quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O JEITO JILL DE COZINHAR



É, parece que estou mesmo na fase de “tirar o chapéu” pra muita gente. O prazer de falar de chefs de cozinha é infinitamente maior que falar dos chefes de estado que andam nos enfiando sapos goela abaixo nesses últimos tempos. E posso garantir: não dá pra ser corrupto na cozinha. Cozinha é lugar de res-pei-to, de bom senso; malandragem ali entorna o caldo, azeda tudo!
Salivei com as receitas rápidas da Nigella; babei com as sobremesas Michalak; rezei com as Santas Receitas da Sonia Abrão... Cá estou eu agora pra louvar uma moça endiabrada com sobrenome angelical que faz milagres em sua cozinha minúscula... Jill Santopietro trabalhou durante os últimos cinco anos como escritora e testadora de receitas, como jornalista do The New York Times Magazine e tem um programa de culinária recheado de surpresas boas, salpicado de pequenos desastres, mas tudo regado a muito bom humor e espontaneidade. É a cozinha sem frescura, com poucos utensílios, um fogãozinho “meia-boca”, receitas fazíveis por qualquer mortal que aprecie o mundo da boa comida. A Jill conquista pelo sorrisinho moleque de canto de boca e o talento que brota naturalmente na medida em que põe a mão na massa (e ela realmente põe a mão em tudo!). Com ela, cozinhar é quase brincadeira de criança, é “fazer comidinha” por puro prazer... Em um de seus vídeos, Jill prepara a seu modo uma salada que ela comeu não sei onde... Anote aí: use 4 tipos de folhas (americana, chicória, endívia, rúcula), 1 maçã verde, suco de ½ limão, 150gr de queijo roquefort ou gorgonzola, um punhado de nozes, 1 colher de sopa de açúcar cristal, um pouquinho manteiga, azeite, vinagre balsâmico, mostarda de Dijon, sal e pimemta-do-reino. Lave bem as folhas e seque-as. Reserve. Corte em 4 partes a maçã sem descascar, retire os caroços, pique em cubos, regue com o limão e salpique pimenta-do-reino moída na hora. Reserve. Em uma tigelinha, esmigalhe o queijo. Reserve. Coloque o açúcar pra derreter em uma frigideira, junte a manteiga e depois as nozes para caramelizar. Transfira para uma taboa e pique grosseiramente depois de esfriar. Prepare o molho com 1 colher de sobremesa de mostarda, a mesma medida de vinagre, um pouquinho de água gelada, o azeite aos poucos batendo com um fouet. Acerte o sal. Misture tudo em uma saladeira, regue com o molho e sirva imediatamente. Dei a essa salada o nome de salada Santopietro. E podia ser diferente? Bon appétit!

RECEITINHAS PRA ALMA



Porque alimentar a alma dá gosto à vida... Santas Receitas é um livro maravilhoso da jornalista Sonia Abrão e “é maravilhosa essa união do natural com o sobrenatural... uma dona de casa pode e deve se santificar diante do fogão também... Isso acontece toda vez que ela acrescenta ao sal, à pimenta, ao cominho, à salsa, ao alho e à cebola o tempero do seu amor, da sua dedicação.” São palavras do Padre Antônio Maria que tão sabiamente escreveu o prefácio do nosso santo livro. As receitas ali descritas são acompanhadas do poder da oração; ao todo são trinta e cinco, uma pra cada santo, um santo pra cada aflição... Cozinhar é vibrar positivamente, é elevar nosso pensamento e pedir graças; é nutrir o arquétipo da gratidão, uma gratidão antecipada, sabe? Aquela de repartir o pão.
Fiquei dividida na hora de escolher uma receitinha santificada; tentei ser prática, ser coerente; afe... com esse livro não funcionou; deixei pra lá; tornei a abri-lo horas depois e desta vez, tenho certeza, não fui eu quem escolheu... Compraria esse livro mesmo se eu fosse uma catástrofe na cozinha, só pela graça das orações. Valeu Sonia! E “que Santa Luzia proteja nossos olhos, porque para apetite não é preciso patrono.”
Faça o Pão-de-Ló de água de Nossa Senhora de Lourdes com 1 xícara de açúcar, 1 xícara de farinha de trigo, 3 ovos, 2 colheres de chá de fermento em pó e 6 colheres de água. Bata as gemas até engrossar. Junte as claras em neve, o açúcar e bata bem. Acrescente a água fervente e misture tudo. Junte então a farinha peneirada com o fermento, mexendo levemente para incorporar. Coloque em uma forma untada e polvilhada com farinha de trigo e asse em forno médio até que o garfo, quando espetado no centro do bolo, saia seco. Você poderá recheá-lo com geléias, goiabadas, cremes ou com o que seu coração pedir... E lembre-se: “A água lava a mágoa. Na hora de servir o pão-de-ló de água, tenha sobre a mesa uma jarra de água, simbolizando a fonte da gruta de Lourdes e seus milagres. Faça a oração a Nossa Senhora pedindo que ela tire as mágoas do seu coração, o rancor, a amargura e até algum desejo de vingança, pois esses sentimentos fecham nossos caminhos e atrasam nossa vida. Em seguida, tome um copo dessa água e aguarde, que dias melhores virão.”
Bon appétit!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ELA... NIGELLA!



“Fico fascinada com o trabalho de mulheres sinceras, bacanas, que fazem comidas descomplicadas... uma mulher que não tem frescuras, que não faz comida metida, faz comida de verdade, inventa pratos rápidos para facilitar a vida. Ela usa temperos dos quais tem vontade- quando quer, coloca na receita creme de leite, manteiga, valoriza o sabor, o prazer de comer bem... é uma pessoa real na cozinha...” É assim que Carla Pernambuco nos apresenta Nigella Lawson... Uma mulher alegre, calorosa, cheinha de vida e outros atributos que dão a ela uma beleza e uma sensualidade fora dos padrões e fazem de sua comida o resultado do “seu jeito de ver a vida”, recheado de criatividade e salpicado de ousadia... Como tem que ser!
No seu livro, Nigella Express, ela nos lembra: “Na cozinha, como na vida, nós damos certo da maneira como podemos.” As treze partes do livro nos ensinam divertidamente (inteligentemente, agradavelmente e por aí vai) a fazer pratos rápidos sem abrir mão do sabor nem da qualidade, seja em família ou entre amigos; a correr contra o relógio até na hora de comemorar, preparando uma “festa à jato”; a ter uma dispensa prática; a ser um(a) cozinheiro(a) versátil e cuidadoso(a); ela nos inspira a comer melhor, a viver melhor... Pra ela, eu tiro o chapéu, a touca, o boné, a boina, a tiara...
Foi mais que difícil escolher uma receita da Nigella pra colocar aqui; passei horas só folheando e me deliciando com as imagens do livro. Salivei, salivei... Resolvi que tinha que ser um doce pra combinar com a carinha dela. Escolhi. Fiz. Comi. Agora é a sua vez! O clafoutis tradicional que vem da região Limousin, na França, é uma massa cremosa, recheada de cerejas e assada lentamente. Na versão da Nigella, a receita é ainda mais fácil; ela usa cerejas morello sem sementes e “manda bala” no cozimento.
Ponha 2 colheres de chá de óleo vegetal em uma forma para torta com cerca de 22cm de diâmetro. Coloque a assadeira no forno e pré-aqueça a 220 graus. Numa tigela, misture 75gr de farinha de trigo com 50gr de açúcar, junte 4 ovos (um de cada vez) e 300ml de leite. Quando o forno atingir a temperatura desejada, misture 350gr de cerejas à massa (usei cerejas frescas; os carocinhos não valorizam o doce, mas também não tiram seu glamour; aliás, se os problemas do mundo fossem como caroços de cerejas, seria moleza: a gente cuspia e pronto), tire a assadeira quente do forno, despeje nela a massa e devolva-a ao forno por cerca de 30 minutos. Retire. Deixe descansar por 10 minutos ou mais e polvilhe com açúcar de confeiteiro se desejar.
Bon appétit!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CHRISTOPHE MICHALAK



Valha-me Deus, tem muita gente talentosa metendo a colher nas caçarolas das cozinhas desse mundo... Falar de um em particular seria cometer uma tremenda injustiça... Fazer o que? Estou ciente do pecado. Lá vai. Conhecido como o As dos As da pâtisserie, o Rambo do chocolate, o Bruce Lee dos ovos, o Casanova do açúcar e o Mágico de Oz do creme (sem falar que o cara é um bombom!!), Christophe Michalak cria verdadeiras obras de arte a partir de ingredientes relativamente simples... De família italiana rigorosa, desde criança sonhava em ser desenhista. Como não conseguiu entrar para a Escola de Belas Artes em Paris (Deus sabe o que faz!), começou a trabalhar como aprendiz de confeiteiro por mero acaso (se bem que não creio nessa balela de acaso). Em uma de suas entrevistas ele diz: “Aos 15 anos tive uma luz, compreendi que a gente pode dar muita felicidade com pouca coisa. Não dá para ser confeiteiro sem ser generoso e guloso; minha profissão permite que me expresse através das minhas criações; o desejo de dar prazer aos outros me venceu.” O que é a gastronomia senão esse estranho desejo de dar prazer? Essa enorme vontade de satisfazer... É procurar (e quase achar) o tal do ponto G nas papilas; é dar alegria; é gozar com o prazer do outro... Em outra entrevista, nosso homem declarou: “Visto meus doces como faria um grande costureiro com suas mulheres; o belo e o bom são inseparáveis!”
Desde 2000, depois de estagiar em grandes confeitarias de Londres, Bruxelas, Tókio, Nova York, é em Paris que nosso gênio do doce põe a mão na massa e em 2005 vence o Championnat du monde de la pâtisserie. Ser o superman era outro sonho de infância e ele não esperou nada cair do céu: “ No dia em que parei de esperar, realizei meus sonhos.” Coragem, determinação e disciplina deram cor, sabor e consistência à vida de um menino que só era... doidinho por flans!
No seu livro C’est du gâteau, você vai se deliciar com os toques desse herói que transforma qualquer receitinha banal em uma sobremesa... Michalak!!! Você não perde por experimentar! O cara, digo, o livro é uma gostosura!
Bon appétit!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

