quinta-feira, 30 de julho de 2009

RESTAM ALGUMAS JABUTICABAS...



“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas: as primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói as sementes... já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que apesar da idade cronológica, são imaturas... meu tempo tornou-se escasso... quero a essência, minha alma tem pressa... sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente mais humana e racional. Gente que saiba rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos... gente que não foge de sua mortalidade... quero caminhar perto de pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente, sem fraudes... só o essencial faz a vida valer a pena...” Faço das palavras de Rubem Alves as minhas. Fazer acareação de desafetos, nunca mais! Nada melhor que deixar as tranqueiras pra trás.
E começa a temporada da nossa pequena notável, essa bolinha negra e brilhante de sabor inconfundível que encanta todo mundo, da criança ao velhinho desdentado. Eita frutinha generosa! Sua polpa suculenta, mole e esbranquiçada é rica em ferro, cálcio e vitaminas. A jabuticaba ou iapoti’kaba (fruta em botão) como os índios tupis a chamavam pode ser consumida ao natural ou usada para fazer doces, geléias, licores e até pratos mais sofisticados. Tem chef francês por aí endoidando com a frutinha, outros já se renderam a ela e alguns pratos da clássica cozinha francesa ganharam ares tropicais só para o prazer das nossas papilas (e do nosso bolso!). Quer um exemplo? O Canard aux pruneaux (Pato com ameixas) virou Pato com jabuticabas, como se não bastasse, o pato foi vencido pelo frango, mais plebeu e nem por isso menos saboroso. O resultado ficou pas mal, como diriam os franceses. Eu acho que ficou mesmo é sensacional!
Providencie 1 kg de peito de frango cortado em filezinhos, 1 colher pequena de pasta de alho e cebola, 1 fio de óleo, sal e algumas gotas de vinagre. Para o molho use uma xícara de chá de jabuticabas, a mesma medida de água, 1 pau de canela, 1 colher de sopa de vinagre de maçã, 1 colher de sopa de açúcar, 1 xícara de chá de vinho branco.Tempere os filezinhos com a pasta de alho e cebola, sal e vinagre e grelhe em uma chapa ou frigideira. Bata a jabuticaba com a água no liquidificador, coe e passe para uma panela. Junte todos os ingredientes, deixe ferver e adicione o vinho. Apure em fogo brando até adquirir consistência de calda. Regue os pedaços e sirva decorado com jabuticabas inteiras.
Ah, e aproveite sem moderação as jabuticabas que lhe restam! Bon appétit!

