Cozinheiro perspicaz cozinha com os produtos da estação. Escolher o que se tem em abundância nas feiras e nos mercados é meio caminho andado para o sucesso de um prato. Basta parar, olhar, cheirar, tocar, provar (as provinhas em feiras são um deleite!) e decidir, depois, o que levar. Estamos em outubro, as chuvas estão vindo pra encorpar nossas frutas e encher nossas casas de cor e frescor. Mal posso esperar para ver prateleiras abarrotadas da mais exótica das frutas, a manga. A minha eleita é a manga rosa, por sua casca lisinha de cor vibrante, seu perfume singular e delicado e a textura macia de sua polpa carnuda e gostosa. Comer uma manga rosa madura é quase cometer o pecado da luxúria e comer um monte delas, aí sim, sucumbimos também àquele da gula. Quem se importa... Queremos mesmo é prazer, energia, vitalidade e poesia. Queremos saúde. O resto é balela. As frutas nos dão muito de tudo isso. É a natureza sabida que nos oferece aquilo de que precisamos em cada época do ano. As mangas são vitaminadas, combatem a desnutrição e os radicais livres que nos enferrujam e corroem nossas células. Mas você acha que é por isso que nós as comemos? Comemos porque são lindas e gostosas e salivamos ao vê-las; comemos porque nos enchem de prazer. A natureza é assim para tantas outras coisas... Abasteça sua fruteira e delicie-se com esse Sorbet de Manga. Com a manga consegue-se o mais delicioso sorbet graças a sua consistência aveludada e macia. Use o suco de 1 limão, suco de ½ laranja, 115g de açúcar refinado, 2 mangas rosa grandes e maduras, 1 clara batida. Misture os sucos com o açúcar. Reserve. Faça um purê com a polpa da fruta usando o liquidificador ou o processador. Transfira para uma vasilha grande e junte os sucos. Acrescente a clara batida. Coloque tudo em um recipiente próprio para freezer com profundidade suficiente para permitir bater a mistura outras vezes. Cubra com filme plástico para que congele por igual. Deixe no freezer por cerca de uma hora e volte a batê-la para obter uma textura ainda mais suave e homogênea. Cubra e devolva o recipiente ao freezer por mais uma hora. Repita o processo mais uma ou duas vezes e deixe congelar por completo. Retire do freezer 5-10 minutos antes de servir para ficar cremoso. Se quiser, enfeite com fatias finas de manga e calda de framboesa. Bon appétit.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
terça-feira, 18 de outubro de 2011
RELACIONAMENTOS SÃO COMO SUFLÊS
Quando li: “O autor nasceu para escrever sobre qualquer coisa ligada à gastronomia. Esse livro arrebatador sobre comida, e sobre a vida, foi uma deliciosa surpresa.” “Uma história inspiradora sobre como recolher os cacos com uma espátula de cozinha!” Não hesitei. Comprei o livro. Se você é como eu, gosta de histórias de forno e fogão, encontros e desencontros, também compraria. Aliás, compre-o se quiser. Pode ser que o problema esteja comigo e a chata seja eu, e não Bob Spitz, o autor de Aprendiz de cozinheiro. A obra não é ruim, mas também não sei dizer o que ela é. Os parágrafos longamente descritivos me fizeram saltar centenas de linhas para passar logo de um capítulo a outro. Submeti-me até a perder alguns dos valiosos segredos extraídos de muitos mestres cozinheiros. Fiquei semanas, empacada, na página 106 de um total de 355 (sem contar os agradecimentos) e decidi que a partir dali ia ler somente o início e o fim de cada página e pronto, só pra não deixar inacabado o que havia, antes cheia de entusiasmo, começado. E foi assim que cheguei às ‘breves palavras finais’ do autor. Fui, porém, deliciosamente surpreendida pelo último parágrafo: “... qualquer relacionamento, nessa etapa avançada da vida, é como um suflê. Precisa dos ingredientes certos para se começar, de muito cuidado amoroso, e da consciência de que se tem de trabalhar muito nele para que o ar possa sair. Se não, como qualquer idiota