LIVRANDO O PERU DO MICO



Nas mesas de fim de ano, o aspecto que se repete em todo o mundo (ou quase) é a fartura... Deliciosos pratos são saboreados e regados a bebidas que explodem em forma de bolinhas brilhantes feito fogos de artifício no céu... É hora de festejar, espantar os males da alma e atrair sorte, prosperidade, saúde e paz (e tem mais?!)
“ O momento da virada parece suspenso entre o passado e o futuro...” Prolongue este instante mágico espalhando arranjos com porçõezinhas lindas de comer (pães variados, patês, saladinhas levemente temperadas, queijos, geleias, frutas secas, castanhas...), sobre as mesas, as mesinhas e os balcões de casa; assim, convidados, comes e bebes serão como peças de um mosaico em movimento durante toda a festa, recheando o ambiente de energia boa; e a gente ainda faz uma boa ação livrando o peru do mico de passar a noite inteirinha ali, todo assadinho, de pernas pro ar...
Aqueça a hora do brinde acrescentando 3 gotinhas de molho de pimenta Tabasco em cada taça de espumante (para os mais atrevidos, claro!). Prepare também um refrigerante natural colocando um dedinho de xarope de groselha natural no fundo de um copo cilíndrico alto e complete com água mineral gasosa bem gelada e sirva com cubinhos de gelo feitos com uma folhinha de hortelã ou tirinhas de casca de laranja colocadas previamente em cada forminha. É um mimo!
A velha frigideira de ferro ou de cobre ganha charme e beleza usada para servir coroas de damasco, tâmaras, nozes... Ouse com o que você tem em casa.
Frutas frescas que compõem a Sobremesa Final Feliz (uvas, morangos, figos, ameixas, framboesas, jabuticabas e cerejas com cabinhos), são lavadas, banhadas em gelatina morna, escorridas e colocadas em grandes fruteiras de porcelana e em seguida fartamente polvilhadas com açúcar de confeiteiro e armazenadas na geladeira por algumas horas antes de serem servidas. O açúcar dá um efeito de neve sobre as frutas e encanta os convidados. É de lamber os dedos!
Surpreenda até na hora do cafezinho de despedida: sirva cada xícara acompanhada de uma colherzinha previamente molhada no chocolate meio-amargo (derretido em banho-maria) e colocada sobre uma base coberta com papel manteiga que permanecerá na geladeira até a última hora.
São idéias simples e fáceis que espero, alimentarão sua imaginação para que sua ceia seja um sucesso!
Bonne année 2010! Bon appétit!

SOU SUA (RE)FEIÇÃO




“Fiz um brócolis no vapor, é desse jeito que é o amor. Arroz soltinho, peixe à milanesa, só pra louvar tua beleza. Laranja pera e banana, sou bom de suco, bom de cama. E amanhã frango à cubana. É assim que um homem ama. Eu faço qualquer coisa por você, língua ao madeira com purê... Pense nesse homem, lavando as panelas tão banal, na pia ele olha a louça imersa e sobre a vida ele conversa. Me come eu sou sua refeição. Me ama com todo seu coração. Me olha, me entende, me aprende... Qualquer lugar, qualquer cantinho, pra você eu lavo, passo... e cozinho!” São trechos da música Homem de avental, da irreverente banda Blitz, recheada de humor e de delícias simples do cotidiano. Quer maior prova de amor que preparar uma refeição? Só se for lavar a louça todinha depois, senão não tem. Não tem conversa nem anel que derreta mais o coração de uma mulher que um homem de avental, exercendo seu papel de homem forno e fogão... É o tiro certeiro do caçador no peito da sua presa; é se deixar abater e morrer aos poucos; é ficar marinada na emoção; ser cozida em fogo brando e enfim... deixa pra lá... Voltemos pra cozinha que é de onde nossos pensamentos não deveriam ter saído e vamos fazer um delicioso Frango à cubana pra aplacar de vez esse apetite voraz...Tempere 4 filés de frango com sal, pimenta do reino e limão. Quebre 2 ovos, bata-os e coloque em um prato fundo; coloque um pouco de farinha de rosca em uma travessa e passe os filés rapidamente pelo ovo e em seguida pela farinha. Faça a mesma coisa com 2 bananas nanicas cortadas ao meio. Reserve. Cozinhe 1 cenoura e uma xícara de chá de vagens picadas, escorra e reserve. Aqueça 1 colher de sopa de manteiga em uma panela e acrescente a vagem, a cenoura, ½ xícara de chá de presunto picado e a mesma medida de passas, mexa bem e deixe fritar um pouco. Adicione 3 xícaras de chá de arroz cozido e misture bem. Frite os filés e as bananas em óleo quente, retire do fogo e coloque sobre uma folha de papel toalha para absorver o óleo. Em uma travessa grande, coloque o arroz no meio, os filés e as bananas nas pontas. Decore com 4 fatias finas de abacaxi por cima dos filés e batata palha se quiser. Pra quem gosta do contraste salé sucré, essa comidinha faz o maior sucesso! Ou invente um pratinho gostoso, atraente, sedutor e dê umas garfadinhas no cupido que anda meio desatento...
Bon appétit!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

PÉ DE PERA


“Um pai queria que seus filhos aprendessem sobre “julgamentos”. Incentivou-os a fazer uma viagem e observar uma pereira plantada longe dali. O primogênito chegou lá no inverno, o segundo foi enviado na primavera, o terceiro no verão e o caçula deveria estar lá no outono. Quando retornaram, o pai os reuniu e pediu que contassem o que tinham visto. O primeiro descreveu a pereira como feia e retorcida; o segundo disse que não era verdade e contou que encontrou a árvore cheia de botões; o terceiro disse que ela estava cobertas de flores, que tinham cheiro tão doce e eram tão bonitas que ele arriscaria dizer que eram a coisa mais graciosa que ele jamais tinha visto; o caçula disse que a árvore estava arqueada com o peso das frutas tentadoramente brilhantes. O pai então afirmou que todos estavam certos, pois eles haviam visto apenas uma estação da vida da pereira, mas que não se deve julgar uma árvore nem uma pessoa por apenas uma estação. A essência do que se é só pode ser constatada no final de tudo, exatamente como no momento em que as estações se completam. Se alguém desistir no inverno, perderá as promessas da primavera, a beleza do verão e a expectativa do outono.” Persevere! As estações mudam de uma hora pra outra e a gente nem se dá conta. 2010 era futuro longínquo, filme de ficção, agora está bem diante do nosso nariz. Só não entro em pânico porque vivo como cozinho: sem pressa.
E é isso que vamos fazer hoje: cozinhar lindas peras sem a menor pressa. Afinal correr pra quê? E pra onde?
Providencie 6 peras maduras e firmes, ½ limão, 1 garrafa de vinho tinto seco, ½ xícara de chá de açúcar, 1 tira de casca de laranja, 1 pauzinho de canela, 6 grãos de pimenta-do-reino, 6 cravos. Descasque as peras, retire o miolo por baixo deixando os cabinhos intactos. Esfregue a metade de limão nas frutas. Em uma panela, junte o restante dos ingredientes, leve à fervura e mantenha no fogo, mexendo de vez em quando, por 5 minutos ou até que vire uma calda transparente. Junte as peras, coloque-as de pé lado a lado, cubra com papel manteiga, sem tampar e cozinhe até que fiquem tenras (aprox. 20 min.). Desligue e deixe esfriar na calda. Transfira as peras para uma compoteira com uma escumadeira, coe a calda em outra panela e reduza-a pela metade em forno médio. Deixe a calda amornar, regue as peras e leve à geladeira antes de servir.
Bon appétit!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

FAZENDO ESCONDIDINHO



Escondidinho é uma delícia, disso todo mundo sabe. Escondidinho pode não ser lá muito original e é bastante popular, mas não pense que é fácil, pois requer uma certa experiência, um bocado de destreza e boa vontade, aliás vontade é a palavra chave para o escondidinho dar certo; além disso rapidez e desenvoltura são ingredientes indispensáveis para um resultado a contento. Dá pra fazer escondidinho até numa cozinha minúscula (eu mesma já fiz) com pouca coisa, mas você tem que ter mãos hábeis e caprichosas na hora de amassar... Sem falar que não tem hora pra comer escondidinho; tem gente que aproveita até a pausa do lanche da tarde pra fugir do convencional e comer um escondidinho revigorante... Existem centenas de maneiras diferentes de se fazer escondidinho; cada um tem sua preferência e acaba inventando um jeito novo de fazê-lo; tem escondidinhos rápidos (os mais populares) e os mais elaborados que exigirão mais de você, sobretudo se estiver só... Fazer escondidinho com alguém é infinitamente mais agradável, acredite, cada um faz sua parte e pronto. Mas sabe qual é indiscutivelmente a melhor parte do escondidinho? É poder contar pra um(a) amigo(a) o passo a passo do melhor escondidinho que você já fez; contar é repetir o prazer, é relembrar o momento sem testemunhas que em teoria ficou sem registros, é compartilhar a satisfação experimentada... Por isso revelo agora os segredos e todos os detalhes picantes do meu escondidinho preferido...
Escondidinho de peru (qualquer coincidência é mera semelhança, ops). Descasque 1kg de mandioquinha (batata salsa), lave, pique e cozinhe por 20 minutos em uma panela com água até ficar bem macia. Passe-a, ainda quente, por um espremedor e misture uma xícara de chá de leite integral, 1 caixinha de creme de leite, 1 colh. sopa rasa de açúcar refinado, um pouco de sal e raspas de noz-moscada. Cozinhe, sem parar de mexer, até obter um purê. Retire do fogo e reserve. Em uma frigideira refogue em azeite 3 cebolas médias picadas, algumas uvas sem caroço cortadas ao meio e uma pimenta dedo-de-moça sem sementes picada. Junte 400gr de peito de peru cozido e defumado picado e refogue até dourar. Ajuste o sal e distribua em 8 cumbuquinhas refratárias, cubra com o purê e queijo emmenthal ralado. Leve ao forno pré-aquecido em temperatura média por 30 minutos ou até dourar. Sirva quente. Viu como é fácil fazer escondidinho? Bon appétit!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

