quinta-feira, 25 de junho de 2009

"AMADAS OU ODIADAS, MAS SEMPRE RESPEITADAS"

Um grupo nativo de hortaliças, do gênero capsicum (do grego kapto que significa picar), originárias das regiões tropicais da América do Sul, encanta o mundo com sua beleza, colorido e ardor. São as chamadas “pimentas hortículas” que dominam o comércio das especiarias picantes e já foram até moeda de troca.Sou uma grande consumidora de pimentas e falar sobre este universo vasto e dinâmico (neste exato momento, uma nova variedade pode estar nascendo em alguma parte do mundo), me fascina. Porém, terei que me limitar àquelas que alimentam minha curiosidade e meu vício. Ser “viciado” em pimenta pode ser uma expressão bem adequada, pois quem come o fruto com frequência, tende a consumi-lo em quantidades cada vez maiores. O fato é que sua picância causa uma sensação semelhante à de uma queimadura e o cérebro, para compensar o desconforto, libera a produção de endorfinas, substâncias que produzem uma ação analgésica prolongada, intenso bem-estar e uma certa euforia. Seria então, esta espécie de “morfina natural”, a explicação para a irresistível atração que essas “diabinhas” exercem sobre nosso palato?A eleita da semana é da mesma família do tomate, da berinjela e do jiló. Também conhecida como chifre-de-veado; seca e esmigalhada, recebe o nome de calabresa. Quando madura, é vermelha e rica em capsaicina, substância responsável pelo ardor que sensibiliza as glândulas salivares e estimula o apetite. Nossa estrela, a saborosa Dedo-de-Moça é uma das pimentas mais consumidas no Brasil. Seu grau de pungência varia de suave a mediano (grau 6 na escala de temperatura de 1 a 10 de Julie Cohn). Perfeita para temperos de azeitonas e de molhos em geral, saladas e cozidos, fica deliciosa com feijão e até em sobremesas achocolatadas, consideradas por muitos, afrodisíacas (não custa nada testar, digo, tentar). Experimente colocar pedaços bem picadinhos dela (sem sementes!) na massa do seu bolo de chocolate preferido, na sua mousse de chocolate ou em trufas de chocolate meio-amargo e sinta um delicioso ardor escorrer suavemente pela garganta e aquecer ligeiramente o peito; uma breve confusão entre ardor e frescor provocará uma sensação prazerosa em você. Eis uma receita deliciosa e versátil, excelente para acompanhar carnes vermelhas, queijos, torradas e até sorvetes: a geleia de pimenta. Leve ao fogo 1,5kg de açúcar, 1 xícara de vinagre branco e 1kg de pimenta dedo-de-moça, cortadas em pedacinhos bem pequenos. Quando levantar fervura, retire a mistura do fogo e deixe esfriar. Acrescente em seguida, 1 xícara de suco de limão e leve ao fogo alto por 2 minutos, sem parar de mexer. Diminua a chama, junte um pacote de pectina natural e misture com colher de pau. Guarde a geleia em potes de vidro devidamente esterilizados e vire-os de vez em quando, até que esfriem, para garantir que a pimenta fique distribuída por toda a geleia.
“Eu não sinto dor, a pimenta é meu mestre. Eu não sinto dor, a pimenta me leva além de mim. Eu não sinto dor, a pimenta me dá o sinal", este é o mantra contra a dor, para ser repetido silenciosamente, enquanto se experimenta a queimação. Quem avisa, amigo é. Bon appétit.

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