quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

MEIO-TEMPO OUTONAL



As águas de março (de janeiro, de fevereiro, aff!) fecham o verão e descortinam o outono... Não é a primeira vez que declaro meu amor por esta que é minha estação favorita. Hoje vou dizer o porquê desse fascínio. “Fomos educados para alcançar resultados e não para valorizar os processos... O meio-tempo é o espaço de aprendizagem em nossas vidas, quando as experiências- quaisquer que sejam- não são objeto de julgamento, mas oportunidade para aprendermos.” (Iyanla Vanzant). O que tudo isso tem a ver com o outono? Pois bem, é assim que percebo, que sinto esta estação. É o meio-tempo entre o resultado frenético do verão e o repouso do inverno. É o processo entre esses dois resultados tão distintos. É a mistura de dois ingredientes; é o contraste do quente-frio... Na natureza, na vida, na cozinha, tudo acontece do mesmo jeito. Vai dizer que isso não é, no mínimo, fascinante?! Almeje um resultado, mas preste mais atenção no processo. Ele-o processo- é a vida acontecendo e muitas vezes, a gente nem se dá conta disso.
É, o outono me deixa assim, meio lá meio cá, meio corpo meio alma... Agora chega. Bora pra cozinha, que é pra isso que estou aqui. Não faço ideia do motivo que me fez pensar nessa deliciosa receita, mas afinal, já fiz tantas coisas sem razão aparente, uma a mais não vai fazer a menor diferença no meu processo (ou vai??).
Feijão preto com mamão e queijo de Minas (esta salada é servida no restaurante Celeiro e acho que fica perfeita como entrada para uma refeição outonal). Em uma bacia grande, junte 3 colheres de sopa de caldo de limão, 1 colher de sopa de gengibre fresco (sem casca, picado miúdo), 1 colher de chá de mel, 2 colheres de sopa de óleo de girassol, 2 colheres de sopa de azeite, sal a gosto. Bata bem com o batedor manual. Junte 2 xícaras de feijão-preto cozido e escorrido, ½ xícara de cebola roxa em cubinhos e misture bem. Na hora de servir, acrescente 1 ½ xícara de queijo-de-minas firme cortados em cubos pequenos, 2 xícaras de mamão bahia em bolinhas e ½ xícara de hortelã picada. Misture com carinho para não quebrar os cubos e dê as boas-vindas ao outono. Ele que muda discreta e sutilmente a natureza que nos envolve...
Bon appétit!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

NAS NUVENS



Eu me emociono “facin facin”; muito mais fácil que a maioria das pessoas “equilibradas” que acham tudo normal e quase nunca perdem o fôlego diante de uma situação extraordinária. Dessa gente quero distância. Elas não me faltam- não as pessoas, as situações que me emocionam- e temperam meu cotidiano.
O fato é que neste sábado, vinte de fevereiro, depois de tantos embarques e desembarques relativamente parecidos que já fiz pelos aeroportos desse mundão de Deus (gosto mesmo de aeroportos; toda essa gente que parte, que chega; gente que chora, dá piti, que se beija, se despede, que recebe de braços abertos; que lê, que come sem fome; um vai-e-vem sem sentido, mas que é bonito, é.), fiz um voo curtinho, um Goiânia-Brasília que não teria a menor graça, o menor sabor não fosse o fato de estar no comando, uma mulher (ok, ok, pode até não parecer tão extraordinário assim, mas foi; e me emocionei, fazer o quê?!). Não deixei por menos, chamei o comissário, confirmei que se tratava de uma e não um e me convidei, decidida e descaradamente a conhecer a moça. A Comte. Lebourg é uma mulher miúda- se bem que muitas ficam miúdas se comparadas a mim- de sorriso largo e olhar brilhante, mais que bonita, simpaticíssima! Foi um encontro breve, mas recheado de energia boa, de muita admiração. Me senti nas nuvens. E em segundos de conversa, pipoquei minha pergunta predileta: “O que você mais gosta de comer?” E na mesma velocidade, nem pestanejou: “Omelete de sardinha.” Fiquei fã da moça pela simplicidade e espontaneidade da resposta. E se eu fosse a Helena Rizzo, a Chef que assina o cardápio desta companhia aérea que dispensa elogios TAManho é seu prestígio, incluiria no menu da empresa, a omelete fofinha de sardinha, só pra homenagear aquela que nos leva às nuvens...
Ontem fui salvar, mais uma vez, meu amigo JP de mais uma de suas ressacas. Contei a história, partilhei minha emoção, rimos muito e adivinhe o que fiz pra ele comer? Pois é. Agora é a sua vez. Providencie 4 ovos (separados), 1 colh. de sopa de farinha de trigo (opcional), 2 colh. de sopa de manteiga, 1 pitadinha de sal e pimenta-do-reino moída na hora. Para o recheio, ½ cebola grande bem picada, 1 lata de sardinha em molho de tomate (amassada com garfo), 1 colher de milho verde ou ervilhas em conserva (opcional). Bata as claras na batedeira (velocidade máxima) por 5 minutos. Junte as gemas e bata mais um pouquinho. Acrescente a farinha já peneirada. Misture bem. Em uma frigideira, derreta metade da manteiga, coloque metade dos ovos batidos e deixe fritar até desgrudar da frigideira. Por cima coloque o recheio e feche a omelete dando um formato de meia-lua. Repita a operação para a segunda omelete e viaje no sabor!
Bon appétit!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

