quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

MULHERES, COMIDA & DEUS



Mulheres, comida & Deus traz à tona questões pouco discutidas, como o sentido da comida em nossas vidas, o papel que ela representa para cada uma das mulheres que vivem uma espécie de tirania e em constante desespero em torno da forma de seus corpos. A autora deste livro inspirador acredita que “somos expressões ambulantes das nossas convicções mais profundas; tudo aquilo em que acreditamos a respeito do amor, medo, transformação e Deus revela-se no como, quando e o que comemos”. Ela nos alerta sobre como a profunda ineficácia dos regimes alimentares aliada à falta de inclinação espiritual tendem a gerar “mulheres malucas, vorazes, com aversão a si mesmas” e nos ensina que quando prestamos atenção à nossa fome e percebemos o quanto estamos satisfeitas, perdemos ou mantemos peso naturalmente. A escritora fala do bem-estar, do alívio que sentimos quando paramos de brigar com o jeito como as coisas funcionam. Conhecer-se, explorar o corpo que nos foi dado, reconhecer as sensações, adquirir habilidade para perceber mais e melhor cada uma delas, tomar uma decisão certeira: eis a magia! “Quando você está arrasada pela dor e sua resposta é comer pizza, você breca sua confiança de que ela não a destruirá. Se você não deixar que comece um sentimento, você também não permite que ele acabe.” Uma leitura, ao mesmo tempo, arrebatadora e divertida que nos leva ao mundo instigante da comida, do ato de comer, a uma jornada para dentro de nós mesmas. Parar de fazer dieta, começar a comer o que nosso corpo pede (e acredite, ele sabe o que pede!), constatar que “comer não tem nada a ver com falta de força de vontade, mas com falta de entendimento” é no mínimo intrigante.
A essa altura, você já concluiu que se trata de mais um livro de autoajuda. Pois bem, e daí? Desconheço um livro que não o seja. Toda leitura é autoajuda, de um modo ou de outro. Dos livros de matemática, de filosofia às receitas culinárias, passando pelos romances e livros de poesias, sem esquecer as revistas em quadrinhos que marcaram nossa infância... Tudo é autoajuda! A leitura ajuda quem lê, simples assim. Mulheres, comida & Deus é uma receita espetacular pra um bocado de coisas na vida. É como aventurar-se na cozinha...
Bon appétit.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

LINDO, CHEIROSO E GOSTOSO



Lindo, cheiroso e gostoso! Não é em nenhum ideal masculino que ando pensando, afinal aprendi a não mais desperdiçar meu tempo precioso. Ultimamente quem tem ocupado meus pensamentos é uma erva: o manjericão roxo. E é sobre ele que vamos conversar. Assim como outros tipos de alfavacas (manjericão de folha-larga), esta herbácea veio da Ásia tropical e da África. Na Índia, ele é planta sagrada e seu cultivo promove a felicidade no lar. Na Itália, quando oferecido em forma de ramalhete, representa bem-querença. Isso não é um mimo? E mais: ele é tão perfumado, que quando plantado em hortas e jardins, repele insetos e algumas pragas. Suas folhas brilhantes e rechonchudas são muito usadas na cozinha mediterrânea e entram no preparo de inúmeras receitas com tomates, bem como para fazer o tradicional “pesto”, aquele molho espesso feito com folhas de manjericão fresco, alho, azeite de oliva, queijo parmesão ralado e pinoli, tudo socado no pilão, pra comer com massa, um dos melhores pratos do mundo! O manjericão roxo é ideal também em saladas, omeletes, sanduíches... A delicadeza das folhas e o perfume marcante dão um toque de magia a uma infinidade de pratos. Gosto de acrescentá-las aos pratos cozidos, no último instante, para preservar a beleza e o sabor de cada folha. Dizem que é muito bom tomar o chá das folhas, depois de um dia de trabalho, pra relaxar e aliviar aquela dorzinha de cabeça de origem nervosa, pra renovar as energias do corpo e que se tomado depois das refeições, cuida da digestão. Não custa testar.
Sou doida por manjericão e a primeira vez que me deparei com a espécie roxa, no Ceasa de Goiânia, percebi que estava irremediavelmente apaixonada pela erva. Sou capaz de comê-la pura, crua, nua... Fiz uma salada de folhas verdes com morangos picados, cebola roxa cortada bem fininha, “miojo” triturado e frito em azeite de oliva (juntei à salada depois de bem frio pra não queimar as folhas) e um punhadão de folhas frescas de manjericão roxo. Reguei com molho suave de limão. Fingi que salguei. Ficou gostosa demais! Claro, tinha também um bocado de amor misturado, pois fiz para meu filho. Ele adora saladas. Comeu até.
Bon appétit!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O BOMBOCADO QUE NÃO COMI, O BEIJO QUE NÃO DEI


