quarta-feira, 9 de março de 2011

A NEIDE ESTAVA, QUASE, CERTA



Feliz Natal é uma cidadezinha do interior de Mato Grosso. Conte umas seis horas de carro, saindo da capital, dando uma paradinha e outra, pra chegar até lá. Cidade simpática! Fui visitar um casal de amigos, os pais do Benício que nasceu há poucos dias. Uma benção! Quando chegamos, uma chuvinha fina regava e perfumava o final da tarde. E chuva, você sabe, abre o apetite. A especialidade do nosso anfitrião é uma espécie de “bifões de cordeiro” que ficam marinados em um molho verde, espesso e cheiroso antes de serem assados na churrasqueira da casa. Mas para a tal marinada misteriosa, faltavam algumas ervas e é aí que entra a Neide. A Neide é uma mulher bonita, sorridente, falante, cheia de vida e dona de uma horta de verdade, daquelas que só se vê bem longe das cidades grandes. E as pimenteiras da Neide, que mais parecem pinheirinhos de natal, estavam carregadas de frutinhas de formas e cores variadas. Um encanto! Difícil cozinhar sem essas danadas que dão tanto cheiro, calor, cor e sabor aos alimentos. Colhi, animada, um punhado generoso de cada “pinheirinho” e a Neide nem queria receber por elas, coisa de gente do campo, gente simples que tem valores diferentes... Em meio às malaguetas coloridas, às pimentas bodinho, às doces biquinho, às de cheiro, as bonitas pimentas cuiabanas grandes, de um vermelho-alaranjado e outras verdes, rechonchudas e apetitosas, reinavam absolutas. Perguntei se eram ardidas. “Insuportavelmente ardidas” foi a resposta dela e sorrindo, me garantiu que mesmo para um fanático por pimentas, só um pedacinho já seria uma experiência dolorosa, uma inteira seria fatal. Não resisti à tentação do desafio. Voltei pra casa com elas. Guardei-as, com carinho, na geladeira... Outro dia, depois de receber uma notícia chata, “empinei a carroça”, fui cozinhar pra me alegrar. Fiz um jantar pra um casal de amigos, pimenteiros feito eu. Servi como entrada, pimentas recheadas com queijo sobre uma salada verde. Usei as diabas da Neide. Loucura! Era um morde-e-assopra interminável. Estávamos corados e o suor frio abrandava, lentamente, a queimação... Teve quem recitasse de cor, Olavo Bilac. As vias respiratórias estavam desobstruídas. Ríamos à toa. Comemos as quatro pimentas inteirinhas... Foi um jantar delicioso e inesquecível! Neide, ainda estamos vivos!
Eis a receita original: 4 pimentas jalapeño, ¼ de xícara de queijo cheddar ralado, ¼ de xícara de queijo tipo suiço ralado, ¼ de xícara de cream cheese, 1 ovo, ¾ de xícara de cerveja, 1 xícara de farinha de trigo, sal e óleo vegetal para fritura. Faça uma fenda nas pimentas e retire as sementes. Reserve. Em uma vasilha, misture os queijos e recheie-as. Em outra vasilha, misture o ovo, a cerveja e a farinha de trigo para fazer uma massa. Mergulhe as pimentas na massa e frite-as em uma frigideira funda até ficarem douradas e crocantes. Bom demais! Bon appétit.

4 comentários:

  1. Irresistível tentação... pimentas me fascinam também, tanto risco pelo sabor. É praticamente um baiacu vegetal. Mas a gente não resiste e come, mesmo sabendo que tudo pode dar errado. Deliciosa também são suas crônicas! Um beijo!

    ResponderExcluir
  2. Deliciosas são suas palavras salpicadas de carinho. Adorei "tanto risco pelo sabor", coisa mais linda!!!Merci.
    Gros bisous

    ResponderExcluir
  3. Selma,
    Linda,amada, idolatrada, salve,salve. Estou ficando injuriada por não estar conseguindo postar essas crônicas maravilhosas e de uma sutileza sem igual, seja, em cada frase ou em cada palavra. Ex.empinei a carroça”, simplesmente fantástico.Beijo apimentado...

    ResponderExcluir
  4. Gros bisous pimentés ma chérie. Merci!
    : )

    ResponderExcluir