AMIGO DE MILHO



Trata-se de um vídeo curioso e divertido. Um grupo de estudantes encheu uma piscina com uma mistura feita de amido de milho e água... A “meleca” tornou-se um fluido não-newtoniano e quando se aplica uma força sobre essa mistura, ela se comporta como um sólido... Ou seja, dá até pra “brincar de Jesus” e caminhar sobre águas... Uma tentação! Brincadeira -um tanto quanto desnecessária- à parte, depois de ver o vídeo não parei mais de pensar na farinha fina e branquinha, derivada do grão de milho, a princípio usada para fazer cola, goma para tecido e até servia de talquinho em assaduras de bebês... Desde sua estreia no país, há mais de um século, a tal farinha apresentada em sua atraente caixinha amarela, virou sinônimo de amido de milho tornando-se uma aliada na cozinha brasileira... É, estou falando da popular Maizena, essa marca multinacional europeia de amido de milho que tem uma baita história recheada de curiosidades; vale a pena fuçar alguns sites e conhecer melhor o percurso inusitado do nosso amidinho e se deliciar com lindas publicidades polvilhadas de mensagens de amor. A protagonista que revolucionou nossa cozinha durante tantos anos, virou vilã na cadeia alimentar moderna e você pode até estar de mãos dadas com os carrascos pra guilhotinar as farinhas brancas do seu cardápio, porém não há como negar que inúmeras gerações foram criadas com mingaus, biscoitos, doces e molhos à base dessa versátil e delicada farinha e sua relação com mães, cozinheiras e cozinheiros brasileiros é de intimidade e confiança... E duvido que você resista a esses Alfajores de maizena, facinhos de fazer e mais facinhos ainda de comer...
Alfajor é um doce tradicional da Argentina e outros países ibero-americanos com origem na Espanha e seu nome vem do árabe al hasu que significa recheado. Composto de duas ou três camadas de massa que depois de assadas devem ficar crocantes e macias e enfim recheadas de doce de leite e polvilhadas com açúcar de confeiteiro... Peneire 150gr de farinha de trigo com 500gr de maizena e 1colh. chá de fermento em pó. Reserve. Bata 220gr de açúcar com 300gr de manteiga, 2 ovos, 4 gemas e raspas de um limão. Junte as duas misturas até obter uma massa lisa e abra-a com a ajuda de um rolo sobre uma mesa enfarinhada. Corte círculos de 4cm de diâmetro e asse em forma untada e enfarinhada em forno brando. Está no ponto quando se soltar da forma (não deixe dourar a superfície). Espere esfriar. Coloque doce de leite entre duas “bolachas” e passe no açúcar de confeiteiro. Delicie-se!
Bon appétit.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

COZINHAMOS, LOGO EVOLUÍMOS




Segundo Richard Wrangham, um ícone da antropologia moderna, o uso do fogo no preparo dos alimentos é o que fez de nós o que somos hoje. Tal preparo “contribuiu para solidificar a união entre homens e mulheres, uma prévia do que seria mais tarde, o casamento.” Uma maneira encontrada para garantir alimento e segurança para ambos. Ele afirma também que “as refeições ao redor do fogo estimularam a socialização e a transmissão do conhecimento dos mais velhos para os mais novos, amenizando também a agressividade inata da espécie humana.” Richard vestiu tanga e comeu carne crua na floresta para entender que o homem não vive sem a cozinha: “sem o cozimento, seríamos parecidos com os outros primatas, que também usam ferramentas, caçam e comem carne. Passaríamos a maior parte do tempo mastigando... Mas o nosso salto evolutivo deve-se ao preparo dos alimentos ao fogo que permitiu aos nossos ancestrais absorver o máximo de nutrientes e calorias.” Dá até pra concluir que foi mesmo o ato de cozinhar que mudou os rumos da história e nos tornou (mais) humanos. A cozinha agrega em torno do fogo que aquece, transforma alimentos, muda comportamentos, nos ilumina... Você sabia que o etnólogo francês Claude Lévi-Strauss deu um título culinário ao primeiro volume de sua obra principal intitulada Mythologiques? O cru e o cozido. O cara sabia o que estava dizendo... Acho mesmo que evoluímos quando cozinhamos, no fundo sempre soubemos disto. Cozinhar é um ato de amor, as duas coisas estão docemente atreladas feito “bem-casados” e abster-se de uma ou de outra seria abater-se, definhar, morrer...
Faça um pot-au-feu qualquer dia desses para seus amigos, uma das receitas francesas mais antigas, saborosas e fraternas que conheço; uma espécie de cozidão de carne e ossos para sopa e legumes (cenoura, cebola, nabo, alho...) temperado com ervas aromáticas que fica hoooras no fogo brannndo com uns dois litros de água para cada ½ kg de carne. Aproveitem pra ver um filme simplesmente emocionante chamado A guerra do fogo. Depois apaguem as luzes, acendam algumas velas, comam na penumbra, pensem em como tudo (não) teria sido sem luz e calor, agradeçam...
Bon appétit!

sábado, 7 de novembro de 2009

CONVERSA PRA BOI DORMIR

“Cheguei a uma idade em que o amor, a ambição e a riqueza se tornam insignificantes diante de um bife realmente bem grelhado.” (Somerset Maugham)
Não sei ao certo que idade tinha o grande romancista e dramaturgo britânico (nascido na França), quando escreveu isto, mas não devia estar muito distante da minha hoje... Valha-me Deus, meus valores estão mudando...
Quanto vale um bife realmente bem grelhado? Todo carnívoro que se preze conhece seu valor e confessa sem pestanejar que o tal bifinho grelhado no capricho está bem perto do topo da lista dos prazeres mundanos. Aproveitando o gancho, vou contar a origem do nome do pedaço da vaquinha que conhecemos por filé... O saboroso pedaço tenro e suculento bem no miolo da parte superior traseira do animal não tinha nome. Preservá-lo e comercializá-lo era preciso e a ideia de colocar o precioso pedaço em uma espécie de redinha, um filet, mudou a vida dos cozinheiros e assadores franceses da época (desconheço nomes e datas referentes a essa história, désolée). O tal filet deu-lhe uma forma arredondada e simétrica facilitando seu manuseio, preservando seu suco e enriquecendo sua apresentação. Mas será que toda essa história não passa de conversa pra boi dormir? Melhor deixar pra lá. Hoje o pedaço pode não vir mais em redinhas, mas não perdeu a nobreza nem o nome de família. E quem nunca caiu na rede dos prazeres da carne, "atire a primeira faca!"
Aqui vai o pulo-do-gato para se obter um medalhão de filé tenro, macio, suculento e saborosíssimo... Compre medalhões de filé de 2cm aproximadamente de um bom fornecedor. Aqueça bem a frigideira ou chapa com um pouco de manteiga salgada, jogue uma pitada de açúcar cristal na manteiga para que doure ligeiramente e frite cada filé separadamente de um lado e de outro, sem jamais espetar ou espremer exageradamente a carne. Passe um por um e mantenha-os aquecidos antes de servir com seu molho preferido. Meus amigos adoram com molho de queijo que faço com 230gr de roquefort ou gorgonzola e 500gr de creme de leite fresco. Derreto o queijo no creme em fogo brando mexendo sem parar com o fouet. Ajusto o sal e acrescento raspinhas de noz-moscada antes de banhar os medalhões. Um risotinho de legumes casa com perfeição com esse filé. Bon appétit!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ZINGIBERENO & ZINGERONA




Foi o vídeo da chef Eliane Carvalho em busca do segredo do Melhor Pastel de Feira de São Paulo que me trouxe até aqui... A conversa rapidinha com a sorridente Maria, a vencedora do concurso, rendeu bons frutos e com muito jeitinho, Eliane colheu informações no mínimo curiosas... Maria acabou entregando o ouro e revelou um dos ingredientes que fazem do seu quitute, o melhor da capital paulista. O diferencial da carne moída saborosa e tenra que recheará a massa fina e dourada feita com simplicidade e capricho- e que não tardará a “pipocar” em óleo quente antecipando o prazer singular de abocanhar um rechonchudo pastel quentinho- é uma plantinha asiática, originária da ilha de Java, da Índia e da China, de onde partiu e se esparramou pelos quatro cantos do mundo. Como planta medicinal, é uma das mais antigas e populares e suas propriedades terapêuticas resultam do casamento de várias substâncias, em especial do óleo que contém zingibereno e zingerona (isso mais parece um trava-língua que coisa de comer...) que fazem dela um “medicamento universal”. Além de todos os benefícios, a tal plantinha ainda tem ação bactericida, desintoxicante e um alto poder afrodisíaco. Quer mais? Na medicina chinesa tradicional, graças à sua ação na circulação sanguínea, ela é utilizada contra a disfunção erétil. Pesquisas realizadas em coelhos comprovaram os benditos efeitos (se bem que do coelho, vamos combinar, todo mundo já conhece a fama). De sabor agradavelmente picante, pode ser usada em pratos salgados ou doces e de diferentes maneiras: fresquinha, seca, em conserva ou cristalizada, porém não se deve substituir uma forma pela outra nas receitas, já que seus sabores são muito distintos. Você já sabe de quem estou falando? Pois é... Do nosso velho, popular e delicioso gengibre que com sua doce ardência, excita nossas papilas, faz cócegas no nosso palato e provoca nossas narinas... Deixe-se seduzir por ele com essa calda que acompanha bolos, sorvetes, bolachinhas, queijo, beijo...
Raspe ½ kg de gengibre fresco com uma faquinha para retirar a pele. Corte-os no cortador de legumes em fatias bem finas. Coloque em uma panela com bastante água e ferva por 3 minutos. Escorra e repita a operação. Misture 4 xícaras de açúcar, 1 ½ xícara e água e o gengibre escorrido. Cozinhe em fogo alto até engrossar ligeiramente (30 min. aprox.). Outra delícia de gengibre: junte 4 colheres de sopa de vinho branco, ½ xícara de chá de açúcar e 1 xícara de chá de gengibre fresco. Leve ao fogo mexendo de vez em quando até obter uma geleia. Bon appétit!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

ALMA DE BRUXA



“A chuva ainda cai do lado de fora... E eu só consigo imaginar minha horta... Meu pé de manjericão deve estar florido e perfumado, ele adora chuva! Mesmo aqui eu gosto de sentir o perfume da terra molhada e se pudesse iria dançar sob essa chuva de água doce... Ainda não entendo... ainda não sei o que fiz para que me trancafiassem aqui... Me lembro das manhãs que passava cuidando das minhas plantas, colhendo algumas folhas para os chás... – Queria saber porque estou aqui... – Você é uma bruxa? Você faz bruxaria na sua casa? – Faço chás, infusões e perfumes... – Bruxa!!- é o eco das vozes em volta de mim.”
Somos doidas, somos santas, feito aquela do poema “A serenata” da Adélia Prado; pra bruxa e fada não nos falta mais nada... toda mulher tem um punhado das duas. Eu só conheço mulher bruxa. Mulheres que arrancam poesia do cotidiano mesquinho; mulheres que pintam em telas, as flores da vida; mulheres mães de dois ou três de uma só vez; mulheres que aprenderam línguas, fizeram as malas e voaram; outras que engolem sapos por medo de viverem aos trapos; mulheres que venceram males invencíveis; e tem aquelas que cozinham, cozinham e fazem com que “pedaços de jiló virem pimentões recheados”, só pelo prazer de servir; e outras tantas, ora doidas, ora santas... Só não dá pra conviver com bruxa alcoviteira. Pra essa não dê brecha! Só muita reza e ramo de pimenteira curam o veneno da bruxinha mexeriqueira.
Vem do livro Afrodite, de Isabel Allende (essa sagrada doida que faz bruxaria com as palavras), a receita das Maçãs Feiticeiras, uma sobremesa deliciosa, fácil de preparar e cheia de magia... Providencie 4 maçãs grandes vermelhas sem casca, 2 colheres de leite condensado, 2 colherinhas de açúcar, 1 tacinha de xerez, 1 colher de manteiga, 1 colher de suco de limão, casca de limão, cravo, canela, cerejas para enfeitar. Deixe as maçãs de molho em água fria com limão por dez minutos. Unte com manteiga tigelas pirex individuais e salpique um pouco de açúcar em seu interior. Tire as sementes das maçãs e recheie-as com leite condensado, limão, canela e cravo. Umedeça-as com o licor e um pedacinho de manteiga. Tampe cada tigela com filme plástico e cozinhe no microondas por 7 minutos. Retire, deixe esfriar e enfeite com cerejas e uma pitada de canela. Sirva em temperatura ambiente para a manteiga não endurecer. Bon appétit.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

