quinta-feira, 25 de junho de 2009

"EU VOU PRA MARACANGALHA, EU VOU."

A origem do nome deste lugarejo no Estado da Bahia, imortalizado por Dorival Caymmi, ainda é desconhecida, mas os habitantes do local contam que, nos primórdios dos antigos engenhos, bandos de ciganos acampavam ali, em suas andanças pelo sertão e, ao prepararem os animais para as viagens, gritavam uns para os outros: “Amarra a cangalha!” Os escravos ouviram e passaram a repetir a frase de maneira deturpada, com o intuito de zombar dos ciganos. O uso se propagou e Maracangalha entrou para a geografia do Brasil.Porém, me refiro aqui a um outro lugar de mesmo nome. Uma casa colorida e cheia de charme na avenida litorânea da capital do Maranhão, a bela São Luis, rica em história, paisagens e sabores. Ah... os sabores e os aromas deste pedaço do Brasil são de fazer salivar e o estômago reclamar! Culinária recheada de nomes curiosos, de gosto e cheiro extraordinariamente marcantes, encantam quem por ali passa. Confesso que durante quatro dias, me nutri alegremente de tapioca, arroz de cuxá, baião de dois, carne de sol, pirão de macaxeira, camarões rosa, suco de taperebá, creme de bacuri... Um verdadeiro forró para as papilas! E prometo que falarei separadamente de algumas destas delícias em um outro momento.Voltemos à “nossa” Maracangalha, um porto seguro para os prazeres do palato, com um cardápio que exige alguns gordos minutos de reflexão, antes da decisão final. Elegemos o Papelote de pescada ao molho de camarão acompanhado de Arroz de limão, enquanto degustávamos Pasteizinhos de carne com geléia de pimenta, trazidos assim que nos sentamos à mesa, uma gostosura! Minutos depois, diante de nós, os pratos devidamente apresentados com charme e simplicidade, fumegantes e fartos, aguçavam nosso apetite. Minha curiosidade estava totalmente voltada para o arroz de limão e, já na primeira garfada, pressenti que não sairia dali sem detalhes sobre aquela delícia de tom amarelo-esverdeado, de textura cremosa e de sabor vagando entre o ácido e o picante... Dito e feito! No dia seguinte, lá estava eu, na cozinha da casa, a convite do chef Gaspar (acho que eu mesma me convidei, mas isso não vem ao caso agora), trocando idéias e receitas, falando dos sabores do mundo no meio do vai-e-vem ritmado de uma equipe simpática e concentrada. Descobertas feitas, mistérios desfeitos, uma surpresa ainda estava por vir. O chef havia preparado, com antecedência, um molho com aproximadamente um quilo e meio de tomates bem maduros, sem pele e sem sementes, levemente salgado e suavemente picante (uma pimenta dedo-de-moça bem picadinha era o toque que fazia a diferença) e depois de bem apurado foi acrescentado a ele, uma xícara de camarões, a mesma medida de polvo, lula e lagosta para banhar um spaghetti cozido “al dente”. Simplesmente de-li-ci-oso! Perguntei ao chef o nome da saborosa criação e descobri que ela ainda não havia sido batizada. Instintivamente sugeri, Spaghetti El mar. Nada mais justo com os frutos do Atlântico e qualquer semelhança, não seria uma adorável coincidência? Bon appétit !

“Cozinhar é uma paixão, a relação mais íntima do homem com sua sobrevivência e o prazer de viver.” (Júlio César Figueiredo, cozinheiro, poeta e publicitário)

Nenhum comentário:

Postar um comentário