Não é preciso ser um expert em inglês para perceber que brunch vem da junção de duas palavras inglesas: breakfast (café da manhã) e lunch (almoço). O tal brunch não passa de um almocinho antes da hora ou um grande café da manhã tardio. Refeição mais complacente- sobretudo com os notívagos- não há. Tem coisa melhor do que acordar tarde e desfrutar de uma refeição descomplicada, farta, fora dos padrões, fora da convenção das horas? É quase um atrevimento, uma rebeldia gastronômica. É uma contravenção culinária. Por isso é tão atraente. O brunch é sem dúvida uma tentação (à qual nunca tive a menor intenção de resistir). Esse jeito de comer, que tem se tornado uma mania mundial, deve ter surgido (as origens do brunch são vagas) no final do século dezenove na Grã-Bretanha e início de século vinte nos Estados-Unidos, com o brunch de domingo, que também tinha cara de piquenique quando realizado ao ar livre. Mais tarde, esse jeito informal de comer foi adotado por hotéis e restaurantes espalhados pelos quatro cantos do mundo... Aqui no Brasil, o café colonial, típico do sul do país, é um belo exemplo de brunch nacional, um colosso de refeição com uma infinidade de pães, bolos, broas, biscoitos, geleias, salada de frutas frescas, quiches, embutidos e queijos; tudo regado a chás diversos, sucos, café preto, leite cremoso, chocolate; e tudo coroado com mel, cremes, pudins, tortinhas doces... E outras delícias atadas ao quinto pecado original. Pecado mesmo seria abster-se de tamanho deleite, do sagrado prazer do gosto. A ordem é beliscar à vontade!
Outro dia fui ao aeroporto, surpreender um amigo que partia de Cuiabá; queria dar-lhe um abraço e dizer o quanto me faz bem revê-lo. Cheguei atrasada ou ele adiantou-se, sei lá. Pra compensar meu desassossego e não ‘perder a viagem’, comprei um livro sobre comida: Brunches para todos os gostos, uma gostosura de livro, recheado de receitas de comidinhas e bebidinhas boas. Essa Vitamina de baunilha vai abrilhantar seu próximo brunche com amigos. Para 2 porções, use 2 xícaras (chá) de iogurte de baunilha, ¾ de xícara (chá) de leite gelado e 60gr de chocolate ao leite ralado. Coloque o iogurte no liquidificador com o leite e bata até espumar. Derrame a mistura em uma jarra e misture o chocolate ralado. Sirva em seguida. Eis a versão líquida do sorvete de flocos, sem miséria de chocolate.
Bon appétit!
terça-feira, 30 de agosto de 2011
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
FOME DE LÍQUIDO
Há dias não escrevo sobre comida. É que fome não tenho tido. Há dias não escrevo sobre nada. Sob um céu turquesa, em pleno inverno tropical, seco de dar dó, beirando os 40 graus, os miolos amolecem feito couve-flor na fervura... Melhor seria falar só do que se bebe. Período difícil para quem vive por essas bandas e outras tantas. As narinas secam, os olhos ardem, o corpo todo chora e pede água. Isso é mais que sede, é fome de líquido! É assim que estou de uns dias pra cá. Só quero comer o que vai me hidratar, o que vai me encharcar por dentro... Está na hora de correr pra horta (feliz é quem tem uma), pras feiras livres, pro melhor mercado da cidade e abarrotar a cesta de hortaliças, frutas, frutas e frutas... É sobre os alimentos ricos em água que vamos conversar. Esse corpinho- ou corpão- que Deus nos deu é composto por aproximadamente sessenta a setenta por cento de água. Em períodos de muito calor, o corpo transpira para tentar manter as coisas em ordem, para assegurar a temperatura habitual do organismo. É a natureza sabida fazendo o serviço dela. Não sejamos tolos e façamos o nosso, que é o de não deixar o ‘balde’ secar. Na nossa cozinha