NAMORO NA FEIRA



“Namorar é preciso - com todo mundo, o tempo todo. Esse namoro de que estou falando não tem nenhuma conotação sexual - não necessariamente; é uma coisa leve, de um charme suave, que deveria existir entre todas as pessoas, em todos os momentos do dia, o que faria da vida algo de bem interessante. Namorai-vos uns aos outros deveria ser um lema: o amai-vos a gente deixa para depois, até porque é mais complicado... A feira é um lugar onde esse charme existe o tempo todo...” Eita Danuza, você é mesmo uma leoa pra destrinchar os momentos da vida... A feira é terreno fértil pro flerte, é campo minado de coisas boas, bombado de cores; é concentração de cheiros e sabores; é a vida nua e crua expressa na rua e no linguajar debochado e faceiro dos feirantes... E aí freguesa bonita, vai levar a banana do Gervásio hoje? Vamos aproveitar os melões da Aninha que são doces feito mel! Só caqui que é bom, caqui gostoso e barato é comigo aqui! O amor é cego, o jeito é apalpar, mas apalpa sem machucar senão vai ter que levar! Amém, amém – amém?!- doim pra torrar no capricho pro tira-gosto do patrão! Tem promoção e pra mocinha! Seu marido não é mais aquele? kiwi nele! Olha o pepino, tem do grosso e tem do fino! Ajuda aí madama, meu filho nasceu e o pai não sou eu!... É a marca da feira-livre no grito solto do feirante exaltando seu produto na confusão organizada. Pechinchar vira prazer e a dúzia agora é de treze, ôba! É a vida negociada ali e acolá... dá até pra “chorar” na barraca do Ramalho onde tudo já é barato pra caramba! Tudo isso por puro prazer, “e pobre dos que são imunes a isso, não sabem o que perdem.” A história da humanidade está abarrotada de referências às feiras. Não se sabe ao certo onde e quando apareceu a primeira delas, mas registros nos permitem afirmar que em 500 a.C. já haviam feiras no Oriente Médio. Os primeiros registros aparecem com referências ao comércio, às festividades religiosas e aos dias santos. E é fato que a religião andou de “namorico” com o comércio pois a palavra latina feria, que significa dia santo, feriado, é a palavra que deu origem à portuguesa feira. E para honrar a origem do nome, aqui vai a receita da salada portuguesa pra ser comida segunda-feira, terça-feira, quarta-feira... Corte em rodelas, 1 cebola roxa, 1 tomate-caqui, 1 pimentão vermelho e tempere tudo com um punhadinho de sal-grosso, 1/2 colher de sopa de vinagre de vinho tinto, 1 colher de sopa rasa de azeite de oliva (escolha um de baixa acidez) e misture até parar de ouvir o tilitar dos cristais de sal na saladeira. Deixe-se seduzir pela simplicidade e o frescor dessa saladinha... Bon appétit!

domingo, 4 de outubro de 2009

"OLHA QUE COISA MAIS LINDA..."



Ninguém precisa ser apaixonado por esportes pra sentir a energia boa que emana de cada um deles. Hoje essa mesma energia multiplicada por milhões de corações está no ar, pulsando... A vitória é verde, agora é fato, é verdade; ela é doce, doce e suave; ela refrigera a alma e tem cheiro de mato molhado... Queria achar um jeito de contribuir com essa grande festa e exercer minha brasilidade. E só podia ser com comida, claro! Foi no lindo livro da Morena Leite, Brasil Ritmos e Receitas, que encontrei a resposta: uma sobremesa verdinha, doce, suave e refrescante como a vitória da Cidade Maravilhosa sobre as altivas concorrentes; um creme com superfície dourada feito medalha de ouro, o crème brûlée de capim-santo. O nosso capim-santo também conhecido como capim-cidreira ou capim-limão é uma planta perene, uma moita de lindas folhas verdes, finas e longas que quando friccionadas entre os dedos exala um delicioso perfume doce e cítrico. Tem inúmeras propriedades medicinais, é um santo capim. Tem um cheiro inesquecível de infância, de quintal de casa, de gente simples que sabe o valor do mato.
Até 2016 vão ser sete anos recheados de esperança e de entusiasmo, coisas que alimentam a alma... Enquanto isso, adoce os momentos com essa sobremesa que é a... "coisa mais linda, mais cheia de graça...” e deliciosa!
Providencie 500gr de folhas de capim-santo, 1 ½ litro de creme de leite fresco, 100gr de açúcar mascavo, 120gr de açúcar, 100ml de leite, 10 gemas. Bata o capim com o leite no liquidificador e passe pela peneira. Acrescente o creme de leite e leve ao fogo. Bata as gemas com o açúcar até obter um creme espesso e claro. Assim que o creme de capim-santo estiver frio, junte a mistura de gemas, distribua em 12 cumbuquinhas e cubra com papel-alumínio. Asse em banho-maria por aproximadamente 15 minutos a 180°. Retire, deixe esfriar e leve à geladeira para firmar. Na hora de servir, polvilhe com açúcar mascavo e queime com maçarico. Esse doce pode ser servido depois de um bom churrasco, uma peixada ou até uma feijoada carioca... Bon appétit!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"COMIDA PUBIANA"




Você está crente que vai ler uma crônica sacana, confesse! Sorry. Também caí nessa quando deslizava o mouse sobre uma listinha de títulos curiosos do Bruno Agostini. Foi um misto de “que isso” com “num é possível” que me fez clicar pra ler o artigo inteirinho e finalmente descobrir que comida pubiana para o Bruno é só aquela comidinha simpática servida na penumbra aconchegante de um public house, pub para os mais íntimos. Uma espécie de estabelecimento licenciado para servir bebidas alcoólicas, a princípio em países de influência britânica. Cá pra nós, um bar com passaporte inglês, um boteco classudo se preferir, que oferece uma variedade enorme de cervejas, alguns vinhos, bebidas destiladas e refrigerantes. A característica marcante de um pub é uma clientela regular (les habitués se fosse num boteco gaulês) que escolhe o “seu” pub em função da proximidade de casa ou do local de trabalho. Gente que bebe unida, você já sabe, embebeda unida, come unida, passa mal unida... A propósito, no Reino Unido os pubs abrem diariamente e fecham entre 22 horas e meia noite. “O horário de fechar é reconhecido por toques de sino. O primeiro toque significa que, se você pretende beber outro pint de cerveja, este deve ser pedido neste momento. Quando o sino tocar duas vezes significa que você deve rapidamente terminar de beber e deixar o local.” Dá pra acreditar? É coisa de inglês mesmo! Ok, sininhos e cervejinhas à parte, voltemos pra nossa comidinha pubiana servida nos pubs tropicais: peixinho empanado acompanhado de molho picante, mandioca frita crocante, caldinho de feijão puxado na pimenta, asinha de frango frita (claro!), anéis de cebolas você já sabe como, escondidinho de carne-seca com banana-da-terra fri-tin-ha, pasteizinhos de carne moída, queijo, palmito, sem falar na costelinha de porco com molho agri-doce e por aí vai, tudo muito, digamos, untado mais que o necessário... É comida perversa. É gostosa de doer. É comida pra comer de vez em quando... Essa receitinha dá até pra ser compartilhada com seu cardiologista. Abre coração: retire a gordura dos coraçõezinhos de frango e deixe-os marinados por doze horas em vinho branco. Escorra, tempere a gosto e cozinhe com salsão e alho. Sirva com manteiga derretida e fatias de pão. Esperando que seu fígado cumpra a contento o papel dele, desejo a você um bon appétit!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

DESEJO FLORES A VOCÊ...



Meia-dúzia de frases por telefone e pronto, estava marcado o cafezinho pra não perder o bom e velho hábito que alimenta e renova a velha e boa amizade. Naquela tarde, um assovio moleque fez as vezes de campainha (não sabia que minha amiga assoviava com tamanha desenvoltura), pra minha inveja pois já cheguei à beira da desoxigenação cerebral tentando aprender a arte do tal sopro musical. Danada! 1x0 pra você. Regadas a um petit noir, as novidades foram tecidas uma a uma sem espaço pros detalhes, já que o encontro não passaria de uma agradável meia-horinha. Depois que nosso papo foi interrompido por um telefonema de outra amiga pedindo detalhes do preparo de uma salada de rosas, o assunto descambou pro lado das flores, em particular das comestíveis, claro! Sem contar que minha amiga estava usando uma linda saia florida e eu uma blusa cor-de-rosa. Saquei na hora: é o equinócio de setembro, é primavera no hemisfério sul, a primavera austral, que começa em 23 de setembro e vai até 21 de dezembro. É o reflorescimento da flora e da fauna terrestres. As coisas começam a mudar pra melhor... O que vou dizer periga parecer piegas, mas lá vai: o amor está no ar. Não resisto à tentação de citar Cecília Meireles: “A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega...” quer você perceba ou não.
Voltemos às nossas flores de comer que devem ser obrigatoriamente cultivadas sem nenhum produto químico e regadas com água filtrada. A capuchinha dá cor e um gosto ligeiramente apimentado às saladas. A lavanda, de sabor ímpar com tons cítricos, é perfeita para chás, biscoitos, sorvetes. A viola odorata é uma linda violeta doce. As pétalas de rosas dão cor e sabor a saladas e guarnições. Amor-perfeito são florezinhas delicadas, adocicadas e decorativas que flutuam sobre sopas e cremes. Os cravos têm sabor doce parecido com noz-moscada. Desfrute dos hibiscos, da flor de cebolinha, das petúnias... A Salada Primavera da Chef Eliane Carvalho é uma explosão de cor e sabor em um lindo bouquet de carpaccio de salmão... É de chorar de prazer!
Faça um mix de 3 ou 4 folhas verdes, palitinhos de cenoura e salsão, flores comestíveis de sua preferência. Embrulhe no carpaccio de salmão e amarre com cebolinha verde escaldada. Faça um molho vinagrete com suco de limão, azeite, sal e pimenta-do-reino quanto baste. Prepare uma redução de suco de laranja e maracujá (reserve as sementes para decorar). Misture tudo. Coloque o bouquet no prato e regue com o molho. Delicie-se e aprenda com cada primavera a se “deixar cortar para poder voltar sempre inteira”. Bon appétit!