COMI MEU AMIGUINHO



Eu tive um “tuti”. Ele crescia todo dia um pouquinho, mas continuava sendo meu “tuti”. Era meu bichinho de estimação, não era um gatinho nem um cão, era um franguinho mesmo (e daí?). Um daqueles que os pais compravam na feira, traziam pra casa, arrumavam um cercadinho pra ele não fugir, entupiam o pobrezinho de comida durante semanas a fio e ele crescia, engordava, a penugem fina se transformava em lindas penas coloridas e ele até ficava amigo da criançada. Não podia imaginar o coitado, o que o destino lhe reservava... Muito menos eu! Fui enganada, traída, ferida no coração quando mal saía das fraldas. Ainda me lembro, eu ali de pijama, paradinha no quintal, as mãozinhas recheadas de quirela para cumprir minha obrigação matinal, a de alimentar meu melhor amigo que eu mal sabia, viraria um dia minha própria refeição... Não precisei fazer terapia para superar essa perda, mas é engraçado, cá estou eu quatro décadas na frente, ciscando no passado, cacarejando a minha dor e tentando achar um jeito de homenagear meu “tuti” e quem sabe, ser perdoada pela distinta família Galinácea, pois já aceitei, faz parte dessa incrível cadeia alimentar. E o que chamamos de vida, segue naturalmente seu curso...
Esta receita pode até ter um nome esquisito, mas é muito gostosa e tem tudo a ver com quem ainda não aprendeu a (se) perdoar. Quer tentar? (estou falando de cozinhar, o perdão você se vira para treinar sozinho!)
Então vamos a ela, sem traumas. Poitrines de poulet à la diable ou Peito de frango à moda do diabo. Providencie 2 peitos inteiros de frango(sem pele, cortados em duas partes e desossados), 3 colheres de sopa de manteiga derretida, 2 colheres de sopa fartas de mostarda de Dijon (usar condimento à base de mostarda seria um sacrilégio até com o capeta), 1 colher de sopa de água, 20gr de farinha de rosca, sal e pimenta-do-reino moída na hora. Aqueça o forno a 200°C. Coloque o frango em uma forma refratária, tempere com o sal e a pimenta, regue com um pouco da manteiga e leve ao forno por 5 minutos de cada lado. Reserve. Misture a mostarda com a água, lambuze o frango e com a ajuda de uma peneirinha, cubra os pedaços com a farinha de rosca. Derrame o resto da manteiga sobre os pedaços. Coloque novamente no forno por mais alguns minutos até que a superfície doure bem. Sirva acompanhado de cebolas roxas cortadas em rodelas grossas(aproveite pra chorar bastante!), grelhadas na manteiga com sal e salpicadas com salsa bem picadinha. Esta receita serve quatro pessoas, ou seriam... penitentes?
Bon appétit!

AS COXAS DO MEU PRÍNCIPE


"Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.Então, a rã pulou para o seu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: - Nem fo...den...do!"
(Conto de fadas para mulheres do séc. 21 / Luís Fernando Veríssimo)
Se além de beijar uma rã asquerosa para ter um príncipe em sua vida, você ainda tiver que engolir alguns sapos para não contrariar seu nobre parceiro, melhor cortar o mal pela raiz, digo, pelas pernas! Guarde com carinho esta receitinha. Você saberá quando lançar mão dela. E aí então, cara princesa, uma doce sensação de liberdade, de confiança, de alegria rechearão seus dias e você descobrirá quão prazeroso é tomar as rédeas de sua própria vida. E viva feliz (com você mesma) para sempre! Fim. (ou seria... começo?)
As coxas de rã são tão apreciadas pelos franceses, quanto os escargots (não faça essa cara de nojo, a gente acaba se acostumando). Existem muitas maneiras de prepará-las. Escolhi uma com ingredientes simples que realçam o sabor delicado do bichinho. Vamos então ao preparo das Cuisses de grenouille sautées à la lyonnaise (coxas de rã fritas à moda de Lyon). Providencie 40 coxinhas de rã, um pouco de farinha de trigo peneirada, 200 gramas de cebola, 50 gramas de manteiga, sal quanto baste, pimenta do reino moída na hora, salsinha bem picada. Passe as coxas de rã na farinha (ou faça como eu, peça alguém pra fazer isto se manipulá-las tira seu apetite), elimine o excesso sacudindo-as um pouquinho e faça-as “saltar” na manteiga quente (ô sina!) junto com as cebolas laminadas, mexendo de vez em quando até ficarem douradas. Acrescente o sal, a pimenta e por último, a salsinha picada. Sirva bem quente com gotas de limão e algumas folhas verdes suavemente temperadas para acompanhar. Esta receita serve de 4 a 6 pessoas, quero dizer, princesas pra lá de espertas! Croac... e o príncipe deu seu último suspiro...
Bon appétit!

VOLCANO?!



