce cuja identidade permanece confusa. Informações sobre quando e onde ele surgiu são imprecisas. Procurar o autor da guloseima seria amargar, em vão, os anos que me restam. Então aceitemos de bom grado, uma autoria coletiva e pronto. Afinal, a combinação de seus ingredientes está muito mais ligada à intuição, à busca de prazer e ao deleite do palato, que qualquer outra coisa... Leite condensado (a história dessa delícia fica pra uma outra ocasião), chocolate em pó (o popular “do padre” que também não dá pra estender aqui) e manteiga; o fogo transformando tudo e voilà: nasceu o negrinho, lá no sul do país, afirmam os gaúchos... 2010 é ano de eleição e em ano de eleição, você sabe, “a voz do povo é a voz de Deus” (pelo menos era pra ser) e é essa mesma voz que espalha por aí que o negrinho virou brigadeiro. Vamos por partes senão me perco. Eduardo Gomes disputou com Eurico Gaspar Dutra, a presidência da República em 1945. O então Brigadeiro da Aeronáutica fora derrotado, mas contribuíra com um capítulo importante da história brasileira. Em 1950, nosso Brigadeiro voltou a disputar a presidência e aqui começa a parte boa dessa história: mulheres do Rio de Janeiro, engajadíssimas na campanha eleitoral de Eduardo Gomes, preparavam negrinhos em casa e os vendiam nas ruas da capital para engordar a campanha do cobiçado candidato que tanto fascinava as moçoilas cariocas. “Vote no Brigadeiro que é bonito e é solteiro”. Mas nem o bordão eleitoral, nem os encantos do nosso homem, nem mesmo a doçura das bolinhas de chocolate que acabam levando o nome da patente do candidato, lhe renderam os votos necessários e Getúlio Vargas, que nunca foi padrão de beleza, abocanhou o cargo.
Há uma outra versão da identidade do docinho, não menos interessante, mas indelicada e nada romântica, já que está ligada às partes íntimas do nosso compatriota. Melhor deixar pra lá pra não ser maldosa até porque, em se tratando de política, estou sempre pisando em ovos.
O preparo do brigadeiro, embora simples, tem alguns truques: “Pode-se deixar a massa cozinhar menos ou mais tempo”, ensina o pâtissier Flavio Federico, de São Paulo. “No primeiro caso, haverá um docinho de textura macia; no outro, ele ficará meio puxa-puxa e grudará nos dentes”. E mais: “Caso seja preparado em fogo muito alto e houver um movimento não uniforme da espátula ou colher na panela, o açúcar do leite condensado caramelizará e formará pequenas bolinhas crocantes na massa.”, conclui.
Bon appétit!

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