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terça-feira, 22 de setembro de 2009

LE DÉJEUNER SUR L'HERBE



Ou O Almoço sobre a relva ou O Piquenique no bosque é um óleo sobre tela de Édouard Manet. “Por trás de um título aparentemente inocente, esconde-se um pintura com uma força incrível, capaz de chocar o mais distraído espectador.” A modelo nua, com o rosto apoiado pela mão direita, não se inibe em sorrir ligeiramente, exibindo uma aparência segura e sensual. Porém a obra provocou um escândalo na sociedade conservadora (e hipócrita) da época quando exposta no Salon de Paris em 1863. A sensual nudez perante dois homens sobriamente vestidos foi trop para os parisienses. O artista não pretendia criticar a sociedade, o que a tela declarava era a deliciosa liberdade do pintor. O pique-nique era uma refeição na qual cada um levava sua parte. No início do século dezenove, os franceses absorveram do picnic inglês, o sentido moderno da palavra: passeios ao ar livre nos quais as pessoas levam alimentos a serem desfrutados por todos. Foi após a Revolução Francesa, com a abertura dos castelos, que o povo aproveitou para usufruir dos lindos jardins e fez o substantivo virar verbo, pique-niquer virou ação sagrada na primavera e no verão. O piquenique é uma refeição fraterna, generosa, despretenciosa. Deliciosa. Ela alimenta o arquétipo de compartilhar que é partilhar o pão com. Até as migalhas e as sobras farão o banquete de milhares de insetos... Hoje a toalha xadez estendida no chão está em desuso e os encontros ao ar livre cada vez mais sufocados pelo conforto e a praticidade da vidinha moderna. Uma dó. Quer refeição mais prática e mais confortável que um piquenique? Não tem. Mais prazerosa, mais alegre e sensual? Também não. Por isso os franceses insistem e em tardes ensolaradas lá estão os intrépidos descendentes dos gauleses esparramados, aos pares, em bandos, panier cheinho de frutas frescas, pães, queijos, geleia de morangos do jardin, e algumas garafas de vinho que vão corar faces e fazer todo mundo ver la vie en rose logo logo... Eles é que estão certos. Essa “compota de cebolas” é perfeita como acompanhamento para carnes mas fica deliciosa também sobre fatias de pão durante um piquenique. Corte 15 cebolas em rodelas e frite-as em fogo forte com um pouco de óleo. Deixe no fogo durante 20 minutos mexendo sempre. Acrescente as cascas de 3 laranjas cortadas em tirinhas muito finas, 7 cenouras cortadas em tirinhas, 3 tomates sem pele e sem sementes cortados em cubos. Tempere com sal, pimenta-do-reino e 2 punhados de açúcar. Abafe por 10 minutos. Regue com 2 colheres de vinagre de vinho. Retire a mistura do fogo quando estiver corada e curtida. Bon appétit!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

NA HORTA DA NINA



Na horta da Nina tem abobrinha boa pra fritar, tem ameixas pra embebedar, banana pra virar bananada, batatas a serem esmurradas; tem chuchu pra fazer com camarão, cebolas casadas com casca de laranja curtindo a união; tem pêssegos e amoras pra fazer crisp, tem jaca, uva e figos; tem maracujá pra fazer musse, peras pra grelhar na manteiga, abóbora nova pra derreter no risoto; tem pepino pra por no sanduíche e quiabo que vai virar picles; tem até coco pra enriquecer o sequilho; tem o que não pode faltar pra fazer sopa; é sopa de tudo quanto há, é pra nadar de braçada, tem sopa quente, sopa fria, sopa doce e fria... Tem sopa de criatividade, de humor e imaginação. Tem talento de dar sopa. Na horta da Nina, informação vem às pencas acompanhadas de baldadas de prazer. Quer saber, essa Nina Horta não é sopa! Pro meu gosto, tinha que se chamar mesmo era Nina Horti-Fruti-Granjeira pra desbancar todo mundo com suas aves de poleiro, o pato banhado na cerveja e o peru cheio de bossa... Nem vou falar no boeuf à la mode ou na bacalhoada cheirosa e o pernil de cordeiro vai ficar pra uma outra ocasião. É de sopa, sopa e sopa que vamos hoje... É sopa pra agradar o corpo e acalentar a alma. Esbalde-se! Sopinha de pão com hortelã: corte 3 pãezinhos em cubinhos e doure na manteiga. Divida os cubinhos em 4 tigelas de sopa. Coloque folhas de manjericão por cima e regue com caldo de carne bem quente (prepare dois litros de caldo). Caldo de feijão-mulatinho com pêra: cozinha-se a pêra com casca e cabinho em pé, no próprio caldo de feijão. Sirva-a no meio do prato, inteira com o caldo por cima e regue o feijão com vinagre comum ou balsâmico ou limão. Troque o feijão por lentilhas se preferir. Sopa de frutas: limpe, tire caroços e pele de abacaxis, pêssegos, laranjas, cerejas... Corte as maiores em pedaços e deixe as menores inteiras. Branqueie tirinhas de laranja e de limão na água fervente e refresque em água fria. Coloque uma garrafa de vinho tinto para reduzir pela metade, tempere com açúcar, junte as cascas de laranja e folhas de hortelã. Misture tudo com cuidado e deixe na geladeira por duas horas antes de servir em lindas taças transparentes.
Bendita seja a chuva que molha a terra e nutre o solo a ser fecundado... Benditas sejam as mãos que colhem agradecidas, os frutos dela. Obrigada Nina por seus escritos e essas comidas que são deliciosamente bebidas.
Bon appétit!

domingo, 13 de setembro de 2009

ENTRE ALHOS & BUGALHOS





Alho todo mundo conhece, percebe de longe; nem todo mundo gosta, mas alho é alho e isso não se discute. E o tal bugalho? Esse está na boca do povo e nem comida de gente é; faz parceria com o alho em expressões repetidas pelos quatro cantos, temperando o linguajar popular, mas não passa de uma protuberância arredondada que se forma em algumas árvores como o nobre carvalho, o sobreiro e a azinheira; tal saliência tem lá sua serventia, afinal é no interior do bugalho que a vespa se desenvolve e aí passará por todas as fases das suas metamorfoses: larva, ninfa e inseto adulto. Acho que aqui mora a (con)fusão entre os dois: o alho alimenta e cura o homem, o bugalho nutre a larva até que se torne vespa, duas histórias recheadas de magia e graça. É entre esses dois mundos que escolhi viver, oscilo entre comida e história; de vespa, descobri, tenho muito, fui larva, ninfa e hoje vespa livre; bati asas, aprendi a voar, mas de anjo, confesso, tenho muito pouco. Daqui pra frente, não troquemos alhos por bugalhos. É a história do vegetal encontrado na forma de raiz que quero debulhar... Esta panacéia conhecida desde a antiguidade. Seu bulbo, popularmente conhecido como cabeça, é composto por dentes que são usados como condimento culinário e como medicamento há milhares de anos em todo o mundo. No Egito era empregado para remediar males do aparelho digestivo e na Grécia Antiga, para tratamento de patologias pulmonares e intestinais. Hoje, sabe-se que o alho possui inúmeras propriedades terapêuticas contra doenças do coração e funciona como um antibiótico natural no organismo humano. Os altos teores de zinco e selênio (metais antioxidantes) estão diretamente ligados ao funcionamento do sistema imunológico. Em resumo, dados, estudos e pesquisas comprovam o que nossas avós estão carecas de saber e repetir: alho é gostoso e é bom pra tudo! Porém os gostos são pouco unânimes. Os povos mediterrânicos são seus maiores apreciadores, associando-o geralmente ao tomate e à cebola. Outros menos adeptos a seu uso, devido ao odor forte e picante, chegaram a chamar a plantinha de rosa fétida. Uma curiosidade aos amantes da rosa fétida é um restaurante temático de mesmo nome, o Stink Rose, em São Francisco (Califórnia), onde a maior parte do que se consome é temperado com alho e alguns pratos apresentam um gosto bem acentuado deste tempero. Mais curioso ainda, é um vinho carregado de seu cheiro e sabor. Sem falar de uma sobremesa muito peculiar, o sorvete de alho. Valho- me Deus! É pra lá que eu vou.
Faça esse Frango com 40 dentes de alho que é batata para afastar qualquer vampiro mal intencionado. Providencie um frango pequeno, 40 dentes de alho inteiros e com pele, 30gr de manteiga e sal quanto baste. Derreta a manteiga e doure o frango inteiro de todos os lados. Salgue, junte os dentes de alho e um pouquinho de água. Feche bem e cozinhe por 30 minutos sem abrir a panela. Come-se espremendo o alho entre os dedos sobre uma torrada, amassando-o em seguida pra formar um purezinho. Bon appétit!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

AO LONGO DO CAMINHO...



