
Nas inúmeras versões desta história de origem portuguesa o homem, algumas vezes, é mencionado como malandro, outras como ingênuo, frade ou mendigo. No fundo, isso não tem a menor importância. O elemento que realmente conta, são as pedras, que saem da história como entraram, assim como o nosso personagem. Eles não tiveram qualquer participação no produto final, mas seu papel no processo de preparar a sopa foi fundamental. Enfim, o que ressalta do caso é que a simples (co)operação pode realizar milagres e aquecer a solidariedade congelada em cada pessoa. Não existem fronteiras para os sabores. Os gostos são fraternos. Alimentos de diferentes culturas se misturam e permeiam nossa história recheada de prazeres singulares. Produtos de origens diversas podem compor um inusitado prato harmônico, se este for o nosso mais profundo desejo. Não seria a gastronomia um delicioso (re)curso para aproximar os povos separados por barreiras imaginárias? Você, muito provavelmente, estava esperando de mim uma deliciosa receita de “peru de pernas pro ar”, regado à champagnes e frisantes. Désolée... Posso até ter tirado o dourado de sua festa, mas a essência do espírito natalino está mesmo é no fundo do caldeirão desta saborosa (re)feição fraterna. Faça sua sopa, com suas pedras, sirva-a com espessas fatias de pão ungidas com manteiguinha de azeite de oliva e aplaque a inquietação que a virada do ano impõe à alma humana desde os primórdios. Que cada manhã de 2009 seja um Réveillon em sua vida! Bon appétit!
“A gastronomia é um dos principais vínculos da sociedade; é ela que amplia gradualmente aquele espírito de convivência que reúne a cada dia as diversas condições, funde-as num único todo, anima a conversação e suaviza os ângulos da desigualdade convencional.” (Brillat-Savarin)
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