quarta-feira, 7 de abril de 2010

BLANCHE POÊLE



Foi depois de ler o relato do batizado da minha panela Le Creuset azulzinha, a Elvira Rios, que um amigo distante (distante só em quilômetros) me mandou o seguinte recado: “Eu tenho uma frigideira branca (grande e claro pesadíssima), ainda sem receita. Não sou feiticeiro, mas sou esforçado. Me ajuda, vai!?”
Prometi ajudar, mas tinha cá minhas exigências. Pra começar, gostaria de vê-la antes e teríamos que batizá-la também, afinal sem nome e sobrenome, a coitada estaria, digamos, frita. Sugeri um nome francês, delicado e cheio de charme pra honrar sua roupagem imaculada e sua missão neste planeta: Blanche Poêle. Meu amigo aceitou com gosto. Providenciou sem hesitar, fotos mil, de lado, de costas, de frente, o melhor perfil de Blanche e num misto de biografia e comédia romântica, me contou sua história com ela. É de amolecer o coração! Voilà:
“Elma querida, Como te prometi, segue a história de nossa querida Blanche: Bem, tudo começou quando nos encontramos nos EEUU há uns dois anos, quando entre uma aula e outra de um congresso, fui às compras e achei que as malas estavam muito leves... Bem, entre tantas coisas numa casa francesa e entre tantas amigas tão diversas, depois de comprar pincéis e coisas em promoção, vi nossa tímida Blanche, até então anônima no meio de amigas "espetaculosas" verdes, abóbora, vermelhas puta, enfim, ela branca e pura, singela, mas firme e certa do que era e a que veio neste mundo do carbono.Depois de titubear um pouco, resolvi que encararia a empreitada de trazê-la comigo já que ela não suportava mais a América do Norte e a dona da casa que ela então ocupava. A dona, por sinal ficou entusiasmada com minha coragem, "brave man you are!”... Não sei onde Blanche nasceu, é francesa me disse ela de cara (o inglês dela entrega, apesar de sua fluência)... Mas a vida dela esconde detalhes que ela aos poucos nos revela. Ela é tímida. É ofuscada por duas amigas suecas que viviam na Inglaterra, são metidas a práticas, versáteis, forjadas em série a partir de um dos melhores aços do mundo etc... Bem, ela não se intimida, é só dar uma deixa que ela se revela, e como se revela... Ela precisa de um pouco de tempo pra engatar ou talvez seja muito mais uma questão de mais Watts de potência nos queimadores. Tantas possibilidades... Fato é, quando Blanche se embala, ela bota pra quebrar! É vaidosa, faz BEM! e se não tomar cuidado ARROMBA tudo que tiver por perto, em cima, dos lados. Como ela é espaçosa, já dá pra imaginar o estrago que pode fazer se não souber conduzir bem seus calores. Beira a histeria, mas na verdade ela é intensa, sabe o que tem que fazer e faz! Só isso. Ela me revelou hoje, excitada com a possibilidade de mostrar mais ainda seus talentos, que se sente um pouco escanteada, menosprezada até e que sua auto-estima tem andado meio combalida, apesar da consciência de seus valores todos (beleza, funcionalidade, versatilidade, tradição-família importante). Adorou as fotos que tiramos juntos e me pediu que te dissesse que no fundo, no fundo mesmo, ela tá meio cansada de distrações bobas e rápidas. Ela sente que tem um potencial enorme e que deveria partilhar esse potencial com pessoas legais que ela quer conhecer e quer que eu traga aqui pra nossa casa. Não precisa ser pra morar não, afinal ela é ciumenta e já bastam as duas suecas, me disse num tom meio ressentido... Danado esse destino, trouxe nossa menina pra Recife, num ap. de 50m2, onde não fica nem bem ela expor toda sua pujança e paixão, cheiros, fluidos, e calor - enfim seu lado mais humano. Eu providenciei uma tampa... pra deter um pouco de seu ímpeto, ela sempre me queima um pouquinho pra se "amostrar", é verdade! tá ficando pernambucana! Danada!Veja as fotos e tire suas conclusões... O dilema é grande! Tanta intensidade numa criatura que bateu vontade de virar caldeirão. Aguardamos ansiosos sua resposta. Beijão...”

Ainda não respondi, mas vou responder e já posso imaginar o que Blanche e Elvira são capazes de aprontar juntas, sobre um mesmo fogão, de bundinhas quentes, untadas, cheias de calor pra dar... pra grelhar, pra refogar, pra fritar, pra cozinhar...
(E depois a surtada sou eu!?)

Bon appétit!

Nenhum comentário:

Postar um comentário