“A fantástica fábrica de chocolate suíço Barry Callebaut anunciou ter produzido uma versão do doce que não derrete e é realmente light. A boa notícia para os chocólatras preocupados em manter a forma foi veiculada pelo jornal britâncio The Observer. De acordo com a publicação, o chocolate tem 90% menos calorias que a média e resiste a temperaturas superiores a 55ºC, enquanto a maioria dos chocolates começa a derreter com temperaturas de 30ºC. O chocolate é ultramagro, praticamente puro cacau, e foi batizado de Volcano. "É chamado de Volcano porque pode ser comido quando está quente e é aerado e cheio de bolhas, como uma pedra vulcânica", explica o porta-voz da fábrica. O chocolate, que poderá ser consumido em dias quentes sem derreter no bolso, deve chegar às lojas em cerca de dois anos. Nos corredores da fábrica, o Volcano ganhou o apelido de Wonder bar.”
Socorro!!! Que graça terá um chocolate sem gordura, sem açúcar que não derrete e nem lambuza a gente? Quanto tempo vamos ter que mantê-lo no calor da boca pra conseguir um naco de prazer? Que chocólatra de verdade guarda chocolate no bolso por mais de alguns minutos? Não estou menosprezando as virtudes do cacau, mas vamos combinar, não são só as propriedades benéficas do fruto que buscamos em uma barra de chocolate. Queremos os prazeres sutis, quase indescritíveis, que nos fazem sucumbir à tentação. Queremos mesmo é pecar com ele! Que ele se misture aos fluidos salivares e nos arranque hummms do fundo da alma... Você conhece algum alimento verdadeiramente ligth que lhe arranque suspiros de prazer? Acredite, não vai ser essa pedra vulcânica aerada apelidada de barra maravilhosa que vai lhe dar um momento de deleite. Ainda nos restam dois anos antes dessa “coisa” invadir nossas vidas. Aproveitemos antes que a mídia pegue pesado e coloque o nosso velho, bom e doce chocolate na lista das drogas ilícitas (estou exagerando,sei) e aí, meus amigos, a única coisa que vai melar, é a nossa relação com ele!
Depois desse desabafo, o que tenho em mente é uma receita despretensiosa de creme de chocolate, daquelas que aprendemos com as avós, sabe? Em uma panela, derreta 250gr de chocolate meio-amargo com um pouco de leite. Retire e acrescente 3 colheres de sopa de açúcar e 2 de farinha de trigo peneirada. Cozinhe em fogo brando juntando aos poucos o restante do leite (até completar 1 litro) mexendo sem parar até que o creme engrosse. Retire e junte 1 colherinha de manteiga. Deixe esfriar em uma tigela bonita antes de colocar para gelar e depois, acabe(-se) com ele! E esse tal de Volcano que se exploda!
Bon appétit!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

MULHER-FIGO



Vinte e sete de julho. Hoje é aniversário de uma amiga querida, anfitriã cinco estrelas e uma cozinheira de mão(s)-cheia(s) que mora longe de mim (na verdade sou eu que moro longe de todo mundo). Foi ela mesma que me lembrou já no fim da tarde. Felizmente ela já passou da fase de fazer beicinho e eu da idade de ter vergonha por conta desses descuidos. Viramos a página e encerramos nosso papo virtual com o carinho de sempre.
Você certamente já foi apresentado, através da mídia, à mulher-melancia e à mulher-jaca conhecidas só e somente só pelos (des)avantajados quadris; à mulher-rodízio, aquela que tem carne pra todo mundo, como se autobatizou a famosa Preta Gil; e à mulher-banana, “como o próprio nome diz, inocente, ingênua e tolinha... que vai morrer sem dinheiro e só é rica em potássio... ela acredita que ser elegante vale mais do que ser ordinária... e ainda sonha com a valorização de um comportamento social menos nanico”, adoravelmente descascada pela Martha Medeiros, em uma de suas deliciosas crônicas; e tem ainda a mulher-moranguinho (sei lá quem é esta) e a mulher-jabuticaba, aquela que... bom, deixa pra lá. O que estou querendo com toda essa feira de mulheres, é dizer que se minha amiganiversariante tivesse que ser rotulada, certamente caberia a ela uma bela etiqueta de mulher-figo. Considerada uma árvore sagrada, de crescimento amplo e ramos frágeis, a figueira é símbolo de honra, seu comportamento é cosmopolita e sua capacidade de adaptação climática é impressionante. Flores miudinhas se desenvolvem no interior da chamada fruta do figo, quando ainda verde. O figo é uma fruta energética, doce, delicada e tem muita, muita fibra! Assim é minha amiga. Porém, lamento informar que somos mesmo é mulher-uva... Nascemos redondinhas, lisinhas, firmes e brilhantes, podemos até virar vinho (ou vinagre), mas acabamos mesmo é em caixinhas, feito uva-passa.
Estamos no inverno, a vontade de comer frutas diminui, aí temos que achar um jeitinho diferente para não deixá-las fora da mesa. Escolhi uma receita fácil e deliciosa que vai coroar comme il faut sua refeição. Lave bem 12 figos maduros e corte-os em cruz sem separar as partes. Coloque um raminho de alecrim em cada fruta e disponha-as em um refratário. Regue com mel. Asse em forno quente por 8 minutos (ou 1 minuto no micro-ondas). Derreta (em banho-maria) 120 gramas de chocolate amargo (70% cacau). Sirva os figos sobre uma espessa camada de chocolate e... Bon appétit!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O GOSTO DA VIDA



