sábado, 21 de junho de 2014

HEDONISMO DO SORVETE

Um dia desses, me deparei com uma reportagem na internet cujo título era: “Descubra se ela é boa de cama observando alguns sinais”. É o tipo de leitura que- você já está careca de saber- não vai acrescentar nada, absolutamente nada, em sua vidinha. Mas lá está você, e eu, e mais meio mundo lendo os conselhos, um a um, tim-tim por tim-tim... Havia uma meia-dúzia de itens, cada um com um título e algumas astúcias para a realização da tal descoberta. Três títulos chamaram minha atenção, todos ligados à comida, coisa mais óbvia. O primeiro, “Ela sugere comida tailandesa para o jantar”, alertava para a passividade de algumas mulheres em fazer suas próprias escolhas e afirmava que “uma mulher que sabe e diz o que quer tem mais chances de ser assertiva na cama”, ou seja, “ela assume a responsabilidade por seu próprio prazer”, logo, “facilita sua vida dizendo o que você deve fazer para satisfazê-la”. O título seguinte “Observe como ela come”, aponta os sinais, se você prestar “atenção no jeito que ela lida com a comida”. A coisa funcionaria mais ou menos assim: se ela comer devagar é possível que goste de fazer sexo demorado, então, prepare-se para longas preliminares... Sendo assim, dá pra concluir que se ela comer depressa, serão as rapidinhas a fonte de seu prazer? Agora vem a melhor parte do artigo, a chave do portal do paraíso; você saberá se a digníssima à sua frente combina ou não com você e para isto basta descobrir: “Qual tipo de sorvete ela gosta?”. Você acha que estou de brincadeira? Não mesmo. Existem estudos sobre o assunto e tem até uma neurologista envolvida na pesquisa. A coisa é chamada de hedonismo do sorvete. Foram correlacionados “testes de personalidade, seus sabores de sorvete preferido e os sabores preferidos de seu parceiro, e o status no relacionamento”. Descobriu-se que: “amantes de sorvete de café são dramáticos, sedutores, e paqueradores, além de compatíveis com fãs de sorvete de morango.” Mulheres que apreciam a baunilha são mais expressivas e podem se dar muito bem com homens que são chegados nos sorvetes de chocolate. E parece que “os amantes de sorvete de chocolate com menta nasceram um para o outro”, será? Só sei de uma coisa: sorvete, por si só, é uma inesgotável fonte de prazer; um prazer quase imoral, devasso, indecente... Boa sorte e bon appétit!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

LE TEMPS DES CERISES


Le temps des cerises- O tempo das cerejas, literalmente- é o título de uma célebre canção francesa, escrita por Jean Baptiste Clément, em 1866. O texto, melancólico sem deixar de ser bonito, é impreciso e as palavras podem tanto evocar uma revolução fracassada, como um amor perdido. Há uma metáfora poética e uma “coincidência” cronológica entre a Semaine sanglante (Semana sangrenta: episódio que marca a execução em massa dos membros da Comuna de Paris) e a estação das cerejas. Outras análises da composição garantem que se trata, simplesmente, do amor (no caso, de uma profunda tristeza amorosa) e do final da primavera. Você não faz ideia da quantidade de vozes extraordinárias que interpretaram essa canção! Mas voltemos pra parte comestível da história... As irresistíveis frutinhas, que vão do amarelo brilhante, passando pelo vermelho-sangue, ao vermelho-escuro denso, quase negro, nos remetem também à doçura e ao verão que se aproxima. Sei, sei, estamos em junho, em pleno outono, mas minha cabeça está lá nos campos franceses... É chegado o tempo das cerejas por aquelas bandas e eu me alegro (e salivo) só em pensar... Difícil foi escolher uma única receita com cerejas, mas optei por uma de preparo rápido pra servir 8 pessoas educadas ou 4 gulosas. Providencie: 600g de cerejas, 40g de manteiga com sal (mais 20g pra untar a forma), 4 ovos, 200ml de leite, 100g de farinha de trigo, 60g de açúcar, açúcar de confeiteiro, 1 fava de baunilha (se tiver) e só. Agora aqueça o forno a 210°C. Lave as frutinhas, escorra e tire os cabinhos. Tem gente que retira os caroços, eu particularmente, acho isso uma frescura e, além disso, nas receitas clássicas francesas, as bolinhas ficam inteirinhas. Então, derreta a manteiga em uma panelinha de fundo espesso. Em uma tigela grande, misture a farinha e o açúcar. Junte os ovos um a um e depois o leite aos poucos, sem parar de mexer. Acrescente a manteiga derretida. Unte, com capricho, uma forma refratária, distribua as cerejas e jogue a massa por cima. Leve ao forno por aproximadamente 10 minutos, diminua a temperatura para 180°C e asse por mais 20 minutos. Sirva o Clafoutis de cerejas frio ou morno (eu acho que a vida é curta demais pra esperar uma delícia dessas esfriar). Não se esqueça de polvilhar o açúcar de confeiteiro, antes de servir. Decore, se der tempo, e bon appétit!



domingo, 8 de junho de 2014

O PÃO DO CASTIGO


  • Na receita tem carne e/ou frango moídos, queijo cheddar, cenoura, espinafre, feijão, batata, tomate, leite em pó, uva passa e pão de trigo integral. Fácil de preparar, baixo custo e com tudo que a gente precisa. Até aqui tudo bem e pode até ser tentador para alguns, mas o nutraloaf, o “pão nutritivo”, não tem absolutamente gosto de nada! O tal pão é completamente neutro ao paladar. Cada um dos ingredientes foi escolhido, com cuidado, para anular o sabor dos demais com o intuito de "criar” o gosto de nada. O nutraloaf é o alimento servido em algumas prisões dos Estados-Unidos e segundo a Aramark Correctional Services, uma das muitas produtoras da gororoba, o objetivo é nutrir os presos que se comportam mal. Isso mesmo. Os detentos mais rebeldes passam algum tempo comendo, exclusivamente, dois pães nutritivos diariamente. É esse o castigo! A polêmica está rolando solta por aquelas bandas e presos de sete Estados americanos estão processando o Tio Sam, alegando que isso é mais que castigo, é tortura (sou obrigada a concordar com eles). Alguns venceram em primeira instância e no Estado de Ilinois, onde um preso fez greve de fome, os outros detentos recorreram e o julgamento foi reaberto. O alimento foi apresentado a críticos culinários que provaram e constataram que, indiscutivelmente, a “coisa” é totalmente desprovida de sabor. “Eu queria sentir qualquer sabor, até se fosse ruim”, disse Jeff Ruby, da revista Chicago. Mas ele não conseguiu terminar o maldito pão e parece que ficou enjoado e indisposto pelo resto do dia. Agora, estou eu aqui pensando... O alimento em si nos mantém de pé, mas não seria o prazer que o paladar nos proporciona que nos mantém vivos e alegres? Deus nos livre de um castigo desses! Eu morreria, literalmente, de desgosto. Bon appétit.