quinta-feira, 25 de junho de 2009

COMEÇAR TUDO, TUDO DE NOVO...

O ritual costumava durar uma semana inteirinha... Ferver o leite da vaca da fazenda do seu Fulano, deixar esfriar, retirar cuidadosamente a espessa camada de nata (é, naquela época, a gente conhecia a procedência do leite, líquido gordo, tinha nata e até a vaca tinha nome e sobrenome) e armazená-la em um potinho que ia direto para a geladeira. Dia após dia, camada sobre camada e o creme amarelado já tinha destino certo... Assim como uma lagarta de aparência pouco agradável se transforma em uma deslumbrante borboleta, a indigesta gordura desaparecerá na receita e ressurgirá na forma de apetitosos anéis homogêneos, frágeis e alvos como pétalas de rosas brancas... Tão delicados que, ao contato salivar, derreterão inundando a boca de prazer. Esse gosto simples, suave, infantil é uma das minhas mais doces lembranças gustativas. Os sequilhos de nata da minha mãe, feitos com capricho, extremo cuidado, um esmero quase exagerado, eram mais uma das muitas manifestações de carinho materno. Este sentimento incondicional e explícito, recheia sempre o dar de comer que é por si só, uma linda declarAÇÃO de amor.
A minha não está mais por aqui. Agora eu é que sou mãe. Tenho alguns poucos traços daquela que foi a melhor mãe do mundo. Aliás, em uma de suas deliciosas crônicas, Martha Medeiros afirma que “somos as melhores mães do mundo... somos bilhões de “as melhores” espalhadas pelo planeta. Ao menos, as melhores para nossos filhos, que nunca tiveram outra. Não é uma sorte ser considerada a melhor, mesmo se atrapalhando tanto? Mãe erra, crianças... erramos um pouquinho, todo dia, por amor e por cansaço. O que nos torna as melhores mães do mundo é que nossos erros serão sempre acertos, desde que estejamos por perto.” A verdade é que as vezes, gostaríamos de parir os filhos de novo e aí sim, errar menos. Não temos direito a rascunho nem manual. Tarde demais. Sem contar que temos que lhes dar raízes e asas (alguém me disse isso). É ou não é de pirar qualquer uma aparentemente sã? E ainda falam mal de nós nos consultórios dos psiquiatras... Quer saber, é infinitamente mais fácil escrever. Tenho parido um artigo por semana, mas pelo menos posso fazer quantos rascunhos quiser! ( o pior é que depois de publicado, ainda acho que poderia fazer melhor...) Tão bom quanto escrever, é cozinhar... Será um prazer compartilhar com vocês, este pedaço da minha infância já distante... Junte um copo grande de nata, um ovo, uma xícara de chá de açúcar refinado, uma colher de sopa de fermento em pó, uma pitada de sal, 400gr. de amido de milho. Misture bem os cinco primeiros ingredientes e o amido aos poucos, até a massa desgrudar das mãos. Faça anéis ou bolinhas pequenas e coloque em assadeira sem untar, em forno médio pré-aquecido por 20 minutos, aproximadamente, sem deixar dourar muito. Um punhadinho de côco ralado ou raspas de limão podem dar um toque especial à massa. Bon appétit a todas as mães desse planeta! (dos outros também, sabe-se lá...)
“Mamãe, mamãe, mamãe... Avental todo sujo de ovo. Se eu pudesse, eu queria outra vez, mamãe, começar tudo, tudo de novo.”

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