A comidinha caseira foi rebatizada. Agora a comida feita por nossas mães, avós, tias ganhou o nome de comfort food. Pois é, a comida reconfortante, afetiva é aquela que tem o poder de despertar lembranças gustativas, “ligadas à infância ou a qualquer outro período especialmente feliz da história de cada um”. Chefs de grandes restaurantes apostam no sucesso cozinhando antigas receitas de família, aquelas pra matar a saudade de casa, sabe? É a comida que acalenta estômago e alma ao mesmo tempo. É a conhecida panqueca de carne moída, o arroz de forno feito com sobrinhas do almoço e enriquecido com cenouras cozidas picadas e ervilhas, o ovinho caipira frito com gema ao gosto do freguês; quem não se lembra do purê de batatas cremoso e coberto com carne moída no molho de tomate que quase dissolvia na boca? O frango ao molho de açafrão? O picadinho de chuchu, verdíssimo misturado ao cheiro verde reluzindo no fundo da panela de ferro? A banana frita coberta com açúcar e canela de sobremesa? Era de comer até dar preguiça... A comida afetiva é mais que uma culinária farta e sem grandes complicações no preparo, é uma comida envolvente, recheada de emoção, de boas recordações, de carinho, que abraça tanto quem come quanto quem cozinha.
Fui atrás de uma cadernetinha de receitas selecionadas e escritas por minha mãe. O livreto está se desmanchando, pudera, é de 1971. Nele só tem comida afetiva: bolo de cenoura, biscoitos de polvilho, sequilhos de nata, pão-de-ló de laranja, bolo espera marido, enroladinhos de salsicha, pizza de sardinhas, torta pingo de amor, omelete bossa nova, musse de limão, pudim de leite, mangulão... Colado na parte interna da capa da caderneta, um recorte de revista dizia: “Se você comprou carne dura, nada de servi-la assim mesmo e ficar resmungando do açougueiro. Para tudo se dá um jeitinho. Se percebeu isso na hora do tempêro, pingue junto uma gotinha de leite de mamão. Mas, se acabou de colocá-la na panela, o remédio é misturar uma colher (de chá) de fermento para bôlo. Porém, se ela já estiver cozida e nada de amaciar, jogue umas gotinhas de uísque. Ninguém vai ficar bêbado e, em alguns minutos, a carne estará macia. Não é a carne, mas sim a galinha que está dura? É muito fácil: coloque um objeto de prata na panela e deixe cozinhar junto.”
As coisas mudaram... Tempero e bolo perderam o “chapeuzinho”. Muita coisa se perdeu no tempo. Só zelo de mãe nunca é em vão.
Bon appétit.
Fui atrás de uma cadernetinha de receitas selecionadas e escritas por minha mãe. O livreto está se desmanchando, pudera, é de 1971. Nele só tem comida afetiva: bolo de cenoura, biscoitos de polvilho, sequilhos de nata, pão-de-ló de laranja, bolo espera marido, enroladinhos de salsicha, pizza de sardinhas, torta pingo de amor, omelete bossa nova, musse de limão, pudim de leite, mangulão... Colado na parte interna da capa da caderneta, um recorte de revista dizia: “Se você comprou carne dura, nada de servi-la assim mesmo e ficar resmungando do açougueiro. Para tudo se dá um jeitinho. Se percebeu isso na hora do tempêro, pingue junto uma gotinha de leite de mamão. Mas, se acabou de colocá-la na panela, o remédio é misturar uma colher (de chá) de fermento para bôlo. Porém, se ela já estiver cozida e nada de amaciar, jogue umas gotinhas de uísque. Ninguém vai ficar bêbado e, em alguns minutos, a carne estará macia. Não é a carne, mas sim a galinha que está dura? É muito fácil: coloque um objeto de prata na panela e deixe cozinhar junto.”
As coisas mudaram... Tempero e bolo perderam o “chapeuzinho”. Muita coisa se perdeu no tempo. Só zelo de mãe nunca é em vão.
Bon appétit.