Era um dia de semana qualquer. Acabava de chegar de viagem. A saudade da rotina nos leva naturalmente a procurar hábitos familiares. Foi o que fiz. Fui ver alguns amigos, daqueles que não precisam ser avisados da visita, sabe? Gente querida. Conversa vai, conversa vem, novidades quase em dia. Na cozinha tudo a meio-caminho andado para as deliciosas bruschettas do Juliano. Juliano é um cara inteligente, canhoto, direito em tudo na vida; espirituoso, bem-humorado (um humor, digamos, levemente ardido na maioria das vezes); de paladar apurado, um cordon bleu nato e sou obrigada a admitir, cozinha melhor que eu. Mas isso é outra história. Voltando ao que interessa, conversa vem, conversa vai e todo mundo começa a falar de um bombocado rápido, inesquecivelmente delicioso, dourado e crocante feito enquanto eu estava fora... Mas que bombocado surreal era aquele? Pipoquei a pergunta, tamanha era minha indignação: Vocês estão falando de um bombocado que eu não comi?! E o Juliano que não perde uma: “É, e daí? Aproveita pra escrever um artigo: O bombocado que não comi, o beijo que não dei.” E ele nem imaginava o quanto estava certo... No saguão do aeroporto de Brasília, portão 8 para ser mais exata, lá estava ele. Um belo desconhecido, concentrado em sua leitura (certamente sobre finanças), de rosto expressivo e olhar profundo, de traços fortes, mãos grandes o suficiente, pesado o bastante (os magros não me enchem os olhos) e boca carnuda me fez esquecer o tempo e viajar antes de embarcar... Maldita moral, princípios malditos que nos impedem de agir de acordo com a nossa mais pura vontade! Aposto que ele beija bem. O beijo não dei, mas devorar o tal bombocado, ninguém me segura!
Anote: 200gr de coco ralado, 4 ovos, 2 latas de leite condensado, 1 colher de sobremesa de fermento em pó, 1 vidro de leite de coco, farinha de trigo para polvilhar, quanto baste de açúcar. Bata tudo no liquidificador e coloque em uma assadeira untada e polvilhada. Asse em forno médio por aproximadamente 40 minutos. Depois de pronto, polvilhe com um pouquinho de açúcar peneirado e peque à vontade! Não vale um beijo bem dado, mas vai excitar suas papilas! Bon appétit.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

LA BELLE ÉPOQUE


Você certamente já se deixou levar pelo encantamento provocado por imagens de mulheres exuberantes, com roupas levíssimas e cabelos esvoaçantes emolduradas em arabescos de frutos, flores e pássaros que ilustravam menus e cartazes publicitários para biscoitos, chocolates, licores, cervejas e champagnes. Tais affiches marcaram o estilo que revolucionou as artes gráficas. Seu criador é o artista plástico tcheco, Alphonse Mucha, conhecido como o “ilustrador da Belle Époque”, período que corresponde ao final do século dezenove e início de século vinte quando Paris era uma constante festa com seus charmosos cafés, bistrôs e cabarés. O “estilo Mucha”, inovador e marcante, virou referência no mundo artístico. Mucha, com toda sua versatilidade, fez esculturas, jóias, murais, calendários, ilustrações para livros e revistas... Nesta época, os restaurantes parisienses borbulhavam de gente elegante e os jantares com menus decorados por Mucha viraram moda. Hoje, esses menus, de encher os olhos e dar água na boca, são referências históricas para quem deseja saber mais sobre a gastronomia da Belle Époque. Nada indica que Mucha tenha sido um gourmet, porém afirma-se que o artista adorava sorvete (uma mania na época) quando servido como base para sobremesa. É o caso da Pêches Melba, criada em 1893 pelo francês Auguste Escoffier, o maior chef da Belle Époque, para homenagear a soprano Nellie Melba. Escoffier usou pêssegos embebidos em xarope de baunilha servidos sobre uma camada de sorvete em uma taça de prata e decorou com uma fava de baunilha. Essa delícia gelada faz parte das sobremesas clássicas da cozinha francesa e até hoje desconheço quem não a aprecie.
Eis a receita para 4 pessoas: 400gr de framboesas, 100gr de açúcar, 50ml de água, ½ fava de baunilha aberta, 8 bolas de sorvete de creme, 8 pêssegos em compota cortados ao meio e favas de baunilha para decorar. Amasse as framboesas e junte o açúcar, a água e a baunilha. Leve ao fogo baixo e deixe cozinhar por cinco minutos (sem mexer muito). Espere esfriar, descarte a fava e leve à geladeira. Coloque em cada taça 2 bolas de sorvete e 4 partes de pêssego já escorrido. Regue com a calda gelada e decore com uma fava de baunilha. Impossível não gostar!
Bon appétit.