quinta-feira, 25 de junho de 2009

DOCE DELEITE...

O leite é uma bebida produzida por fêmeas mamíferas e esta capacidade é, aliás, uma das características que define a espécie.A função genuína deste precioso líquido é nutrir a cria até que ela seja capaz de digerir outros alimentos, garantindo assim, sua sobrevivência.A lactação é um fenômeno maravilhoso, um verdadeiro milagre, que aconteceu ao longo da evolução dos mamíferos placentários.Estima-se que o leite dos animais foi utilizado na alimentação humana desde que estes começaram a ser domesticados, quando o homem abandonou a caça para se dedicar ao cultivo da terra e pobres pastos foram transformados em nutrientes valiosos, através das vacas, das ovelhas, das cabras, das búfalas...Considerado um alimento completíssimo do ponto de vista nutricional o leite, esta fonte natural de vida, de reconforto e de prazer, reúne todos os componentes necessários para a alimentação humana: água, gordura, cálcio, proteínas, lactose (açúcar presente no leite e seus derivados) e componentes secundários constituídos por sais, enzimas e vitaminas.Outro dia, folheando uma revista, li: “A tolerância à lactose, que permitiu aos adultos digerir o leite, é uma mutação benéfica que surgiu, aleatoriamente, na espécie humana.”Fiquei imaginando toda a magia (e a dor) do processo evolutivo que nos permitiu tal façanha e quão grandiosa é a capacidade de adaptação do nosso organismo. De aleatório, nada vejo em nossa caminhada. Não creio no mero acaso. Acredito que a fome de viver, o instinto de sobrevivência nos empurra para a mudança e para a adaptação. Não seria, então, a vontade de resgatar o despertar para a vida, o prazer do primeiro alimento, a deliciosa lembrança do começo, a fome de aconchego que levaram os adultos à tolerância à lactose? O que buscamos em um copo de leite fresco, em um delicioso café com leite matinal ou em um revigorante chocolate quente nas noites de inverno? Temos vontade, pura e simplesmente, uma vontade que vem “do nada”, uma busca inconsciente (ou não) da memória gustativa do alimento-mor que supre nossas carências físicas e aquelas outras que só sentimos... Quem não se lembra do leitinho queimado (aquele feito com açúcar queimado, leite e canela), preparado por nossas mães e vovós dedicadas? Era bom pra curar tudo... Do resfriado à gripe, da insônia à dorzinha de garganta... Curava tristeza e até saudade! Era remédio e colo na mesma dose. Alimento para o corpo e para a alma... Um doce deleite!A propósito, a origem do doce de leite é incerta, mas sabe-se que está ligada à rápida expansão na produção de cana-de-açúcar na América latina. O açúcar extraído passa a ser usado como conservante de vários produtos orgânicos, inclusive o leite de vaca, dando origem a produtos similares ao nosso incomparável doce de leite atual.O artigo desta semana nasceu do puro desejo de lembrar o valor inestimável desta fonte Bianca de energia vital, que permeia a evolução humana. Aproveito para dar as boas-vindas a este mundo, à “cria da minha primeira cria”. Sei que vou entrar em breve, em estado de patetice... Bon appétit bébé!
“A gastronomia governa a vida inteira do homem; pois os choros do recém-nascido reclamam o seio de sua ama-de-leite, e o moribundo recebe ainda com prazer a poção suprema que, infelizmente, não pode mais digerir.” (Brillat-Savarin)

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