quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O PEPINO DO SEU ALMEIDA
Osmarim Silva de Almeida é um pedreiro de 49 anos, simpático e sorridente que mora em Breu Branco, no Pará. Dona Carmelita anda cabreira por conta da falação toda em torno do pepino do seu marido, de como ele ficou grande! Seu Almeida ao ver o pepino aumentando além da medida normal resolveu prestar mais atenção, pra ver até onde o pepino cresceria. Ele jura de pés juntos que não fez nada de especial pra ajudar o pepino a crescer tanto e que nem fazia ideia que um mero pepino pudesse chegar a tais proporções. Seu Almeida está relutante em cortar o pepino (e que homem não estaria?), mas declarou que agora não dá mais, vai mesmo tirar o pepino do pé, já que o dito cujo atingiu 92cm de comprimento e 65cm de largura. Seu Almeida faz aniversário dia 8 de março, quando ele pretendia cortar o pepino (logo no Dia Internacional da Mulher!?) e distribuir as sementes pra quem quisesse um pepino igual. Não vai dar. O pepino do Seu Almeida já está maduro demais e pode não aguentar a espera. Neste sábado, dia 2 de março, O dia D, vai ser um alvoroço, todo mundo querendo tirar uma casquinha do pepino do Seu Almeida... O responsável por tudo isso? Um vizinho que o presenteou com algumas sementes, no final do ano passado. Hoje a hortaliça, plantada no fundo do quintal do nosso pedreiro sortudo, está com 25 kg! Parabéns pelo belo pepino, Seu Almeida! E Dona Carmelita, não se avexe, o marido é seu, logo o pepinão dele também! O que eu faria com o pepino do Seu Almeida? Uma deliciosa Sopa gelada de pepino. Mas como o do Seu Almeida está longe daqui, faça sua sopinha com 6 unidades de pepino japonês bem lavados e picados em cubinhos, 500gr de iogurte natural, folhas de hortelã picadinhas, sal, pimenta-do-reino moída na hora, noz-moscada ralada, 50ml de azeite extra virgem. Misture tudo e leve à geladeira antes de servir em cumbuquinhas como prato de entrada. Se quiser variar, coloque também cubinhos de presunto cozido e gotas de limão siciliano. Bom demais! Bon appétit.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
NO LIMIAR DO ENJOO
Até então não havia lido melhor frase que aquela da senhora Lispector a respeito de comida sofisticada. Clarice disse assim em sua crônica Comer: “Certas comidas requintadas demais estão no limiar do enjôo de estômago. Requintada demais dá cócega ruim: e eis atingido o limiar. Pois também comida boa tem algo de rude nela.” Outra mulher, Gabrielle Hamilton, diferente no estilo, mas muito sabida e habilidosa com as palavras, escreveu o seguinte: “Nada de espumas, nem comida ‘conceitual’ ou ‘intelectual’: apenas as coisas doces, salgadas, amidoadas, sumarentas, frescas que se deseja comer quando se está com fome de verdade.” Nem parei pra pensar. Concordei de cara e melhor ainda, fiquei feliz. O requinte exagerado nunca me seduziu, nem nunca seduzirá meu paladar. Não tenho talento pra frescuras nem meu estômago pra palhaçadas. Quem me conhece e conhece minha fome sabe o que estou tentando dizer. Quem tem fome de verdade quer comida de verdade: ovos quentes e moles temperados com sal e pimenta moída na hora, ovos mexidos, ovo frito com pão fresco, ovo; frango inteiro assado no forno e servido com arroz branco, salada de batatas cozidas e lambuzadas com maionese caseira; o bifão nosso de cada dia com rodelas grossas de cebola douradas no próprio suco da carne pra comer com pão, ou com arroz e feijão, ou com farofa (qualquer boa farofa serve); o clássico dos clássicos: macarronada ao sugo; salada de tomates maduros temperados com limão, azeite e sal e cebolinha verde; sopa de legumes, densa e cremosa; pudim de leite, doce de leite, ambrosia... Todo bicho comível, nas mãos de um bom assador vira iguaria e todo cozinheiro que cozinha