De acordo com pesquisadores e cientistas, somos capazes de ouvir formas e até sentir o gosto dos sons. Esta sinestesia influencia nossa percepção e nos ajuda a experimentar uma mistura de sensações. Acredita-se que menos de 1% da população é capaz de tal “façanha divina”( é assim que vejo tudo isso) que pode se dar de diferentes maneiras: algumas pessoas vêem os sons, certos sons invocam cores particulares. Outros experimentam cores quando lêem palavras escritas em texto simples e preto. E mais: de acordo com o professor de psicologia experimental da Universidade Oxford, Charles Spence, todos somos sinestésicos até um ponto. Sinestesia (junção de sensação) é a relação de planos sensoriais diferentes, como gosto & cheiro, ou visão & olfato. O termo é usado para descrever uma figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.
Muita verdade há nisto. Não há como negar. Inúmeras vezes lançamos mão da mistura de sensações para fazer o nosso sentir chegar ao outro (eu mesma sou dona de fazer isto nos meus textos); essa mistura está por toda parte, ela nos envolve a todos, de maneiras diferentes, mas está ali, disfarçada para uns, mais explícita para outros.
"Os carinhos (tato) de Godofredo não tinham mais o gosto (paladar) dos primeiros tempos."
"O brilho macio do cetim." (visão & tato)
"O doce afago materno." (paladar & tato)
"Verde azedo." (visão & paladar)
"Aroma gritante." (olfato & audição)
"O delicioso aroma do amor" (paladar & olfato)
"Beleza áspera" (visão & tato)
Já sentimos saudades amargas, já ouvimos uma melodia azul ou uma voz áspera, já sentimos o cheiro doce de um perfume... Por que não poderíamos provar o gosto de uma música? Degustar um concerto inteirinho como se fosse uma longa e deliciosa refeição, com notas suaves de entrada, seguido de sons mais consistentes como prato principal e coroado com notas doces e florais para a sobremesa.
Até consigo imaginar, pois certamente não estarei mais por essas bandas, quão prazeroso será quando os homens finalmente aprenderem a apreciar com todo o seu sentir, o som, a cor, o cheiro e o sabor da vida!
Hoje não tem receita de comidinha por aqui. Acho que um jejum é mais apropriado. Dê uma breve trégua para esse corpo cansado de tanto digerir. Vá ouvir um pouco de boa música, feche os olhos, deixe que ela lhe embale, experimente os sons, saboreie cada nota e sobretudo não deixe de me escrever se suas papilas vibrarem com ela. Degustarei com prazer suas palavras.
Bon appétit.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

UNIDOS PARA SEMPRE... AMÉM.



