Hoje minha filha me ligou pra dizer que tinha feito um frango com whisky de fazer babar qualquer filho de Deus e que a receita, imperdível, já estava na minha página do face. Não posso deixar de compartilhar a iguaria. Anote: 1 garafa de whisky (do bom, claro!), 1 frangão de pelo menos 2kg, sal, pimenta e cheiro verde quanto baste, 350ml de azeite de oliva (também do bom!), 1kg de batatas, ½ kg de nozes picadas (opcional). A astúcia está no preparo. Le Voici: Gratine as batatas. Beba uma dose de whisky. Tempere o frango com cheiro verde, pimenta e azeite. Tome mais duas doses de whisky. Junte as baatatass no frango e leve ao forno. Toma oooooutra dose de uissski. Acompanhe visualmente o pato, quer dizer o vrango, pra num queimá. Mais uma dose de uviske. Deixa ele no vorno umas 04 horas bra ele zi vudê de calor e bebe o viske na gaaaarraaaava memo . Tira o bicho do vorno. Pega o vrango que caiu no jão e limpa na gamisa memo. Bebe mais uma. Desliga a bóóóósta do vogão, garaio!Vai izendiar a casa!!! O voda que queimô, cê nem gossta muito desssta porrra de bato. Pega o que zobrô do viski, liga a tevesisão, deita no zofá e dórmi! Bronto, quero dizer, pronto. Obrigada filha! E como vamos passar um bocado de dias juntas no mês de julho, que tal trocar o whisky por uma boa vodka, a Cîroc, por exemplo? Ou um vinho branco seco, um champagne, a deliciosa cachaça mineira Seu Bias, uma boa cerveja que você gosta tanto... Cozinhe muito, coma e beba com moderação, mas lembre-se que até a moderação tem que ser moderada... Divirta-se e bon appétit!
quarta-feira, 27 de junho de 2012
segunda-feira, 25 de junho de 2012
DAS PÁLPEBRAS DE BODHIDHARMA
Na noite passada, ou melhor, na madrugada passada, fiquei horas (não é modo de dizer, foram horas mesmo!) ao telefone com um amigo igualmente notívago. Conversa ia, conversa vinha, um assunto sendo costurado a outro, feito colcha de retalhos. E foi assim que alinhavamos um tema curioso: o chá. Não estávamos interessados em sua origem salpicada de datas, nem na geografia detalhada da coisa. Tínhamos mesmo era sede de história. Achamos sua lenda e a história de Bodhidharma. Bodhidharma é o patriarca de milhões de zen-budistas e o personagem central de muitas lendas chinesas. Conta-se que Bodhidharma passou nove anos em meditação, diante de uma parede de pedra em uma caverna, no alto da montanha “Ta” (aqui estaria a origem do nome da bebida). Com o intuito de se resguardar de cair em sono profundo e manter-se alerta durante a meditação, o monge cortou as próprias pálpebras e onde elas caíram, brotaram arbustos de chá. Desde então, o chá tornou-se a bebida sagrada dos monges e de todos os povos do Oriente. O monge acreditava que o que existe de mais sublime, “é a clareza e brilho inatos da própria consciência”. É coisa pra se pensar. Acredita-se que enquanto o chá é cuidadosamente preparado e longamente saboreado, a consciência se expande e o tão desejado equilíbrio entre corpo e mente toma conta do nosso ser. É nesse momento que sentimentos inferiores tais como a raiva, a insegurança, a inveja, os dissabores, os medos e outras mazelas se dissolvem. O chá funciona como instante de meditação e o melhor é que ninguém mais precisa cortar as pálpebras pra sentir-se alerta, pleno e feliz! Bodhidharma já o fez por nós. E quer saber o que complementaria os benefícios do chá? Uma porçãozinha de biscoitos frescos (isso é coisa minha e não do monge). Os biscoitos Langues de Chat (Línguas de Gato) são perfeitos pra ocasião. Use 60gr de manteiga em temperatura ambiente, 60gr de açúcar, 60gr de farinha, 2 claras, gotas de baunilha. Bata a manteiga em creme e depois junte o açúcar, as gotas e a farinha. Incorpore as claras. Coloque a massa em um saco de confeiteiro e distribua pequenos bastões de massa com cerca de 5cm sobre um tabuleiro untado e enfarinhado. Leve ao forno pré-aquecido a 200°C. Asse por mais ou menos 10 minutos ou até dourarem. Retire-os do tabuleiro ainda quentes. Sirva-os com bastante chá e aquiete-se... As coisas estão onde devem estar. Bon appétit.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