com paixão vira chef. É mais ou menos por aí que se faz comida boa de verdade. Quer fazer um simples pão com ovo virar notícia? Pegue uma fatia de um bom pão de forma ou pão italiano e faça um buraco no meio com um aro (no formato que desejar) do tamanho de uma xícara pequena. Aqueça uma frigideira antiaderente e unte com azeite. Coloque o pão, doure levemente dos dois lados e quebre um ovo no buraquinho. Abafe para que a gema cozinhe um pouco. Descubra e tempere com sal e pimenta moída na hora. Retire cuidadosamente com uma espátula e sirva com salada. Duvido que Clarice reclamasse do meu pão com ovo. Bon appétit.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
FOLIA
Estou com amigos em casa. Uma grande e querida família só de três, fugindo do inverno carrasco que assola a Europa nessa época do ano. E o carnaval bombando nos quatro cantos do país. Nossa folia acontece é na cozinha de casa e na casa de outros amigos, igualmente avessos à tal festividade. É a festa da carne pra um bocado de gente, o que pra nós, não-carnavalescos, quer dizer: desfrutar de longas horas diante de uma churrasqueira em brasa viva. O desfile dos espetos provocando um salivar involuntário que anuncia o prazer de devorar, aos poucos, pedaços rechonchudos de diferentes carnes, todas quentes, tenras, suculentas e salgadinhas, com colheradas de farofa de banana (mas toda farofa é bem-vinda!), vinagrete e arroz branquinho. E molho de pimenta endiabrada. Isso sim é tentação! É a alegria que reina do café da manhã, colorido e farto, até altas horas, sem saltar nenhuminha das refeições, comme il se doit... Casa com gente tem que ter bolo. Um bolo sempre esperando. Um bolinho pra preencher o vazio entre uma refeição e outra. Amanhã vou fazer um. É, um que não faço há muito tempo: o Bolo Fantasia de Chocolate (eu não perdia tempo, nem comendo nem fazendo bolo de chocolate antes dessa receita, juro). Providencie 1 xícara (chá) de manteiga, 6 colheres (sopa) de chocolate em pó solúvel Nestlé, 1 xícara (chá) de açúcar, ½ lata de leite condensado, 4 ovos, 2 xícaras (chá) de farinha de trigo, 1 colher (sopa) cheia de fermento em pó e ½ xícara (chá) de leite integral. Isso para o bolo. Bata em creme a manteiga com o chocolate e vá misturando pela ordem os outros ingredientes. Despeje em forma redonda (26 cm de diâmetro) untada e enfarinhada. Asse em forno quente por mais ou menos 40 minutos. Desenforme-o ainda quente, fure-o com um garfo e despeje por cima a calda feita com: ½ lata de leite condensado, 2 xícaras (chá) de leite, 5 colheres (sopa) de chocolate em pó solúvel Nestlé e 1 colher (sopa) de manteiga. Misture tudo e leve ao fogo baixo. Mexa. Deixe ferver até o ponto de calda meio grossa e use em seguida. Pronto. Aproveito pra te contar meu maior devaneio, minha maior fantasia, minha folie: comer sem restrição, amar sem moderação, trabalhar só por paixão, nessa ordem. Bon appétit.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
UMA COLHERADA DE GELEIA
Um dia desses, lendo Encore Provence, o livro que encerra a trilogia do inglês Peter Mayle sobre a região da Provence, no sul da França, me deparei com a seguinte frase: “O turista é apenas uma colherada de geleia. Bem-vindo mas não essencial.” Fiquei empacada ali na página vinte, analisando a metáfora. Quanta coisa nessa vida é só uma colherada de geleia! Valha-me Deus, corremos atrás das doces colheradas de geleia quase todo o tempo. Agora estou às voltas com uma pequena reforma em casa: armários de cozinha que aguentem o peso das minhas panelas, plantas frutíferas que suportem viver em vasos, móveis para o jardim e como evitar ali a maldita presença das benditas pererecas saltitantes que tanto me apavoram... O essencial está lá, já é uma belezura, mas quem se contenta? A gente quer mesmo