quarta-feira, 9 de setembro de 2009

AO LONGO DO CAMINHO...



(e não é o das Indias). Setembro de 2005. Pelo menos metade do caminho a ser percorrido já tinha ficado para trás; para trás também ficaram muitas dúvidas, alguns medos e outras inhacas. Outro tanto estava por vir, mas a essa altura, já tinha aprendido: era um dia por vez, uma passada na frente da outra e pronto. De qualquer maneira, forças não tinha mais para programar o dia seguinte; aprendi na marra a não me pré-ocupar e a só me ocupar do que estava diante do meu nariz. Ao todo foram trinta e três dias de muito sofrimento físico (já que preparo não tinha nenhum) para completar a pé, os oitocentos quilômetros que separam Saint Jean Pied de Port, no extremo sul da França, de Santiago de Compostela, no noroeste da Espanha. Mazelas à parte, sobraram as boas lembranças, a graça e o prazer de viver aos poucos e com pouco neste caminho que é um testemunho do poder da fé cristã. Tão prazeroso quanto, foi emagrecer co-men-do! Começava o dia com uma tigelinha de café com leite e duas madeleines (ok, três) que adoçavam a boca por horas; algumas frutas colhidas ao longo do caminho completavam a refeição matinal (comi amoras, uvas e figos pelo resto da minha vida); por volta do meio-dia, um naco de queijo com pão fazia as vezes de almoço, à sombra de uma árvore ou à beira de uma fonte de água fresca... E dá-lhe pernas (e muita força de vontade) pra seguir em frente e chegar, até o cair da tarde, no próximo vilarejo onde a carcaça descansaria em algum albergue coalhado de peregrinos vindos dos quatro cantos do mundo. No jantar, refeição principal dos andarilhos (essa sim, regada a vinho pra lavar a alma), o menu do peregrino a oito euros, virava banquete, comida pantagruélica, diante da fome diabólica que assolava os santos andantes com direito a uma bela massa de entrada, um farto pedaço de frango ou carne, legumes cozidos, batatas macias, pão e um crème caramel (um pudinzinho sem-vergonha) de sobremesa. Foi numa dessas refeições que comi a fritada espanhola, uma espécie de omelete de batatas, muito simples, mas de comer de joelhos e esperar que a digestão seja feita durante o merecido sono que pode virar um maldito pesadelo.
Descasque algumas batatas, corte-as em cubinhos e frite-as na frigideira em óleo bem quente (escorra o excesso de óleo) e reserve. Bata alguns ovos para omelete, tempere com sal, pimenta do reino, cheiro verde ou ervas finas ou o que bem quiser (vale usar pimentões e tomates picadinhos, alho, cebola, imaginação). Jogue a mistura sobre as batatas ainda quentes e leve novamente ao fogo até cozinhar os ovos e obter uma omelete espessa e cremosa por cima. Corte-a como uma pizza, sirva os amigos e comam sem culpa... Mas amanhã bem cedinho, sebo nas canelas! Buen camino!
Bon appétit!

6 comentários:

  1. gostei disso, elma.
    tu foi buscar a receita lá na memória de 2005.
    muito bom.
    essa receita faz o meu tipo.
    hehe.

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  2. feliz que tenha gostado... hehe
    bisous mon adoré.

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  3. Vamos fazer uma fritada espanhola??? Depois a gente dá uma voltinha na praça pra compensar... kkk

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  4. Fiz sim Lilian.Em agosto/setembro de 2005, em 33 dias de caminhada...
    (nossa!!! quase o mesmo tempo que demorei pra te responder, desculpe...)

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