Outro dia, fuçando vídeos na net, tive uma agradável surpresa com um daqueles rapidinhos, tipo campanha publicitária, realizado por alunos de artes visuais da Universidade de Londrina. O vídeo me chamou a atenção pela banalidade do tema: arroz com feijão. O filminho tem como protagonistas dois meninos, de origens distintas, sentados diante de um prato de arroz com feijão colocado sobre uma mesinha coberta com uma toalha xadrez. Nada mais comum não fossem o batuquezinho frenético como fundo musical e uma única colher usada por um dos garotos para misturar os dois alimentos no prato, enquanto se lê: “Não seria tão mais gostoso se pudéssemos fazer assim...” Segundos depois, arroz e feijão devidamente misturados, uma farta colherada da “dupla” é oferecida ao outro menino, seguida por um sorriso amigo, um olhar fraterno e um longo abraço. E o que se lê neste momento é: “Não tente separar a melhor mistura. Você faz parte disso”.
Confesso que revi a cena diversas vezes, só para deixar gravado, que você e eu podemos até parecer diferentes, mas fazemos parte da mesma trama, somos como alimentos distintos recheando o mesmo prato, somos mesmo é farinha do mesmo saco. E quem sabe juntos e bem misturados é que conseguiremos realçar o sabor da vida.
Aprecio o gosto que resulta desse casamento, um gosto singular e marcante que encanta nosso povo (e quem por aqui acampa) há séculos. Quem melhor que o Baião de Dois, saído das humildes cozinhas do sertão nordestino, representaria tão bem essa união que mais parece a dualidade do mundo expressa no preto & branco, quente & frio, luz & sombra,
macho & fêmea e por aí vai... Arroz & Feijão é a nossa identidade, é mistura autêntica, forte e cheia de graça. Existem muitas maneiras de preparar este prato, então não se prenda a detalhes ou vai acabar perdendo o apetite. Use esta receita como base para criar o seu baião e divirta-se com suas panelas!
Providencie 500gr de feijão verde (ou mulatinho ou fradinho), 1 xícara de coentro picadinho (ou salsinha), 2 xícaras de chá de arroz lavado e escorrido, 1 pimentão vermelho picado, 1 cebola grande picada, 5 colheres de sopa de manteiga de garrafa (ou óleo), 200gr de toucinho defumado, sal quanto baste. Lave o feijão e coloque-o em uma panela de ferro de preferência (se usar outro feijão que não o verde, use panela de pressão). Corte o toucinho em cubos pequenos, lave-os, escorra-os e junte-os ao feijão. Adicione 2 litros de água e cozinhe por aproximadamente 35 minutos. Reserve. Em outra panela, aqueça a manteiga e refogue a cebola e o pimentão. Incorpore o arroz e refogue por mais alguns minutos. Junte o feijão reservado (descarte o toucinho), mais 3 xícaras de chá do caldo de seu cozimento e o sal. Misture, deixe levantar fervura e cozinhe até o arroz ficar macio. Junte o coentro, mexa com cuidado e sirva com banana-da-terra cozida e picada. Delicie-se e... Bon appétit!

domingo, 19 de julho de 2009

DOMINGANDO...