tem que ter limão, maracujá, laranja, caju, melão, morangos, uvas, pera, figo, manga, abacaxi e melancia, a fruta mais rica em água e a minha favorita. Essas frutas quando diluídas em água são as maiores fontes- literalmente- de hidratação. Abuse do tomate, do pepino, do aipo, do agrião e até da beterraba, se não tiver restrições. Mas fuja dos chás diuréticos, se puder; das bebidas cafeinadas, se conseguir, pois elas estimulam a perda de líquidos. Faça drinks (sem álcool, claro! Pelo menos por enquanto) com água-de-coco e pedaços de frutas congeladas. E coma banana, a melhor fruta do mundo, para repor o potássio que se vai no suor... Hoje fiz uma saladona com o que tinha ao alcance das mãos: repolho roxo fatiado, broto de feijão, beterraba cozida cortada em cubinhos, cebola roxa fatiada bem fininho, 3 ou 4 azeitonas pretas, tomates cereja, morangos cortados ao meio e temperei tudo com um molho suave feito com mostarda de Dijon, vinagre balsâmico de framboesa, óleo de canola, uma merreca de sal, pimenta rosa em grãos. Ficou deliciosamente vermelha, mero acaso. Adorei o resultado. Não fiz foto. Não deu tempo. Bon appétit.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
O TEMPERO DA VIDA
Ontem vi um filme lindo que me fez entrar em estado de graça. Estou nele até agora... O tempero da vida é um filme inspirador, generoso, carregado de emoções diversas. Delicioso e divinamente humano. Uma refeição completa para o corpo e para a alma. Uma metáfora entre aperitivo, prato principal e sobremesa e nossa infância, nossa vida adulta e nossa velhice, nos permite refletir com sabedoria e delicadeza divinas sobre o breve roteiro de nossas vidas... É a história de um garoto de origem grega que vive com seus pais em Istambul, na Turquia. Fanis passa boa parte do seu tempo com o avô, proprietário de um pequeno comércio de especiarias e que tem sua própria filosofia culinária. O avô do menino ensina-lhe os segredos dos temperos e fala do laço invisível entre a astronomia e a gastronomia: ‘Pimenta aquece e queima, assim é o sol’. Ele aprende que as mulheres são doces e amargas como a canela... E que tanto a comida como a vida precisam de um pouco de sal ou perderão em sabor e encantamento. Avô e neto separam-se, mas Fanis leva na memória cada ensinamento de seu mentor e a cozinha da casa dos pais transforma-se em seu refúgio sagrado. O rapaz tornou-se um professor de astrofísica e aos quarenta anos depara-se com um momento crucial em sua vida... Vale muito a pena assistir para rir, chorar, pensar, salivar... Minhas almôndegas, por exemplo, não serão mais as mesmas. Elas terão outro gosto, terão mais gosto, mais alma e outras intenções... Aprendi a fazer almôndegas com minha mãe, talvez por isso nunca quis experimentar outra receita. A base para as almôndegas tradicionais é sempre a mesma: 500gr de carne bovina moída, 1 cebola bem picadinha (eu uso a roxa), 2 dentes de alho amassados, 1 pão francês amanhecido sem casca (umedecido e depois espremido) ou 3 colheres de sopa de farinha de rosca, 1 ou 2 ovos, sal, pimenta moída na hora, salsinha e cebolinha picadas. Junte todos os ingredientes em uma tigela grande e amasse bem com as mãos. Faça bolinhas e frite até dourar dos dois lados. Até aqui, nada de novo. Também já fiz almôndegas temperadas com uma colherzinha de cominho. Mas aqui mora o perigo e eu nem desconfiava. O cominho torna as pessoas introspectivas e fechadas. Melhor então trocá-lo pela intrigante canela, que provocará o efeito contrário, se quisermos que as pessoas soltem as amarras da alma. Isso é viver. Bon appétit.
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