(e não é o das Indias). Setembro de 2005. Pelo menos metade do caminho a ser percorrido já tinha ficado para trás; para trás também ficaram muitas dúvidas, alguns medos e outras inhacas. Outro tanto estava por vir, mas a essa altura, já tinha aprendido: era um dia por vez, uma passada na frente da outra e pronto. De qualquer maneira, forças não tinha mais para programar o dia seguinte; aprendi na marra a não me pré-ocupar e a só me ocupar do que estava diante do meu nariz. Ao todo foram trinta e três dias de muito sofrimento físico (já que preparo não tinha nenhum) para completar a pé, os oitocentos quilômetros que separam Saint Jean Pied de Port, no extremo sul da França, de Santiago de Compostela, no noroeste da Espanha. Mazelas à parte, sobraram as boas lembranças, a graça e o prazer de viver aos poucos e com pouco neste caminho que é um testemunho do poder da fé cristã. Tão prazeroso quanto, foi emagrecer co-men-do! Começava o dia com uma tigelinha de café com leite e duas madeleines (ok, três) que adoçavam a boca por horas; algumas frutas colhidas ao longo do caminho completavam a refeição matinal (comi amoras, uvas e figos pelo resto da minha vida); por volta do meio-dia, um naco de queijo com pão fazia as vezes de almoço, à sombra de uma árvore ou à beira de uma fonte de água fresca... E dá-lhe pernas (e muita força de vontade) pra seguir em frente e chegar, até o cair da tarde, no próximo vilarejo onde a carcaça descansaria em algum albergue coalhado de peregrinos vindos dos quatro cantos do mundo. No jantar, refeição principal dos andarilhos (essa sim, regada a vinho pra lavar a alma), o menu do peregrino a oito euros, virava banquete, comida pantagruélica, diante da fome diabólica que assolava os santos andantes com direito a uma bela massa de entrada, um farto pedaço de frango ou carne, legumes cozidos, batatas macias, pão e um crème caramel (um pudinzinho sem-vergonha) de sobremesa. Foi numa dessas refeições que comi a fritada espanhola, uma espécie de omelete de batatas, muito simples, mas de comer de joelhos e esperar que a digestão seja feita durante o merecido sono que pode virar um maldito pesadelo.
Descasque algumas batatas, corte-as em cubinhos e frite-as na frigideira em óleo bem quente (escorra o excesso de óleo) e reserve. Bata alguns ovos para omelete, tempere com sal, pimenta do reino, cheiro verde ou ervas finas ou o que bem quiser (vale usar pimentões e tomates picadinhos, alho, cebola, imaginação). Jogue a mistura sobre as batatas ainda quentes e leve novamente ao fogo até cozinhar os ovos e obter uma omelete espessa e cremosa por cima. Corte-a como uma pizza, sirva os amigos e comam sem culpa... Mas amanhã bem cedinho, sebo nas canelas! Buen camino!
Bon appétit!

domingo, 30 de agosto de 2009

LAMBENDO OS DEDOS



Uma amiga querida que adora colocar frases interessantes no MSN, me mandou essa aqui de William Shakespeare: "É um péssimo cozinheiro aquele que não pode lamber os próprios dedos." Ainda bem que lambo os meus com prazer.
O que é lamber senão re-conhecer o des-conhecido através da língua. Filhotes lambem e são lambidos ao nascerem, é o bichinho experimentado, reconhecido, adotado. As mães não o fazem com suas crias (bem que gostariam), experimentam por outros meios, a saborosa maternidade. Os bebês, que critérios ainda não têm, lambem, lambem e na ponta da minúscula e curiosa língua está a descoberta do novo, é fome de fome e fome de mundo. E o pequenino explorador segue feito felino, lambendo o que lambível lhe parece. Levam absolutamente tudo à boca, enquanto as mães se descabelam com tamanha lambição... “Nãooo, eca, é caca!”. E lá se foram, empurrados pela língua, uma asinha de barata ou um chiclete alheio mastigado ou um pedaço de papel, um botão, uma bituca de cigarro... Comida que é bom, é cuspida, rejeitada... Bicho esquisito é criança. O pior é que elas crescem e as estranhezas da idade miúda, viram graça, saudade...
Coincidência ou não, o fato é que no mesmo dia em que recebi a mensagem da minha amiga, uma outra, minha chef préférée que não perdeu o gosto pelas coisas simples da infância, me enviou uma receita de lamber os beiços, os dedos, o prato. Agora estou eu aqui, falando de lambição, de lambança de criança, o texto surgindo aos poucos, feito retrato tirado no lambe-lambe... Impressionada com a destreza e o valor de tão bizarro órgão. Dispa-se das frescuras, ponha a mão na massa dessa Cuca de maçã que vai lhe trazer um gosto esquecido, quase perdido daqueles velhos e bons tempos de melecagem, digo, molecagem... A cuca é um bolo típico alemão coberto com uma farofa doce e recheado com frutas. Para fazer a sua, você vai precisar de 1 xíc. de açúcar, 4 colh. de sopa de margarina, 3 ovos (clara e gema separadas), 2 xíc. de farinha de trigo, 1 colh. de sopa de amido de milho, 1 colh. de café de fermento, 1/2 xíc. de leite, 1 pitada de sal, raspas de 1 limão, 2 colh. de sopa de suco de limão e 2 maçãs gala com casca e sem miolo. Para a farofa: 2 colh. de sopa de margarina, 1/2 xíc. de açúcar, 3 colh. de sopa bem cheias de farinha de trigo e canela em pó. Misture o açúcar, as gemas, as raspas de limão e a margarina até ficar um creme clarinho. Junte o leite, a farinha, o amido de milho e o sal. O fermento e as claras em neve vão por último. Para fazer a farofa, misture os ingredientes e amasse com a ponta dos dedos pra ficar bem soltinha. As maçãs são fatiadas bem finas e regadas com o suco de limão. Essa mistura é colocada em cima da massa e depois coberta pela farofa. Leve ao forno pré-aquecido a 180° por 45 minutos. Coma pelo menos um pedaço com as mãos e depois, claro, lamba os dedos!
Bon appétit.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

OVINHOS FRITOS



“Fertilidade masculina pode ser frita em banco aquecido”. “Estudo indica que produção de espermatozóides é prejudicada se a temperatura escrotal fica acima de 36°C.” É sério gente, segundo cientistas, o calor do assento de um veículo pode mesmo prejudicar a produção de espermatozóides, uma vez que aumenta a temperatura escrotal acima da ideal, entre 35° e 36°. Tal aquecimento, ainda que mínimo, pode interferir na (re)produção humana... O artigo é interessante, bem escrito e esclarecedor, mas a imagem de dois ovinhos fritos sobre o banco de um carro é que não sai da minha cabeça. É o lado cômico diante da gravidez, digo, da gravidade do assunto. E claro, a tentação de esticar o tema é grande, mas do meu jeito, aproveitando o gancho pra falar deste que é um dos alimentos mais polêmicos: o ovo. O que veio antes, o ovo ou a galinha? Considerando que a galinha nasce do ovo e o ovo é colocado pela galinha, fica no mínimo confuso, determinar o responsável pela criação original. De acordo com a teoria da evolução, o ovo veio primeiro. “Deve-se considerar que o ancestral da galinha (ainda não é uma) botou o ovo com a mutação que resultaria a moderna galinha. Esta por sua vez, apenas perpetuou essas mutações. Se fizer a mesma pergunta a esse ancestral, chegaremos ao ser mais primitivo que deu origem a toda a vida. Ou seja, biologicamente, o ser mais simples vem primeiro, ao passo que o mais complexo vem posteriormente. Segundo a teoria criacionista, a galinha veio antes, criada por Deus no início dos tempos.” O dilema permanece mas non, rien de rien me impedirá, apesar de toda confusão, de louvar esse alimento valioso que permeia nossa história. Sem falar do seu valor nutricional nem da sua reputação de vilãozinho, pense somente em como as coisas teriam sido sem ele. O que teria acontecido sem as gemadas douradas de nossas mães e avós que restauravam qualquer um com o pé na cova? Que gosto teriam tido nossas manhãs sem o ovinho caipira quente e mole, levemente salgado e preparado com tanto capricho? Valha-me Deus, pense no pão-de-ló, nos bolos, nos doces, nos cremes, nas omelettes... Não estou dizendo pra ninguém viver de ovo, mas que ovo é vida, isso não dá pra negar.
Tá pensando que fritar ovo é pra qualquer simples mortal? É teste que reprova nas grandes escolas de cozinha. Quer fazer ovos fritos perfeitos? Doure os ovos na manteiga, em frigideira (cuidado para não estragar as gemas). Salgue só as claras, frite um pouco sobre o fogo e leve ao forno quente até velar as gemas (elas e uma parte da clara devem permanecer macias). Acerte as beiradas com cortador redondo e voilà, seus ovinhos estão fritos.
Bon appétit.

domingo, 16 de agosto de 2009

NO CALDEIRÃO DE MADAME LARA


E o festival chega ao fim. Foram seis dias de orgia com os sabores de Mato Grosso. A cozinha do Hotel Deville borbulhou feito caldeirão de bruxa, mas em volta das imensas panelas que exalavam o perfume dos nossos frutos, estava uma fada, Edna Lara. Mulher concentrada, de olhar penetrante que vai do azul angelical ao verde satânico (quem mandou meter a colher no caldeirão de madame Lara?!), um poço de energia e simpatia. E claro, eu estava por ali, na cola da chef, à espreita de um gesto, um movimento, o pulo-do-gato (nesse caso, da gata) que daria à receita clássica, um tempero à la Edna. Presenciei alguns “pulinhos” e nem pense que vou revelar tudo aqui, assim, de mão beijada, já que pra isso tive que ralar, digo, descascar muiiiitas bananas... e dá-lhe banana-da-terra pra cortar em pedaços generosos e coroar o cozidão, picada em cubinhos pra fazer a farofa, em lâminas pra fritar... Não estou reclamando (eu diria que foi até excitante manipular tantas), faria tudo de novo só pra gravar para sempre na memória gustativa, todos os cheiros e os sabores dessa região tão generosa... Da Maria Izabel, passando pela Mujica de Pintado, rumo à Galinha caipira com arroz, sem esquecer o Feijão empamonado, nem o Quibebe de mamão verde, muito menos a Farofa de banana-da-terra, opa, quase pulei a Paçoca de pilão... E depois do Doce de goiaba em calda e a Laranja seca, só mesmo um Licor de folha de figo pra ajudar a digestão que se Deus quiser, vai ser feita no aconchego preguiçoso de uma rede... Quem comeu, comeu; quem não comeu, corre atrás do livro dela, recheado de receitas e fotos maravilhosas que têm a cara de Mato Grosso, porque passar fome, nem Deus há de deixar!
Escolhi uma receita muito simples e ao mesmo tempo intrigante, à base de quê, de quê? Adivinhe...
Sopa de banana-da-terra verde. Descasque 5 bananas bem verdes e lave-as. Corte-as em cruz bem fina. Passe água fervente para retirar as enzimas. Numa panela com 2 colheres de sopa de óleo, doure 1 cebola média picada e 3 dentes de alho socados. Junte as bananas e abafe a panela por alguns minutos. Coloque um pouco de água e sal e cozinhe por mais cinco minutos. Tampe a panela. Mexa de vez em quando para não secar. Depois de cozida, acerte o sal, coloque mais água, pimenta-do-reino moída na hora e cozinhe até engrossar. Desligue e cubra com salsa e cebolinha picadas.
A culinária Mato-Grossense é farta, preparada em panelões e sempre compartilhada. Quer coisa melhor?!
Bon appétit!

