“primeiro lenta e precisamente arranca-se a pele/ esse limite da matéria/ mas a das asas melhor deixar pois se agarra à carne como se ainda fosse voar/ as coxas soltas/ soltas e firmes devem ser abertas e abertas vão estar/ e o peito nu com sua carne branca nem lembrar a aproximação do coração/ esse não/ quem pode saber como se tempera um coração?/ limpa-se as vísceras/ reserva-se os miúdos pra acompanhar/ escolhe-se as ervas/ espalha-se o sal/ acende-se o fogo/ marca-se o tempo/ e por fim de recheio/ a inocente maçã que tão doce úmida e eleita/ nos tirou do paraíso/ e nos fez assim/ sem receita.” (Canção de Alice Ruiz e Zé Miguel Wisnik)
E mais um ano se inicia. Um novo Ano Novo sem receita, feito você e eu e todo mundo. Quais serão os temperos dos dias vindouros? Que gosto terão as noites de sábado, as tardes de domingo? Sem falar nas manhãs das tantas segundas. Quantas horas doces alegrarão nosso apetite voraz? Quantas outras, amargas, salgadas demais, teremos que engolir? E valha-me Deus, o que faremos com aquelas insossas, sem perfume algum? Que momentos nos deixarão marinados na emoção? “Quem pode saber como se tempera um coração?” É que cada coração se tempera diferentemente. Não há cozinheira ou cozinheiro que detenha o segredo da receita. Nem há receita. Alguns precisam de sal, pimenta talvez... Outros, um punhado de açúcar pra disfarçar a acidez... O outro é duro demais, de cozimento lento e paciente (há de ter muito talento quem com esse se meter!)... Para aquele outro, frágil, de manuseio delicado, basta um punhadinho de ervas-finas e pronto, o tempero fica no ponto... E tantos outros...
Não há muito o que fazer, a não ser ficar atento, prestar atenção, pois cada coração tem seu ponto exato de cocção.
Só peço que não me falte a tal da inspiração, pra te encher de receitas boas que te abram o apetite, te levem pra cozinha e te alimentem também o danado coração. Feliz 2011!
Bon appétit!
E mais um ano se inicia. Um novo Ano Novo sem receita, feito você e eu e todo mundo. Quais serão os temperos dos dias vindouros? Que gosto terão as noites de sábado, as tardes de domingo? Sem falar nas manhãs das tantas segundas. Quantas horas doces alegrarão nosso apetite voraz? Quantas outras, amargas, salgadas demais, teremos que engolir? E valha-me Deus, o que faremos com aquelas insossas, sem perfume algum? Que momentos nos deixarão marinados na emoção? “Quem pode saber como se tempera um coração?” É que cada coração se tempera diferentemente. Não há cozinheira ou cozinheiro que detenha o segredo da receita. Nem há receita. Alguns precisam de sal, pimenta talvez... Outros, um punhado de açúcar pra disfarçar a acidez... O outro é duro demais, de cozimento lento e paciente (há de ter muito talento quem com esse se meter!)... Para aquele outro, frágil, de manuseio delicado, basta um punhadinho de ervas-finas e pronto, o tempero fica no ponto... E tantos outros...
Não há muito o que fazer, a não ser ficar atento, prestar atenção, pois cada coração tem seu ponto exato de cocção.
Só peço que não me falte a tal da inspiração, pra te encher de receitas boas que te abram o apetite, te levem pra cozinha e te alimentem também o danado coração. Feliz 2011!
Bon appétit!