É domingo. Tem muita gente morgando. Com razão! Domingo é dia de morgar. De acordar e ficar grudado na cama até o corpo reclamar; a gente até obedece, levanta, caminha alguns poucos metros e pluft, lá está você jogadinho no sofá da sala tentando terminar de ler aquele livro que agora mais lhe parece pesado que interessante. Um café forte pra despertar para o mundo bombando lá fora, não seria má idéia. Você finalmente decide ver a luz do sol e curtir seu cafezinho lá no jardim (pode ser uma varanda e até uma sacadinha, serve) no aconchego preguiçoso de uma rede, claro! Domingo é domingo! O corpo sabe que é domingo! Sabe que é dia de “comer, rezar, amar” (você já leu esse livro?) não necessariamente nessa ordem. “Domingar” é isso! É dar uma chance para seu espírito falar, é almoçar lá pelas quatro da tarde, é praticar o amor, seja ele qual for (até dar banho ou brincar com seu animal de estimação vale!). Domingo é dia de ficar on-line com você; de usar aquela camiseta larga, velha e horrorosa que você adora; de cuidar das plantinhas; de conversar e até cantar sozinho; domingo é dia de mudar sua frase no MSN, de fuçar no Google; de andar descalço; dia de tomar sorvete e/ou comer pipoca assistindo àquele DVD emprestado que você nem se lembra mais quem lhe emprestou; é dia de arrumar o armário, de pregar botão... Tem gente que odeia domingo, tem gente que ama domingo. Domingo pra mim é só um dom, um presente, como quer que ele se (a)presente. Aprenda a domingar sem dor na consciência! Morgar não é imoral e tem lá seus encantos, mas pelamordedeus, só não vale ligar a TV na hora do tal Domingão! Se na sua lista de atividades domingueiras, você incluiu namorar (no sentido, digamos, mais profundo da palavra), aqui vai minha contribuição: uma receitinha de massa pra depois do amasso, porque ninguém é de ferro e amanhã já é segunda. Graças a Deus!
Coloque em uma saladeira grande, 80 gramas de manteiga com sal em cubos, uma caixinha de creme de leite, uma gema de ovo crua passada na peneirinha, uma xícara de queijo parmesão ralado na hora (ou outro de sua preferência; com emmenthal fica uma delícia), uma xícara de presunto cortado em cubinhos miúdos. Não é preciso misturar os ingredientes. Reserve. Cozinhe al dente 500 gramas de massa tipo penne grano duro em uma panela grande com água fervente e um punhadinho de sal grosso. Escorra bem e jogue imediatamente sobre os ingredientes. Abafe por alguns segundos e misture bem. Acerte o sal e rale um pouquinho de gengibre se quiser. Sirva em seguida sobre um leito de folhas verdes suavemente temperadas. Troque o presunto por frango desfiado ou pedacinhos de peito de peru defumado. Varie a massa em outra ocasião. No próximo domingo, quem sabe... Afinal, comer, rezar & amar, é preciso!
Essa receitinha não tem nome; dei a ela um apelido abusado que... “prefiro não comentar.” Aceito sugestões. Bon appétit!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

SUSPIRO... LOGO, EXISTO!