sábado, 1 de agosto de 2009

O ESCRITOR REALISTA & O CHEF SURREAL



“O escritor novo, moderninho, todo bossa nova, em busca de uma nova maneira de enviar sua mensagem ao leitor, o escritor cheio daquela doença atual de querer complicar o óbvio, sentou às margens de sua máquina de escrever disposto a iniciar um romance que iria revolucionar a técnica literária e o estilo do romance no Brasil. Colocou um papel branquinho na máquina e respirou profundamente. Sentia-se que o escritor novo estava às margens da criação genial... O escritor novo que buscava a suprema originalidade olhou com ar superior para o papel branco a sua frente e começou a escrever: "João atravessou o relvado em direção a Maria, que corria para ele, de braços abertos. Enlaçou-a e disse...". Aí o escritor novo parou um instante para pensar. Não lhe vinha de imediato a frase certa... Acendeu um cigarro e ficou pensando um pouquinho. Resolveu não forçar a barra. A inspiração teria que vir espontânea... Depois voltou à máquina, releu o que escrevera mas não sentiu — mais uma vez — as palavras brotarem em sua mente para chegar ao papel. O escritor foi até o banheiro, molhou um pouco a fronte com água fria e voltou para sua cadeira. Releu o que escrevera: "João atravessou o relvado em direção a Maria, que corria para ele, de braços abertos. Enlaçou-a e disse...". Aí o escritor parara, sem achar a expressão certa, mas naquele momento ela lhe aflorava no cérebro, felizmente. E o escritor novo, moderninho e preocupado em ser diferente sorriu, para depois escrever: — Eu te amo.” (Stanislaw Ponte Preta)
A tal “doença de querer complicar o óbvio” já está com um pé na cozinha (os dois talvez). "Atire a primeira faca" quem nunca comeu uma porcaria assinada por um desses chefs modernos, cheios de nove horas, arrogantes, estressados, marrentos mesmo que transformam tudo em mousses insossas, mas salgam sem dó nem piedade a conta do infeliz comensal que nem faz ideia do que acabou de engolir (na verdade a coisa lhe desceu goela abaixo sem esforço algum... tadinho, era uma espuma de champignons). Pratos são rebatizados senão não atravessam as portas da cozinha contemporânea... Nascem o carpaccio de berinjela (aliás tem carpaccio de tudo o que lhe passar pela cabeça), o caviar de qualquer coisa que tenha sementinhas redondas e macias (o caviar nacional, feito do babento quiabo já fez os franceses babarem tanto quanto), o sorvete salgado e muitas outras esquisitices que certamente nossas avós não reconheceriam como comida. Nada contra os (bons) chefs que inventam pra quebrar a rotina, pra surpreender nossas papilas. Só queria dizer que surpresas desagradáveis também existem e são igualmente marcantes. Comida tem que dar prazer, simples! Cozinhar é antes de tudo um ato de amor (nisso não dá pra mexer, senão azeda), seguido de ingredientes de primeira e um pouco de técnica. É alquimia pura, bruxaria das boas... Você não tem que engolir o mau-humor de chefs à beira de um ataque de nervos... Haverá sempre uma pizzaria de algum italiano barulhento, alegre e debochado perto de você... Nesse caso, buon appetito!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

RESTAM ALGUMAS JABUTICABAS...



“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas: as primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói as sementes... já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que apesar da idade cronológica, são imaturas... meu tempo tornou-se escasso... quero a essência, minha alma tem pressa... sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente mais humana e racional. Gente que saiba rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos... gente que não foge de sua mortalidade... quero caminhar perto de pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente, sem fraudes... só o essencial faz a vida valer a pena...” Faço das palavras de Rubem Alves as minhas. Fazer acareação de desafetos, nunca mais! Nada melhor que deixar as tranqueiras pra trás.
E começa a temporada da nossa pequena notável, essa bolinha negra e brilhante de sabor inconfundível que encanta todo mundo, da criança ao velhinho desdentado. Eita frutinha generosa! Sua polpa suculenta, mole e esbranquiçada é rica em ferro, cálcio e vitaminas. A jabuticaba ou iapoti’kaba (fruta em botão) como os índios tupis a chamavam pode ser consumida ao natural ou usada para fazer doces, geléias, licores e até pratos mais sofisticados. Tem chef francês por aí endoidando com a frutinha, outros já se renderam a ela e alguns pratos da clássica cozinha francesa ganharam ares tropicais só para o prazer das nossas papilas (e do nosso bolso!). Quer um exemplo? O Canard aux pruneaux (Pato com ameixas) virou Pato com jabuticabas, como se não bastasse, o pato foi vencido pelo frango, mais plebeu e nem por isso menos saboroso. O resultado ficou pas mal, como diriam os franceses. Eu acho que ficou mesmo é sensacional!
Providencie 1 kg de peito de frango cortado em filezinhos, 1 colher pequena de pasta de alho e cebola, 1 fio de óleo, sal e algumas gotas de vinagre. Para o molho use uma xícara de chá de jabuticabas, a mesma medida de água, 1 pau de canela, 1 colher de sopa de vinagre de maçã, 1 colher de sopa de açúcar, 1 xícara de chá de vinho branco.Tempere os filezinhos com a pasta de alho e cebola, sal e vinagre e grelhe em uma chapa ou frigideira. Bata a jabuticaba com a água no liquidificador, coe e passe para uma panela. Junte todos os ingredientes, deixe ferver e adicione o vinho. Apure em fogo brando até adquirir consistência de calda. Regue os pedaços e sirva decorado com jabuticabas inteiras.
Ah, e aproveite sem moderação as jabuticabas que lhe restam! Bon appétit!

COMI MEU AMIGUINHO



Eu tive um “tuti”. Ele crescia todo dia um pouquinho, mas continuava sendo meu “tuti”. Era meu bichinho de estimação, não era um gatinho nem um cão, era um franguinho mesmo (e daí?). Um daqueles que os pais compravam na feira, traziam pra casa, arrumavam um cercadinho pra ele não fugir, entupiam o pobrezinho de comida durante semanas a fio e ele crescia, engordava, a penugem fina se transformava em lindas penas coloridas e ele até ficava amigo da criançada. Não podia imaginar o coitado, o que o destino lhe reservava... Muito menos eu! Fui enganada, traída, ferida no coração quando mal saía das fraldas. Ainda me lembro, eu ali de pijama, paradinha no quintal, as mãozinhas recheadas de quirela para cumprir minha obrigação matinal, a de alimentar meu melhor amigo que eu mal sabia, viraria um dia minha própria refeição... Não precisei fazer terapia para superar essa perda, mas é engraçado, cá estou eu quatro décadas na frente, ciscando no passado, cacarejando a minha dor e tentando achar um jeito de homenagear meu “tuti” e quem sabe, ser perdoada pela distinta família Galinácea, pois já aceitei, faz parte dessa incrível cadeia alimentar. E o que chamamos de vida, segue naturalmente seu curso...
Esta receita pode até ter um nome esquisito, mas é muito gostosa e tem tudo a ver com quem ainda não aprendeu a (se) perdoar. Quer tentar? (estou falando de cozinhar, o perdão você se vira para treinar sozinho!)
Então vamos a ela, sem traumas. Poitrines de poulet à la diable ou Peito de frango à moda do diabo. Providencie 2 peitos inteiros de frango(sem pele, cortados em duas partes e desossados), 3 colheres de sopa de manteiga derretida, 2 colheres de sopa fartas de mostarda de Dijon (usar condimento à base de mostarda seria um sacrilégio até com o capeta), 1 colher de sopa de água, 20gr de farinha de rosca, sal e pimenta-do-reino moída na hora. Aqueça o forno a 200°C. Coloque o frango em uma forma refratária, tempere com o sal e a pimenta, regue com um pouco da manteiga e leve ao forno por 5 minutos de cada lado. Reserve. Misture a mostarda com a água, lambuze o frango e com a ajuda de uma peneirinha, cubra os pedaços com a farinha de rosca. Derrame o resto da manteiga sobre os pedaços. Coloque novamente no forno por mais alguns minutos até que a superfície doure bem. Sirva acompanhado de cebolas roxas cortadas em rodelas grossas(aproveite pra chorar bastante!), grelhadas na manteiga com sal e salpicadas com salsa bem picadinha. Esta receita serve quatro pessoas, ou seriam... penitentes?
Bon appétit!

AS COXAS DO MEU PRÍNCIPE


"Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.Então, a rã pulou para o seu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: - Nem fo...den...do!"
(Conto de fadas para mulheres do séc. 21 / Luís Fernando Veríssimo)
Se além de beijar uma rã asquerosa para ter um príncipe em sua vida, você ainda tiver que engolir alguns sapos para não contrariar seu nobre parceiro, melhor cortar o mal pela raiz, digo, pelas pernas! Guarde com carinho esta receitinha. Você saberá quando lançar mão dela. E aí então, cara princesa, uma doce sensação de liberdade, de confiança, de alegria rechearão seus dias e você descobrirá quão prazeroso é tomar as rédeas de sua própria vida. E viva feliz (com você mesma) para sempre! Fim. (ou seria... começo?)
As coxas de rã são tão apreciadas pelos franceses, quanto os escargots (não faça essa cara de nojo, a gente acaba se acostumando). Existem muitas maneiras de prepará-las. Escolhi uma com ingredientes simples que realçam o sabor delicado do bichinho. Vamos então ao preparo das Cuisses de grenouille sautées à la lyonnaise (coxas de rã fritas à moda de Lyon). Providencie 40 coxinhas de rã, um pouco de farinha de trigo peneirada, 200 gramas de cebola, 50 gramas de manteiga, sal quanto baste, pimenta do reino moída na hora, salsinha bem picada. Passe as coxas de rã na farinha (ou faça como eu, peça alguém pra fazer isto se manipulá-las tira seu apetite), elimine o excesso sacudindo-as um pouquinho e faça-as “saltar” na manteiga quente (ô sina!) junto com as cebolas laminadas, mexendo de vez em quando até ficarem douradas. Acrescente o sal, a pimenta e por último, a salsinha picada. Sirva bem quente com gotas de limão e algumas folhas verdes suavemente temperadas para acompanhar. Esta receita serve de 4 a 6 pessoas, quero dizer, princesas pra lá de espertas! Croac... e o príncipe deu seu último suspiro...
Bon appétit!

VOLCANO?!