O OVO POCHÊ & A FAROFA
Estou às voltas com o projeto de uma estante nova só pra abrigar meus livros de cozinha. São livros lindos, recheados de informações históricas sobra a comida e nossa relação com ela; cada um deles tem um tempero diferente, um colorido diferente, uma textura única; cada um nos remete a um mundo novo de amores e sabores diversos; são milhares de receitas ora explícitas, ora camufladas, em contos, poesias, romances, pedaços de papel... É de fazer babar qualquer um que tenha afinidades, segundas intenções e outras coisas boas com a comida. Foi no meio de uma prévia arrumação que achei isso: “O nosso amor é tão bom/ A comida é que nunca combina/ Eu sou do carboidrato/ Ela da proteína/ Quando encho o prato/ Ela termina/ Ou: quando ela faz um ovo pochê/ Eu jogo farofa por cima/ Eu sou do carboidrato/ Ela da proteína/ Abro a geladeira/ Ela recrimina/ Nas questões de casal/ Não se fala mal da rotina/ Eu sou do carboidrato/ Ela da proteína/ Quando eu como bolo/ Ela gelatina/ Ou quando eu tchum no macarrão/ É quando ela tchan no yogurt/ Ela é da proteína/ Eu sou do carboidrato/ A sua saúde/ Minha ruína...” (Da Série Amores Impossíveis: O Gordo e a Nutricionista/ Mariana Verissimo). Taí um amor difícil, mas que pode dar certo. Quem garante que ovo pochê não combina com farofa? Sábado passado fui convidada pra uma feijoada no almoço na casa da Rita e não podia (nem queria) recusar o convite amigável pra um churrasco à noite, na casa de outra Rita. Não hesitei, fui, alegremente, comer com as Ritas. Sem arrependimentos ou culpas, pois desfrutei de uma feijoada deliciosamente leve (levíssima, acredite!) e, apesar de o churrasco estar soberbo, foi a farofa amanteigada de cebola que me encantou. Passei a noite especulando sobre a origem da tal farinha: É farinha de mandioca flocada, disseram-me. Que ela viera de Rondonópolis e que podia ser encontrada em qualquer mercado de lá. Domingo já estávamos na suposta cidade natal da farinha de mandioca flocada. Mas domingo o povo descansa, o comércio também. Achamos um único mercado funcionando e nada da farinha flocada Recreio! Essa merece outra chance. Vou atrás dela coûte que coûte. Vou fazer ovo pochê, farofa flocada de cebola e convidar uns amigos. Quem achar que não combina, não precisa aparecer. Bon appétit.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
"MELHOR DO QUE ARDER"
“Melhor do que arder” é um conto de Clarice Lispector, lá no finalzinho de seu livro A Via Crucis do Corpo. O livro todo é deliciosamente desconcertante e tem o corpo, ora bênção, ora maldição, como o grande personagem das histórias ousadas dessa obra ardente. Trata-se da história de Clara,ou melhor, Madre Clara, só para satisfazer a família. Madre Clara cumpria à risca cada uma de suas tantas obrigações. Ela sabia, no fundo, que não suportaria gastar toda sua vida só entre mulheres. Confidenciou-se. Foi aconselhada a mortificar o corpo. Fez o que lhe mandou a amiga, dormiu sobre a laje fria, quase morreu. Continuava ardendo. Confessou-se ao padre. Chorava, rezava; rezava, tentava; não aguentava mais, ardia a coitada. “É melhor não