sabe, tudo o que se consegue é uma sopa.” Parei pra pensar. Eis uma verdade: relacionamentos são como suflês. Não sou boa com suflês. Será que também não sou boa com relacionamentos!? Tenho que fazer um suflê! Fui em busca da receita que me livraria do ‘feitiço’. Achei uma relativamente fácil. Vou testá-la, vai que... Soufflé au fromage (suflê de queijo do Olivier): 150g de queijo gruyère ralado fino, 60g de manteiga, 40g de farinha, 400ml de leite, 4 ovos, noz-moscada, sal, pimenta e páprica picante. Derreta 40g de manteiga em uma panela, junte a farinha e misture. Cozinhe por 2 minutos. Junte o leite quente aos poucos, mexendo sem parar e cozinhe por mais 7 minutos. Tempere. Adicione o queijo ao molho e misture. Retire do fogo. Unte uma forma para suflê e aqueça o forno a 200°C. Separe as gemas das claras. Bata as claras em neve com uma pitada de sal. Deixe o molho esfriar e junte as gemas e as claras em neve, misturando delicadamente, de cima para baixo. Coloque a massa na forma e leve ao forno por 30 minutos ou até estar crescida e dourada. Sirva em seguida. Bonne chance. Bon appétit.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
MELANCIA TRÔPEGA
É verão, e verão sem melancia perde um bocado da graça. Sou ‘Magali’ por melancia, mas a menina gulosa que mora em mim já beira os cinquenta, e nessa idade, meu amigo, pode-se um monte de coisas, permite-se muito mais. É o encanto de vários verões acumulados, acredite! Agora, parcimônia fica pra quem ainda precisa dela, pra quem ainda tem a voz embargada, pra quem acha que não pode errar; pra quem rotula e quem se enquadra; pra quem ainda não aprendeu a rir de si mesmo. O tempo é um mestre sábio, mas exigente demais. Tinha, graças a Deus, que ter algo pra compensar os tropeços, as panes do corpo. É a doce rebeldia da maturidade que brota, sabe-se lá de onde... A vida rolando lá fora e eu, aqui, falando da frutona; e nem é a primeira vez que reparto esse assunto com você. É que nunca é tarde pra melhorar o que já é bom. As frutas são assim, absurdamente boas. Outro dia, vi uma reportagem no JH que catalogava as frutas, com ajuda de um especialista, por faixa etária. Adolescentes, moçoilos e moçoilas até os 19 devem devorar maçãs, morangos e açaí pra prevenir a anemia e a obesidade e ‘sarar’ a musculatura. Dos 20 aos 29 anos, a ordem é comer abacate, abacaxi e a bendita melancia que ajudam na regularização do colesterol, como digestivo e atuam na prevenção do câncer de mama e da próstata. Dos 30 aos 39, coco, pêssego e uva reduzem o colesterol. Dos 40 aos 49, dá-lhe caju como diurético, ameixa contra as doenças intestinais e melão que socorre na perda de peso. Chegar vivo e bem aos 50 já é bom demais e até os 59, nunca dispense uma boa manga que previne a desnutrição, a jabuticaba pra reter menos líquido e a pera, sei lá pra quê. Depois dos 70 (tomara que eu ainda esteja por aqui), é a vez da goiaba e da cereja, boas para a circulação e eficazes contra o reumatismo; e as uvas que garantem a longevidade e blá blá blá... Se você reparar, nada foi sugerido dos 60 aos 69. Pois bem, vai aqui uma dica que vale também a partir dos 18. A Melancia trôpega. Compre uma melancia média e madura, lave-a, seque-a. Faça um furo no centro dela com um boleador de frutas. Introduza todo o cano de um funil no orifício e vá regando, aos poucos, com a melhor vodka que tiver. Faça isso durante dois dias (conserve-a na geladeira) e sirva em fatias, no início ou no final da refeição... Ah se ela pudesse, rolaria toda trôpega, feliz da vida, feito gente que saiu da linha, que perdeu o eixo, que se deixou levar. Valha-me Deus, que delícia! Bon appétit.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
ESTÔMAGO
Imagine um conto de fadas para adultos, no gênero do filme francês ‘O fabuloso destino de Amélie Poulain’ e dirigido por Almodóvar... O resultado seria, no mínimo, surpreendente!