Todo mundo tem um amigo “cretino” com nome de anjo. O meu, às vezes, some por alguns dias e reaparece assim do nada, cheio de novidades e aí a gente passa tudo a limpo e a nossa amizade se renova no prazer do reencontro. Desconfio que os laços se estreitem na medida em que o coração aperta e a língua destrava. O que não falta pra nós é assunto, um a um vai brotando naturalmente junto com as “abobrinhas” dessa vida insana. No nosso último encontro falamos mais de dores e de perdas, porém um delicioso cappuccino abrandou o assunto. Filtramos tudo e entendemos que tem coisa que não dá mesmo pra entender, aí a gente simplesmente engole. Naquela tarde falamos de como as pessoas não percebem a grandeza da vida nos detalhes miúdos e ele me saiu com uma frase mais ou menos assim: “Respirar nos mantém vivos e suspirar é ter a consciência disto.” Verdade! Suspirar acalma a mente, alivia o corpo. Mas cá pra nós, você pensou a mesma coisa que eu? O suspiro também adoça a boca e enche a gente de prazer! Não deu outra, lembrei de uma receita originária da Nova-Zelândia (ou da Austrália, mas essa briga não é nossa), elegante e deliciosa, criada para homenagear a bailarina russa Anna Pavlova quando em visita a estes países em 1926. A base desta delícia é um merengue especial que apelidamos de suspiro, acho até mais simpático pra esse doce tão... lúdico. A pavlova é uma sobremesa apaixonante, de beleza ímpar, daquelas que fazem a gente comer antes com os olhos, fantasiar sobre seu sabor e imaginar quão prazeroso será deitar-lhe uma mordida gulosa... Mas nossa rainha é sensível e prepará-la requer sobretudo delicadeza e paciência (coisa que me falta de vez em quando). Quer tentar? Providencie 4 claras em temperatura ambiente, 1 pitada de sal, 250gr de açúcar refinado, 1 colh. sopa de Maizena, 1 colh. chá de vinagre de vinho branco, 300ml de creme de leite fresco, polpa de maracujá, pedaços de manga, banana, kiwi, morango... Preaqueça o forno a 180°. Forre uma forma com papel manteiga e desenhe um círculo de 20cm. Bata as claras com o sal em ponto de suspiro, junte o açúcar aos poucos sem parar de bater até ficar firme e brilhante. Desligue. Acrescente a farinha e o vinagre delicadamente. Coloque sobre o desenho, afunde um pouco a parte de cima, alise os lados deixando as bordas mais altas. Leve ao forno e reduza a temperatura para 150°. Asse durante 1 hora. Desligue e deixe o “suspirão” dentro até esfriar completamente. Coloque-o sobre um prato e preencha o meio com o creme batido em ponto de chantilly. Decore com as frutas e derrame a polpa de maracujá usando uma colher. Se sua pavlova não ficar perfeita, relaxe... afinal, a perfeição não é, nem nunca será deste mundo.
Ah, esqueci de dizer que meu “amigo-anjo” não tem asas, mas é controlador de voo. Pudera, só tem amiga “avião”!
Bon appétit!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

I LOVE JERRY MOON


Talvez você também seja fã dele, só não esteja associando o nome à “pessoa”. Segundo uma amiga recém-chegada de férias das profundezas do Rio Grande do Norte, a trajetória do sedutor Jerry Moon, contada por um guia turístico deste paradisíaco pedaço de chão brasileiro, é folclórica. Particularmente, acho que ela tem lá uma certa lógica e, sem dúvida, a graça típica deste povo criativo e bem-humorado. E eu que estou sempre correndo atrás de uma historinha como (ins)piração para escrever, pensei: essa dá gosto compartilhar!Parece que tudo se deve à influência americana naquela região; a alguns gringos militares que adoravam uma festinha, de tempos em tempos, para espantar o rigor da disciplina imposta pela farda. Um em especial- Jerry- cheio de energia e criatividade costumava organizar em plena lua-cheia, uma festança meio às escondidas, em lugares tão inusitados que nosso herói festeiro era obrigado a sinalizar o caminho com o que por ali havia em abundância: abóboras. Ele escolhia as maiores, talhava-lhes olhos e bocas enormes, de onde surgia a luz amarelada da vela acesa, colocada no interior de cada uma delas. Nascia então, com a esperteza de Jerry sob a luz da moon (lua em inglês) e a simplicidade do povo local que uniu, oralmente, os dois nomes, o apelido brejeiro da nossa popular abóbora ou moranga: o jerimum.Não posso atestar a veracidade do fato que acabo de narrar e tampouco isso me tira o sono (muito menos o apetite), mas que a história é original e divertida, não dá pra negar.Prima da melancia e do melão, a abóbora é um verdadeiro coquetel de fibras para o organismo. Sua polpa saborosa e rica em nutrientes pode ser consumida em pratos doces ou salgados. Ela vira estrela em saladas, cozidos, refogados, sopas e arranca longos hummms quando servida como pudim. Nosso jerimum combina com cebolas, alho, pimenta, noz-moscada, canela e gengibre. Difícil é errar com ele!Faça o Tartare de jerimum, convide alguns amigos e deixe que a lua se encarregue do resto...Providencie 200gr de jerimum em cubos, 1 cebola média fatiada, 2 colh. sopa de uva passa sem caroço, 2 colh. sopa de gengibre, 1 xícara de chá de vinagre de arroz, 2 colh. sopa de açúcar mascavo, quanto baste de azeite de oliva, 6 colh. sopa de aceto balsâmico, 2 colh. sopa de shoyu, 2 colh. sopa de mel, sementes de jerimum, pimenta do reino branca moída e sal. Em uma panela prepare um melaço com o aceto, o shoyu e o mel. Reduza até ficar cremoso. Reserve. Em outra panela junte o vinagre, o açúcar e aqueça. Acrescente o jerimum, as uvas e cozinhe por 3 minutos. Retire do fogo, junte o gengibre e reserve. Em seguida, junte 2 colh. de azeite de oliva e doure a cebola. Junte-a ao jerimum, tempere com o sal, a pimenta e mais azeite se quiser. Deixe descansar por, pelo menos, duas horas antes de regar com o melaço e enfeitar com um punhadinho de sementes. Bon appétit!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