casar. Mas é melhor casar do quer arder”, foram as palavras do padre. Deixou o convento, mas ainda rezava: agora queria um homem pra casar. Queria parar de arder ou arder sem parar com um homem bom, pois era moça boa e direita. Achou Antônio, um belo português rico, dono de botequim. Antônio se engraçou pela moça. Pediu-a em casamento. A resposta foi sim. Casaram-se na igreja do padre que lhe dissera que “era melhor casar do que arder”. Passaram a lua de mel em Lisboa. Clara voltou satisfeita, feliz da vida: já tinha um bolinho no forno. Era o primeiro dos quatro filhos que teria com Antônio. Deve ter feito o Bolo dos Anjos pra agradecer. Se não, façamos por ela, porque arder não é privilégio dela. Providencie 6 colheres (sopa) de manteiga, ½ xícara de gordura vegetal, 1 ½ colher (chá) de essência de baunilha, 1 xícara de creme de leite fresco, 2 ¼ xícaras de farinha de trigo, 1 ½ xícara de açúcar, 1 colher (chá) de sal, 1 de bicarbonato de sódio e 1 de fermento, 1/2 xícara de coco ralado, 4 claras em neve. Bata os quatro primeiros ingredientes até obter um creme. Junte os ingredientes secos e bata vigorosamente até a mistura ficar homogênea. Acrescente as claras e continue batendo por mais 2 minutos. Asse em formo moderado, previamente aquecido, por aproximadamente 30 minutos. E nesta semana dos Namorados não se faça de rogada, negacear pra quê?! Melhor namorar do que arder. O bolo é pra depois. Bon appétit!
AGRADECIMENTO É FERMENTO
Jaqueline é uma amiga da Marcia Frazão e a Marcia é minha amiga, só que ela não sabe, mas não faz mal, vamos ao que importa... Jaqueline costumava dizer pra Marcia quando a via às voltas com uma receita de bolo: “Bolo não cresce se você não agradece.” E a Marcia, acostumada com as estranhezas daquela senhora francesa- que também dizia que “tempero puro é como amizade, a gente tem de conhecer aos poucos”, mas isso é outra história- continuava a bater a massa, indiferente a mais uma esquisitice de Jaqueline, já que seus bolos cresciam satisfatoriamente e ela não tinha lá muita coisa pra agradecer. Jaqueline era mulher madura, doce, mas tivera uma vida pra lá de amarga e a Marcia achava até engraçado que, apesar de tantos dissabores vividos pela amiga, ela ainda agradecia. Era bem verdade que os bolos de Jaqueline eram enormes, macios, deliciosamente dourados... Mas a amiga se foi definitivamente (ou não, quem sabe) e isso era, com certeza, mais uma coisa que a Marcia não ia agradecer. Danem-se os agradecimentos. Onde já se viu agradecer perda, dor e sofrimento?... E lá se foram algumas semanas até que a Marcia, por pura saudade, resolveu fazer o bolo preferido de sua amiga e logo que começou a bater a massa, se viu tomada por sentimentos que lhe retiravam do coração “todo o amargor que nele condensava como um tumor”. Agora havia espaço para as lembranças boas, e entre lágrimas e colheres de fermento, a Marcia agradeceu pela dádiva de ter verdadeiramente convivido com Jaqueline. Agradeceu por tudo, tudinho. O bolo da minha amiga cresceu absurdamente e ela nunca mais fez bolo sem agradecer. Eu nunca, nunca mais vou fazer bolo sem agradecer. Não sei se caberia aqui uma única receita de bolo. No livro A cozinha mágica de Marcia Frazão, tem um montão delas, literalmente carregadas de magia. São receitas transformadoras que serão fonte de alegria pra quem provar. Se não tiver nenhuma que lhe apeteça (eu duvido disso), faça seu bolo preferido, coloque a quantidade habitual de fermento, mas dessa vez vá mexendo e agradecendo, agradecendo e mexendo... Parece doidera, mas quem sou eu pra duvidar? Bon appétit.
Assinar:
Postagens (Atom)