
“Semana que vem, te trago alguns pequis!” Bastou ouvir esta frase de um amigo, para que este fruto que causa tanto rebuliço nas matas do cerrado brasileiro, causasse o mesmo em mim. Enquanto os frutos prometidos não chegam e o festival culinário fica só no imaginário, degustemos verbalmente esta delícia que nasce, cresce e frutifica nas chapadas, apesar da hostilidade da terra.“... Das tuas lágrimas nascerá uma planta que se tornará árvore copada. Ela dará flores cheirosas que os veados, as capivaras e os lobos virão comer nas noites de luar. Depois nascerão frutos. Dentro da casca verde, os frutos serão dourados como os cabelos de Uadi. Mas a semente será cheia de espinhos, como os espinhos da dor de teu coração de mãe. Seu aroma será tão tentador e inesquecível, que aquele que provar do fruto e gostar, amá-lo-á para jamais o esquecer. Como também amará a terra que o produziu. Todos os anos encherei, generosamente, sua copa de frutos, que os galhos se curvarão com a fartura. Ele se espalhará pelos campos, irá para a mesa dos pobres e dos ricos. Quem estiver longe e não puder comê-lo, sentirá uma saudade doida de seu aroma. Nenhum sabor o substituirá. Ele há de dourar todos os alimentos com que se misturar e na mesa em que estiver, seu odor predominará sobre todos. Ele há de dourar também os licores, para a alegria da alma...” diz a lenda. Entre as centenas de frutos que se espalham pelos campos e matas do Brasil, o pequi encanta mais que todos. Ele não tem dono certo. Dono é quem chega primeiro e os colhe. E quando o pequi começa a soltar os frutos, o convite se esparrama e homens, mulheres e crianças se levantam antes dos primeiros raios de sol para colher os frutos que caem abundantemente durante a noite. Nossa estrela dourada da culinária regional torna-se então, motivo de festança de janeiro a março, entre sertanejos, indígenas e brancos. A venda dos frutos nos mercados e nas ruas, a produção do óleo da polpa, a extração da castanha para paçoca e óleo branco, representam três meses de intensa atividade, muita alegria e fartura. O pequi é indiscutivelmente, um fruto generoso! Porém, para desfrutar durante todo o ano, das delícias deste fruto sazonal, do seu poder afrodisíaco (uau!) e não perder os laços com esta culinária amarela, de gosto e aroma tão peculiares, rica em proteínas e vitamina A, prepare logo sua conserva de pequi, cozinhando os frutos e em seguida raspando a polpa macia e carnuda (deve estar aí o tal poder!) com uma colher. Coloque em um vidro esterilizado, acrescente óleo, cebola e pimenta. Use para temperar alimentos, saborizar o arroz nosso de cada dia, dourar aves e carnes... Enfim, surpreender um amigo que você, previamente descobriu, acha que pequi é bom demais da conta! Bon appétit !
“No cerrado, de solo tão infértil, a terra sofre muito para parir seus frutos.”(Mara Salles)
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