quinta-feira, 25 de junho de 2009

DO PÓ VIESTE, PÃO COMERÁS E AO PÓ RETORNARÁS.

Por motivos óbvios (e não estou pensando em crise econômica alguma), vou dedicar as duas primeiras colunas de dezembro a produtos simples, porém milenares, que caminham lado a lado com a evolução humana. Símbolo universal do alimento, o Pão é o resultado do cozimento de uma massa feita com a farinha de alguns cereais, principalmente, o trigo, água e sal. Tais farinhas eram usadas em sopas e mingaus e, mais tarde, outros alimentos foram incorporados à massa, como o azeite doce, o mel, o mosto de uvas, as tâmaras esmagadas, os ovos. Estes “bolos” eram assados sobre pedras quentes ou sob cinzas; só no VII milênio a.C. surgiram os fornos de barro no Egito e, a este povo devemos também, o acréscimo do líquido fermentado à massa para torná-la mais macia e leve. Os judeus também faziam seus pães na mesma época, o pão ázimo, mais massudos e pesados, sem fermento, por acreditarem que a fermentação era uma forma de putrefação. Na Europa, o pão chegou através dos gregos e no século XVII a França se tornou o centro de fabricação de pães de luxo, com modernos processos de panificação. O Brasil só conheceu o pão (o que se consumia eram o beiju de tapioca, a farofa, o pirão escaldado) dois séculos mais tarde, com os imigrantes italianos, responsáveis pela expansão desta atividade em nosso país. O pão permeia a história do homem com a religião. Símbolo da vida, alimento do corpo e da alma, evoca a idéia de partilha, de generosidade, de sublimação e, em nossa rotina, nosso linguajar, nossas crenças ou crendices, nossas tradições, o pão é onipresente. Desde a pré-história até os dias de hoje, cada vez que comemos um pedaço de pão, fortalecemos os laços com nossos ancestrais e honramos os grãos de ouro, a santa água e o sal da vida. Que o pão esteja ligado ao sagrado, é fato para nós; mas além da espiritualidade, sua fabricação está associada à procriação. Enfornar a massa, seu cozimento e retirá-la do forno evocam a copulação, a gravidez e o parto. Basta pesquisar um pouco a origem das palavras para entendermos melhor. A palavra zéra que vem do hebreu tem triplo sentido (semente vegetal, esperma, descendência humana) e foi traduzida para o grego por sperma, para o latim por semen, para o francês por semence e em português temos semente ou grão; e você sabia que Placenta era o nome de uma confeitaria muito apreciada na Roma Antiga? Tudo isto é, no mínimo, curioso... Procriação, gestação, o pão representa as forças da vida e um delicioso erotismo envolve sua fabricação, o que explicaria seu poder de sedução sobre nossos sentidos: ele é cheiroso (impossível resistir a um pãozinho recém tirado do forno!), enche os olhos, tem textura agradável, é muito gostoso e até o barulhinho de sua crosta crocante, quando rompida, dá prazer... Ele é tão perfeito que mesmo depois de “perdido, velho, seco” nos surpreende. Desfrute desta doce receita centenária de origem francesa, tantas vezes servida por avós e mães dedicadas. Bata na batedeira 500ml de leite com 500ml de creme de leite fresco, acrescente 250gr de açúcar, uma pitada de baunilha e 4 ovos. Encharque nesta mistura, pão amanhecido cortado em 10 fatias grossas e depois de amolecidas, doure-as dos dois lados em uma frigideira com manteiga. Esta é a receita do “Pain perdu” (pão perdido) ou Rabanadas. Sirva-as assim ou salpique açúcar de confeiteiro e canela em pó, cubra-as com geléia e frutas se preferir, use as fatias como base para sobremesas mais requintadas. Solte sua imaginação e... Bon appétit!

“Uma casca de pão comida em paz, vale mais que um banquete na angústia.”( Esopo, filósofo e escritor grego)

Nenhum comentário:

Postar um comentário