Pois é. Estômago é bem isso, “uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e gastronomia.” E que diabos eu andei fazendo pra nunca ter ouvido falar antes dessa beleza de filme nacional? Imperdoável. A obra, dirigida por Marcos Jorge, é simplesmente imperdível! Um misto de comédia e drama, em um contexto cru, quase cruel, salpicado de verdades amargas, outras ardidas, outras doces, todas tão, tão reais... O nordestino Raimundo Nonato (interpretado divinamente por João Miguel) acabou de chegar a SP, sem dinheiro e sem endereço (até aqui, uma história banal, quase um clichê). A coisa começa a mudar quando ele consegue um trampo em um boteco medíocre da capital e descobre sua verdadeira vocação: a culinária. A reputação de suas coxinhas espalha-se pelo bairro e nosso ‘herói’ é contratado para trabalhar em um restaurante italiano. Ali, Nonato digere, sabiamente, cada um dos ensinamentos sobre a arte de cozinhar. Aprende sobre ervas, gostos, bebidas, cheiros; aprende a doar-se enquanto cozinha. A essa altura, o tempero do amor já perfuma suas noites com Iria (a talentosíssima Fabiula Nascimento), uma prostituta pra lá de gulosa. Paralelamente a essa história, cenas do cotidiano de Nonato, em uma prisão, nos levam a crer que ele cometera um crime... É na cela que seus dotes culinários fazem com que ele transforme seu destino (e o destino dos outros detentos). Prisioneiros e aprisionados pelo estômago, todos são bandidos e vítimas em uma sociedade com base nas relações de força e poder. Ri, salivei tantas vezes, estarreci-me, tive até que 'ter estômago' para algumas das cenas e como valeu a pena! Um filme vibrante, inesquecível.
Escolhi uma receita do filme que retrata o amor, já que o ódio anda solto por aí. Romeu e Julieta com gorgonzola, já provou? Corte fatias grossas de goiabada cascão e depois modele pedaços menores com aro de alumínio na forma que quiser (coraçõezinhos ficariam lindos). Faça o mesmo com o gorgonzola. Sirva como sobremesa, intercalando o doce e o queijo, sobre um prato bonito. Bon appétit.
Pois é. Estômago é bem isso, “uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e gastronomia.” E que diabos eu andei fazendo pra nunca ter ouvido falar antes dessa beleza de filme nacional? Imperdoável. A obra, dirigida por Marcos Jorge, é simplesmente imperdível! Um misto de comédia e drama, em um contexto cru, quase cruel, salpicado de verdades amargas, outras ardidas, outras doces, todas tão, tão reais... O nordestino Raimundo Nonato (interpretado divinamente por João Miguel) acabou de chegar a SP, sem dinheiro e sem endereço (até aqui, uma história banal, quase um clichê). A coisa começa a mudar quando ele consegue um trampo em um boteco medíocre da capital e descobre sua verdadeira vocação: a culinária. A reputação de suas coxinhas espalha-se pelo bairro e nosso ‘herói’ é contratado para trabalhar em um restaurante italiano. Ali, Nonato digere, sabiamente, cada um dos ensinamentos sobre a arte de cozinhar. Aprende sobre ervas, gostos, bebidas, cheiros; aprende a doar-se enquanto cozinha. A essa altura, o tempero do amor já perfuma suas noites com Iria (a talentosíssima Fabiula Nascimento), uma prostituta pra lá de gulosa. Paralelamente a essa história, cenas do cotidiano de Nonato, em uma prisão, nos levam a crer que ele cometera um crime... É na cela que seus dotes culinários fazem com que ele transforme seu destino (e o destino dos outros detentos). Prisioneiros e aprisionados pelo estômago, todos são bandidos e vítimas em uma sociedade com base nas relações de força e poder. Ri, salivei tantas vezes, estarreci-me, tive até que 'ter estômago' para algumas das cenas e como valeu a pena! Um filme vibrante, inesquecível.