é a geleia sobre a fatia de pão fresco; não basta o pão, essencial e perfeito, vai entender... A gente não quer um carro prático, tem que ser O carro; não sonhamos com um homem bacana, tem que ser O cara; sapatos de salto alto não bastam, tem que ser um Louboutin altíssimo; panela virou sonho de consumo; férias em família não nos satisfazem mais, a Polinésia Francesa é o próximo destino; um bom amigo (que já é uma coisa rara) não apazigua nossa alma, temos que ter O melhor amigo, O parceiro, O cúmplice; não basta ter saúde, tem gente vendendo a alma pro diabo pra ser magro, sexy e jovem forever... A lista é demasiadamente longa e assustadora, melhor parar por aqui. Bicho estranho é gente! É difícil mudar, admito, então faça a Geleia inesquecível de framboesa, lambuze-se sem culpa, afinal não só de puro pão vive o homem. Use 450g de framboesas frescas ou congeladas e 450g de açúcar. Coloque em uma panela e apure em fogo baixo, mexendo de vez em quando até as frutinhas amolecerem e o açúcar dissolver. Quando ferver, deixe mais 6 ou 7 minutos até obter o ponto. Coloque em potes quentes esterilizados e vede. Tem gente que se incomoda com as sementinhas na geleia, nesse caso, passe-a ainda quente pela peneira e pronto. Eu não ligo, até prefiro com. Bicho tem osso, e fruta ou tem semente ou caroço, é assim. Bon appétit.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
AOS NAMORADOS
É fevereiro e no dia 14 comemora-se, em grande parte do mundo, o dia de São Valentim ou São Valentino, um santo devotado à ideia do amor. É o Dia dos Namorados nos EUA, na Itália, na França, no Canadá... Não me prendo muito às datas, mas sou chegada em uma historinha, então lá vai: há dois santos ‘Valentino’. Um foi padre e mártir, viveu no tempo do império romano, durante a perseguição aos cristãos. Contam que o imperador Cláudius II gostava mais dos tumultos da guerra que da paz familiar e defendia a ideia de que os solteiros eram melhores soldados, mais destemidos que os casados nos campos de batalha. O imperador chegou a proibir o casamento para engrossar seus exércitos. É aqui que entra nosso santo valente que continuou a celebrar matrimônios em segredo, até ser descoberto, preso e executado. O outro São Valentino também viveu sob o império romano. Levava uma vida simplória e amava as crianças. Quando Valentino recusou-se a adorar os deuses dos romanos, foi jogado na prisão e as crianças teriam aliviado seu sofrimento, lançando mensagens de amor através da janela da cela. Não estaria aqui a origem dos primeiros ‘cartões do dia dos namorados’? Os cartões que vivem até hoje, cheios de fru-frus, flores e passarinhos nasceram por volta de 1800. Os cartões carregados de imaginação e humor vieram bem depois... A valentia e o amor recheiam as duas histórias, se é tudo verdade, não sei. Mas, cá entre nós, desde quando história de amor tem que ser absolutamente verdadeira? Sei, sei, estamos relativamente longe do tal Dia dos Namorados no Brasil. Quem se importa... Cada dia é um e pode ser o último de alguns. Todo dia é dia bom pra cozinhar. E- deixando os santos no céu- todo dia é dia bom pra tirar a roupa e namorar. “Tudo o que se cozinha pra um amante é sensual, mas mais sensual ainda é quando ambos participam da preparação e aproveitam para ir tirando as roupas com malícia, enquanto descascam cebolas e desfolham alcachofras.” Pra uma ocasião dessas, faça receitas leves, de preparo simples; comidas que não exijam talheres (lamber os dedos é bom e tempera o clima); molhos vermelhos e apimentados coroam a refeição... Uma salada de melancia com queijo Feta, azeitonas pretas e cebolas roxas fatiadas e marinadas em suco de limão e água; bruschettas apimentadas; morangos marinados em água de rosas...
Bon appétit!
Bon appétit!
Assinar:
Postagens (Atom)