“A fantástica fábrica de chocolate suíço Barry Callebaut anunciou ter produzido uma versão do doce que não derrete e é realmente light. A boa notícia para os chocólatras preocupados em manter a forma foi veiculada pelo jornal britâncio The Observer. De acordo com a publicação, o chocolate tem 90% menos calorias que a média e resiste a temperaturas superiores a 55ºC, enquanto a maioria dos chocolates começa a derreter com temperaturas de 30ºC. O chocolate é ultramagro, praticamente puro cacau, e foi batizado de Volcano. "É chamado de Volcano porque pode ser comido quando está quente e é aerado e cheio de bolhas, como uma pedra vulcânica", explica o porta-voz da fábrica. O chocolate, que poderá ser consumido em dias quentes sem derreter no bolso, deve chegar às lojas em cerca de dois anos. Nos corredores da fábrica, o Volcano ganhou o apelido de Wonder bar.”
Socorro!!! Que graça terá um chocolate sem gordura, sem açúcar que não derrete e nem lambuza a gente? Quanto tempo vamos ter que mantê-lo no calor da boca pra conseguir um naco de prazer? Que chocólatra de verdade guarda chocolate no bolso por mais de alguns minutos? Não estou menosprezando as virtudes do cacau, mas vamos combinar, não são só as propriedades benéficas do fruto que buscamos em uma barra de chocolate. Queremos os prazeres sutis, quase indescritíveis, que nos fazem sucumbir à tentação. Queremos mesmo é pecar com ele! Que ele se misture aos fluidos salivares e nos arranque hummms do fundo da alma... Você conhece algum alimento verdadeiramente ligth que lhe arranque suspiros de prazer? Acredite, não vai ser essa pedra vulcânica aerada apelidada de barra maravilhosa que vai lhe dar um momento de deleite. Ainda nos restam dois anos antes dessa “coisa” invadir nossas vidas. Aproveitemos antes que a mídia pegue pesado e coloque o nosso velho, bom e doce chocolate na lista das drogas ilícitas (estou exagerando,sei) e aí, meus amigos, a única coisa que vai melar, é a nossa relação com ele!
Depois desse desabafo, o que tenho em mente é uma receita despretensiosa de creme de chocolate, daquelas que aprendemos com as avós, sabe? Em uma panela, derreta 250gr de chocolate meio-amargo com um pouco de leite. Retire e acrescente 3 colheres de sopa de açúcar e 2 de farinha de trigo peneirada. Cozinhe em fogo brando juntando aos poucos o restante do leite (até completar 1 litro) mexendo sem parar até que o creme engrosse. Retire e junte 1 colherinha de manteiga. Deixe esfriar em uma tigela bonita antes de colocar para gelar e depois, acabe(-se) com ele! E esse tal de Volcano que se exploda!
Bon appétit!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

MULHER-FIGO



Vinte e sete de julho. Hoje é aniversário de uma amiga querida, anfitriã cinco estrelas e uma cozinheira de mão(s)-cheia(s) que mora longe de mim (na verdade sou eu que moro longe de todo mundo). Foi ela mesma que me lembrou já no fim da tarde. Felizmente ela já passou da fase de fazer beicinho e eu da idade de ter vergonha por conta desses descuidos. Viramos a página e encerramos nosso papo virtual com o carinho de sempre.
Você certamente já foi apresentado, através da mídia, à mulher-melancia e à mulher-jaca conhecidas só e somente só pelos (des)avantajados quadris; à mulher-rodízio, aquela que tem carne pra todo mundo, como se autobatizou a famosa Preta Gil; e à mulher-banana, “como o próprio nome diz, inocente, ingênua e tolinha... que vai morrer sem dinheiro e só é rica em potássio... ela acredita que ser elegante vale mais do que ser ordinária... e ainda sonha com a valorização de um comportamento social menos nanico”, adoravelmente descascada pela Martha Medeiros, em uma de suas deliciosas crônicas; e tem ainda a mulher-moranguinho (sei lá quem é esta) e a mulher-jabuticaba, aquela que... bom, deixa pra lá. O que estou querendo com toda essa feira de mulheres, é dizer que se minha amiganiversariante tivesse que ser rotulada, certamente caberia a ela uma bela etiqueta de mulher-figo. Considerada uma árvore sagrada, de crescimento amplo e ramos frágeis, a figueira é símbolo de honra, seu comportamento é cosmopolita e sua capacidade de adaptação climática é impressionante. Flores miudinhas se desenvolvem no interior da chamada fruta do figo, quando ainda verde. O figo é uma fruta energética, doce, delicada e tem muita, muita fibra! Assim é minha amiga. Porém, lamento informar que somos mesmo é mulher-uva... Nascemos redondinhas, lisinhas, firmes e brilhantes, podemos até virar vinho (ou vinagre), mas acabamos mesmo é em caixinhas, feito uva-passa.
Estamos no inverno, a vontade de comer frutas diminui, aí temos que achar um jeitinho diferente para não deixá-las fora da mesa. Escolhi uma receita fácil e deliciosa que vai coroar comme il faut sua refeição. Lave bem 12 figos maduros e corte-os em cruz sem separar as partes. Coloque um raminho de alecrim em cada fruta e disponha-as em um refratário. Regue com mel. Asse em forno quente por 8 minutos (ou 1 minuto no micro-ondas). Derreta (em banho-maria) 120 gramas de chocolate amargo (70% cacau). Sirva os figos sobre uma espessa camada de chocolate e... Bon appétit!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O GOSTO DA VIDA



De acordo com pesquisadores e cientistas, somos capazes de ouvir formas e até sentir o gosto dos sons. Esta sinestesia influencia nossa percepção e nos ajuda a experimentar uma mistura de sensações. Acredita-se que menos de 1% da população é capaz de tal “façanha divina”( é assim que vejo tudo isso) que pode se dar de diferentes maneiras: algumas pessoas vêem os sons, certos sons invocam cores particulares. Outros experimentam cores quando lêem palavras escritas em texto simples e preto. E mais: de acordo com o professor de psicologia experimental da Universidade Oxford, Charles Spence, todos somos sinestésicos até um ponto. Sinestesia (junção de sensação) é a relação de planos sensoriais diferentes, como gosto & cheiro, ou visão & olfato. O termo é usado para descrever uma figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.
Muita verdade há nisto. Não há como negar. Inúmeras vezes lançamos mão da mistura de sensações para fazer o nosso sentir chegar ao outro (eu mesma sou dona de fazer isto nos meus textos); essa mistura está por toda parte, ela nos envolve a todos, de maneiras diferentes, mas está ali, disfarçada para uns, mais explícita para outros.
"Os carinhos (tato) de Godofredo não tinham mais o gosto (paladar) dos primeiros tempos."
"O brilho macio do cetim." (visão & tato)
"O doce afago materno." (paladar & tato)
"Verde azedo." (visão & paladar)
"Aroma gritante." (olfato & audição)
"O delicioso aroma do amor" (paladar & olfato)
"Beleza áspera" (visão & tato)
Já sentimos saudades amargas, já ouvimos uma melodia azul ou uma voz áspera, já sentimos o cheiro doce de um perfume... Por que não poderíamos provar o gosto de uma música? Degustar um concerto inteirinho como se fosse uma longa e deliciosa refeição, com notas suaves de entrada, seguido de sons mais consistentes como prato principal e coroado com notas doces e florais para a sobremesa.
Até consigo imaginar, pois certamente não estarei mais por essas bandas, quão prazeroso será quando os homens finalmente aprenderem a apreciar com todo o seu sentir, o som, a cor, o cheiro e o sabor da vida!
Hoje não tem receita de comidinha por aqui. Acho que um jejum é mais apropriado. Dê uma breve trégua para esse corpo cansado de tanto digerir. Vá ouvir um pouco de boa música, feche os olhos, deixe que ela lhe embale, experimente os sons, saboreie cada nota e sobretudo não deixe de me escrever se suas papilas vibrarem com ela. Degustarei com prazer suas palavras.
Bon appétit.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

UNIDOS PARA SEMPRE... AMÉM.



Outro dia, fuçando vídeos na net, tive uma agradável surpresa com um daqueles rapidinhos, tipo campanha publicitária, realizado por alunos de artes visuais da Universidade de Londrina. O vídeo me chamou a atenção pela banalidade do tema: arroz com feijão. O filminho tem como protagonistas dois meninos, de origens distintas, sentados diante de um prato de arroz com feijão colocado sobre uma mesinha coberta com uma toalha xadrez. Nada mais comum não fossem o batuquezinho frenético como fundo musical e uma única colher usada por um dos garotos para misturar os dois alimentos no prato, enquanto se lê: “Não seria tão mais gostoso se pudéssemos fazer assim...” Segundos depois, arroz e feijão devidamente misturados, uma farta colherada da “dupla” é oferecida ao outro menino, seguida por um sorriso amigo, um olhar fraterno e um longo abraço. E o que se lê neste momento é: “Não tente separar a melhor mistura. Você faz parte disso”.
Confesso que revi a cena diversas vezes, só para deixar gravado, que você e eu podemos até parecer diferentes, mas fazemos parte da mesma trama, somos como alimentos distintos recheando o mesmo prato, somos mesmo é farinha do mesmo saco. E quem sabe juntos e bem misturados é que conseguiremos realçar o sabor da vida.
Aprecio o gosto que resulta desse casamento, um gosto singular e marcante que encanta nosso povo (e quem por aqui acampa) há séculos. Quem melhor que o Baião de Dois, saído das humildes cozinhas do sertão nordestino, representaria tão bem essa união que mais parece a dualidade do mundo expressa no preto & branco, quente & frio, luz & sombra,
macho & fêmea e por aí vai... Arroz & Feijão é a nossa identidade, é mistura autêntica, forte e cheia de graça. Existem muitas maneiras de preparar este prato, então não se prenda a detalhes ou vai acabar perdendo o apetite. Use esta receita como base para criar o seu baião e divirta-se com suas panelas!
Providencie 500gr de feijão verde (ou mulatinho ou fradinho), 1 xícara de coentro picadinho (ou salsinha), 2 xícaras de chá de arroz lavado e escorrido, 1 pimentão vermelho picado, 1 cebola grande picada, 5 colheres de sopa de manteiga de garrafa (ou óleo), 200gr de toucinho defumado, sal quanto baste. Lave o feijão e coloque-o em uma panela de ferro de preferência (se usar outro feijão que não o verde, use panela de pressão). Corte o toucinho em cubos pequenos, lave-os, escorra-os e junte-os ao feijão. Adicione 2 litros de água e cozinhe por aproximadamente 35 minutos. Reserve. Em outra panela, aqueça a manteiga e refogue a cebola e o pimentão. Incorpore o arroz e refogue por mais alguns minutos. Junte o feijão reservado (descarte o toucinho), mais 3 xícaras de chá do caldo de seu cozimento e o sal. Misture, deixe levantar fervura e cozinhe até o arroz ficar macio. Junte o coentro, mexa com cuidado e sirva com banana-da-terra cozida e picada. Delicie-se e... Bon appétit!