Escolhi uma receita do filme que retrata o amor, já que o ódio anda solto por aí. Romeu e Julieta com gorgonzola, já provou? Corte fatias grossas de goiabada cascão e depois modele pedaços menores com aro de alumínio na forma que quiser (coraçõezinhos ficariam lindos). Faça o mesmo com o gorgonzola. Sirva como sobremesa, intercalando o doce e o queijo, sobre um prato bonito. Bon appétit.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
VAI ROLAR UM ARROZINHO?
“Um grão com uma capacidade extraordinária de se adaptar ao meio: pode ser cultivado abaixo do nível do mar e em altitudes de três mil metros; resiste ao calor e ao frio; sobrevive em regiões com umidade abundante e em outras com um índice pluviométrico mínimo, marcadas pela seca e a erosão do solo. Assim é o versátil arroz, alimento dos mais consumidos no Brasil e no mundo...” São palavras de Orlando Diniz, Presidente do Conselho Regional do Senac Rio. Arroz é o assunto do sétimo volume, um livro es-pe-ta-cu-lar, da coleção Aromas e Sabores da Boa Lembrança, uma combinação que deu certo entre o Senac Rio e a Associação dos Restaurantes da Boa lembrança. E eu que, vergonhosamente, ainda não conhecia a ARBL, fui me informar. A ARBL é uma associação cem por cento focada na alegria gastronômica e visa à ‘integração da diversificada culinária’ brasileira. Ela organiza jantares especiais, festivais de comidas e bebidas; incentiva o turismo nacional, promove congressos... Tudo isso com o intuito de deixar gravada ‘a boa lembrança’ na memória gustativa daqueles que desfrutam dos pratos dos restaurantes filiados. A ARBL está presente no DF, no sul, no sudeste, no norte e no nordeste do Brasil, mas parece que por essas bandas, nenhum restaurante ainda se filiou, por que será? Voltemos ao nosso cereal sagrado. Brasileiro é doido por arroz. Tem sempre que rolar um arrozinho pra refeição ser completa. Que não me privem dele, pois eu perderia um bocado da graça de viver... Outro dia, vendo um filme medíocre e previsível sobre um homem e uma mulher que se veem isolados em uma ilha depois de um acidente de avião, pensei: que comida me manteria viva e feliz se tivesse que me isolar e me privar de quase tudo? Nem pestanejei: arroz e banana. Imagine os dois em uma única receita! Anote, faça, convide os amigos e sejam felizes! Esse Risoto de banana com açafrão é absurdamente simples e simplesmente irresistível! Providencie 1g de açafrão (4 envelopes de 0,25g cada), 200ml de vinho branco, 50ml de azeite, 1 dente de alho socado, 1 cebola picada, 200g de arroz arbóreo (até com arroz comum fica bom), 1 banana-da-terra cortada em cubinhos, sal, pimenta do moinho, 1,5 litro de caldo de legumes, 50g de manteiga, 30g de parmesão ralado. Misture o açafrão ao vinho. Reserve. Esquente o azeite em uma panela de fundo grosso. Doure a cebola e o alho. Junte o arroz e a banana, refogue, coloque o sal e o vinho misturado ao açafrão. Coloque o caldo aos poucos sem parar de mexer. Com o arroz cozido al dente e ainda molhado, junte a manteiga e o parmesão. Bon appétit.
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