LASSI... VÃO MEUS PENSAMENTOS PARA A INDIA



Uma amiga embarcou ontem para a Índia. Bastou saber para eu embarcar junto em pensamento rumo a esse país generoso em sons, cores, especiarias e sabores únicos, marcantes, inconfundíveis... É certamente enriquecedor para a alma e gratificante para as papilas, a descoberta de um mundo tão diverso. Mas meu corpo está aqui e ultimamente ele tem reclamado mais bebida que comida (o seu também provavelmente, se estiver abaixo da linha do Equador). Lembrei do lassi. O lassi é uma bebida tradicional da Índia, à base de iogurte. Essa delícia existe em várias versões: natural, levemente salgada, com especiarias ou adocicada com aroma de rosas, de limão, de framboesa, de manga ou de pera. Na Índia, o lassi é uma das poucas bebidas, além da água, que pode ser consumida durante as refeições e nos intervalos delas. Além de nutritivo, o lassi é muito saboroso, refrescante e facílimo de fazer. Experimente!
Para duas pessoas, você vai precisar de 1 ½ xícara de iogurte natural, 1 xícara de água, 3 ou 4 pedrinhas de gelo, 1 colher de chá de açúcar, gotas de água de rosa (opcional), 1 pitada de cardamomo em pó (é ele que faz do lassi uma bebida tão especial) e 2 folhinhas de hortelã. Misture todos os ingredientes no liquidificador, exceto a água e o gelo. Bata por alguns segundos até ficar bem cremoso. Junte a água e as pedras de gelo e ligue o liquidificador três vezes seguidas para que o gelo fique grosseiramente picado. Experimente preparar também o lassi de pera com maracujá, usando 250ml de iogurte natural, 1 pera com casca cortada em quatro partes, 4 colheres de sopa de polpa de maracujá (com as sementes), 1 colher de café de cardamomo em pó. Bata tudo no liquidificador e coe em seguida. Bata novamente adicionando 4 pedras de gelo. Sirva imediatamente em copos altos com um pouco de mel por cima. E lá se vão nossos pensamentos para a Índia... e de lá vem essa delícia...
Namastê.
Bon appétit!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