REFAZENDO O MUNDO


Vinte e um de junho. É o começo de mais um verão europeu. É a Festa da Música abrindo as portas para esta estação na França. Todos os acordes do mundo vibram nas ruas de Paris. É música de toda cor pra todo gosto. É sinal de dias mais longos, de mais tempo fora de casa, de restaurantes lotados, de bares lotadíssimos, de mesinhas nas calçadas. É chegada a hora do rosé com aroma de frutas frescas, delicado e geladinho, perfumar hálitos de bocas que não se calam, senão para devorar enormes saladas, destinadas aos apetites vorazes. A capital francesa é isso e mais outro tanto, muito mais!São, no entanto, os petits cafés que traçam o perfil desta cidade tão sedutora. Não há no mundo outro lugar com tantos cafés e tanta diversidade. O grande charme desses bares está nas fachadas de vidro que nos permitem, ao mesmo tempo, aproveitar o aconchego do local e observar a rua no va-et-vient incansável de parisienses apressados e turistas deslumbrados... Tudo começou com a chegada da bebida escura, quente e perfumada, na metade do século XVII. Os grãos chegaram mesmo para transformar os hábitos locais. Dois visionários, Grégoire d’Alep e Procópio dei Corelli, entenderam logo que podiam tirar proveito da bebida tão prestigiada e transformaram tabernas já existentes, em salões mais sofisticados para acolher os mais ricos e os intelectuais. Surge então, Le Procope, o primeiro café literário de Paris, no bairro Saint-Germain. É também neste bairro nobre que estão o Café de Flore e o Deux Magots, fundados no final do século XIX, célebres como lugares de encontro, de debates, de confrontos políticos, de movimentos literários (J.P. Sartre era um frequentador assíduo) e de uma juventude exaltada, ansiosa, sedenta para “refazer o mundo”. Acho que pouca coisa mudou de lá pra cá, continuamos “refazendo o mundo” diante de uma xícara de café, de chá ou uma taça de vinho. Mas para quem é de poucas palavras e não tem a menor pretensão de mudar o rumo da história, sentar-se e ver as horas desfilarem já é um deleite, observar o formigueiro humano é, sem sombra de dúvida, enriquecedor. É disso que sinto saudades quando estou longe de Paris e sempre que descubro um jeito novo de saborear um café, penso em como seria tomá-lo ali, olhando o frenesi dos passantes...Foi uma amiga que me deu a receita dessa delícia que compartilho agora com vocês. É um café cremoso e suave que batizei de cappuccino da Chica. Junte um vidro de café solúvel, duas vezes a mesma medida de açúcar com uma medida (vidro) de água fervente e bata na batedeira por, aproximadamente, vinte minutos até obter um creme dourado, espesso e firme. Junte uma pitadinha de canela. Conserve a mistura no congelador. Para um café, coloque uma colher de sopa do creme em uma xícara grande e acrescente 150ml de leite fervente. Misture bem, cubra com raspas de chocolate amargo e (re)faça o mundo do jeito que bem quiser... Bon appétit!