COLESLAW



Parte do planeta é castigada com gelo, outra parte pega fogo e escalda a gente em suor sob um sol que não dá trégua (é desse lado que estou agora)... É enchente que mata, seca que definha. É de endoidecer gente que antes parecia sã. Como meus miolos ainda não estão fritos e acabo sempre encontrando um sentido pra essa bagunça toda, cá estou eu de novo aproveitando um gancho, desta vez o das intempéries da natureza pra seguir com meus escritos de comida, que sem ela (Deus nos livre!), a vida perde um bocado do encanto. É esse calor pra capeta nenhum por defeito, esse suorzinho que brota feito orvalho quente e uma sede que não aplaca que me enchem de (ins)piração e me fazem pensar em uma saladinha simples, mas muito saborosa: a salada coleslaw. Apelidada de repolho doce e salada crocante de repolho, esta salada típica americana é uma herança deixada pelos colonizadores dos Estados-Unidos. É uma velha conhecida, sempre presente em piqueniques, churrascos e acompanha com perfeição qualquer sanduíche.
A base desta salada, você já sabe, é o repolho, uma hortaliça rica em vitaminas, preciosa para o aumento da resistência dos tecidos e dos vasos sanguíneos, poderosa contra infecções, hemorragias e envelhecimento precoce e uma aliada eficaz no combate às doenças do aparelho respiratório. O repolho branco é depurativo do sangue e estimula a digestão. Deve ser consumido cru e bem mastigadinho. O roxo, por sua vez, favorece a produção de hormônios e auxilia na queima de gordura além de lindo e gostoso! E qualquer um deles, branco ou roxo, casa perfeitamente com cebola, cenoura, pepino, pimentões... e calor!
Para fazer a salada coleslaw, para 4 pessoas, você vai precisar de ½ repolho branco cortado em tirinhas finas, 4 cenouras raladas, 4 cebolinhas picadas (aquelas usadas para fazer conserva), 4 colh. de sopa de vinagre de vinho branco, 2 colh. de sopa de açúcar, 20 ml de creme de leite , 1 colh. de sopa de mostarda, suco de 1 laranja. Misture o repolho, as cenouras e as cebolas. Reserve. Dissolva o açúcar no vinagre. Misture o creme, a mostarda e o suco de laranja. Junte os dois líquidos até obter um molho liso. Derrame sobre os legumes e misture delicadamente. Leve à geladeira por aproximadamente 1 hora antes de servir. Refresque-se!
Bon appétit!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

À LA FORTUNE DU POT



Eita quarta-feira. E nem é a de cinzas! Hoje foi um dia daqueles que só servem pra gente se sentir aliviado quando acaba e/ou pra gente rir depois (de muito tempo) que passa... Tentei desatar os nós das pendengas a manhã inteirinha. Nada avançou! A tarde não foi diferente. Nem a gata estava a fim de miar. Estômago nas costas e uma lerdeza de dar inveja a bicho-preguiça tomaram conta de mim. Geladeira quase vazia. Era dormir com fome (o que seria me dar por vencida) ou comer à la fortune du pot. Tenho cá o meu orgulho. Fiquei com a segunda opção. La fortune du pot não é nenhum nome de comida chique mas uma expressão francesa bacana que implica em se virar com o que se tem na cozinha. Não estou falando de juntar sobras e fazer aquela especialidade culinária que os goianos chamam de “mexidinho”, sabe? Ahhh sabe, sim! Todo mundo já fez isso pelo menos uma vez na vida... Quebra-se um ovinho no meio da panela com um pouquinho de óleo, acrescenta-se uma cebola picadinha (possivelmente você só vai ter meia cebola murchinha murchinha), juntam-se as sobrinhas do almoço, uma pimentinha pra dar um gostinho, uma farinhazinha e por aí vai (goianos e mineiros adoram diminutivos pra dizer que essa gororoba pode ficar gostosinha demais sô!). Voltemos à nossa expressão que está mais ligada à criatividade e à habilidade de cada faminto estressado ou pego de surpresa com a visita inesperada daquele amigo adoravelmente cretino que não aprendeu ainda pra que servem os telefones nem os e-mails... Quer saber, continue amigo dele. Ele é capaz de dizer de boca cheia que nunca comeu nada tão simples e saboroso (e ainda vai lavar a louça)... Essa lenga-lenga toda é só pra dizer que hoje fiz uma saladinha à la fortune du pot e ficou prá lá de gostosa. Tomara que me lembre de tudo que misturei, mas se não for o caso, fazer o quê? Pelo menos essa minha quarta-feira serviu pra te dizer que à la fortune du pot é só um jeitinho francês despretensioso e simples de cozinhar.
Juntei pepino em rodelas finas, tomate-cereja, milho-verde em conserva, couve-flor crua em pedacinhos miúdos, migalhas de nozes (não tinha mais nenhuma inteira no pote) e cubinhos de mamão Formosa. Fiz um molho à base de mostarda, suco de uma laranja, sal, pimenta-do-reino moída e gengibre em pó. Comi com pão torrado. Olhei pra uma garrafa tentadora de vinho do Porto, presente de um amigo. Resisti. Sacanagem abrir sem ele, mas confesso, foi por um triz...
Bon appétit!